Desde 2004 o imperialismo tem despejado uma torrente de dólares e euros na educação brasileira de nível superior. O objetivo não é ampliar nem atualizar conteúdos, especializar professores, equipar laboratórios e hospitais-escola. Pretende-se, na verdade, aprofundar o processo de transformação da educação em mercadoria para obter lucro máximo, seja com a venda de cigarros na cantina, o ensino à distância para tropas no Haiti, ou a coleta dos recursos do Pro Uni, criado para não universalizar o ensino público gratuito.
Informações do chefe da Secretaria de Assuntos Econômicos do BNDES (Banco de Desenvolvimento Econômico e Social), Ernani Torres, dão conta de que, em 18 de outubro do ano passado, 3.875 prepostos do capital financeiro internacional completaram uma injeção de 412,5 milhões de dólares para assumir 80% do SEB (Sistema Educacional Brasileiro S. A.). Com US$ 478.773.750,00, cerca de 12 mil estrangeiros assumiram 70% do controle da Kroton, criadora da rede Pitágoras e, com US$ 446.940.000,00 ficaram com 64% da Estácio de Sá, num negócio para o qual cada aluno foi "avaliado" em R$ 10.800.
Em 12 de março do ano passado, 14.651 investidores estrangeiros desembolsaram 512,5 milhões de dólares, para abocanhar 76% do capital da Anhanguera Educacional, complexo de ensino que possui 51 unidades distribuídas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, congregando 140 mil alunos, rendendo cada um 18,8 mil dólares.
E óbvio que esses "investidores" querem é aplicar aqui os seus dólares e euros para levá-los de volta o mais rapidamente possível, e remunerados com uma das mais elevadas taxas de juros do mundo. Sonham ainda em ganhar também com o Pro-Uni e o Fies, programas de bolsas financiadas que permitem lotar cada vez mais as salas de aula das faculdades particulares.
Para "ganhar musculatura", Antonio Carbonari Neto, da Anhanguera Educacional, fez duas ofertas públicas de ações na Bolsa, tendo captado R$ 860 milhões, que aplicou principalmente em 17 aquisições. No momento em que acalentava sonho de comprar mais 25 faculdades, foi adquirido pelo Apollo Global, (joint-venture de US$ 1 bilhão formada em 2007 pela Apollo Inc, com 80,1% e o Group Carlyle com 19,9%).
Situação semelhante à reinante hoje no Brasil, foi vivida no USA na década de 70, quando estudos demográficos de John Sperling indicaram que a massa estudantil já não abrangia jovens com emprego em tempo integral: metade dos universitários era de trabalhadores de tempo integral e idade mais avançada. Esse dado levou-o à conclusão de que o emprego duradouro estava com os dias contados, e logo a força de trabalho careceria de treinamento e aperfeiçoamento de longo prazo, para ocupações de pequena permanência. Em consequência, Sperling implantou uma rede gigantesca de unidades específicas de ensino, tudo desembocando na criação do Apollo Group e da Universidade de Phoenix, ao lado da Phoenix On-Line (voltada para o ensino à distância que começa a ser introduzido no Brasil). Hoje o maior grupo internacional de educação do mundo é o Apollo Group, de Phoenix, Arizona (EUA). Eles têm aproximadamente 380 mil alunos. O segundo grupo internacional de graduação é o Laureate Education, dono da Anhembi Morumbi, de São Paulo.
Já a Anhanguera Educacional tende a permanecer voltada para o trabalhador jovem que estuda à noite, ou seja, 85% da atual massa universitária. Reconhecendo que grande parte de seu corpo discente chega com falhas do ensino básico, a direção assegura que em todos os seus cursos há um projeto de nivelamento. Já na década de 90, o complexo Anhanguera promoveu a montagem de currículos e o treinamento de professores para este tipo de clientela. Na realidade, vê-se que a velho ditado que chamava as faculdades privadas de caça-níqueis está cada vez mais comprovado, uma vez que pouco importa a qualidade do ensino básico, desde que as mensalidades sejam pagas.
No Rio de Janeiro, a Estácio de Sá partiu para a coleta de dinheiro em bolsa, mas acabou nas mãos da GP, uma administradora de recursos de especuladores interessados em empresas de alta tecnologia. Atualmente, este grupo administra uma dinheirama superior a US$ 1,3 bilhão e, nos seus negócios, cobra 2% de taxa, além de 20% da rentabilidade obtida. Na sua clientela destacam-se o Submarino, um dos maiores shoppings virtuais do país.
Em junho deste ano, João Carlos Di Gênio, proprietário de meia centena de escolas Objetivo e do complexo educacional Unip recebeu do grupo Apollo uma proposta de compra de R$ 2,5 bilhões (1,53 bilhão de dólares) apenas pelas unidades de ensino superior. A oferta, que corresponde a 8 mil dólares por aluno, era respaldada pelo Morgan Stanley Investment Bank, que acaba de ser levado de roldão pela crise financeira eclodida no USA em 15 de setembro.
A mais recente pesquisa de qualidade de ensino levada a efeito pelo Ministério da Educação, divulgada em 8 de setembro, adotou como base o IGC (Índice Geral de Cursos da Instituição) e foi altamente desfavorável à Unip/SP, que fixou-se em 157 contra 439 da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), no topo de uma escala que vai de 0 a 500.
O índice sintetiza, para cada instituição, a qualidade de todos os seus cursos de graduação, mestrado e doutorado, distribuídos em campi e municípios onde a instituição atua. Foram avaliadas 173 universidades, 131 centros universitários e 1.144 faculdades isoladas e integradas. Do total, 35,5% das instituições públicas tiveram percentual de IGC 4 e 5. Entre as instituições privadas, a proporção foi de 4,9%.
Outro negócio que vai passando à administração alienígena é a Kroton, criada na década de 1980. Em 1997, a Kroton iniciou a comercialização da sua tecnologia educacional e de gestão de Educação Básica para as escolas associadas, por meio de um conjunto de produtos e serviços indissociáveis.
Porém, em 2001, após a modificação do marco regulatório do terceiro grau, a Apollo International tornou-se acionista da Kroton, aportando capital e experiência internacional em gestão educacional para o seu projeto de Ensino Superior. A Kroton fundou a primeira faculdade Pitágoras na cidade de Belo Horizonte, oferecendo cursos de graduação em Administração. No final do ano de 2001, a Companhia possuía 332 alunos no Ensino Superior, ao passo que já contava com uma base ampla no Ensino Básico, que somava 98.257 alunos.
Em 2005, por questões internas, a Apollo International decidiu remanejar suas operações fora do USA, expandindo-se, aqui, como Kroton ou, mais especificamente, Pitágoras.