Iraque — Paz somente com retirada

Iraque — Paz somente com retirada

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Pode o povo iraquiano sustentar uma guerra prolongada contra o USA? Os serviços de contra-informação do imperialismo, que nada discutem, afirmam que não, apesar de sua presença no Iraque ser agora insustentável.
O USA — dono das terras e dos grandes negócios, chefe dos exércitos opressores, juiz de todos os tribunais e juízo das “opiniões” mundiais, carcereiro maior do mundo — segue acossado por sensíveis derrotas num país de 18 milhões de habitantes, distribuídos nos seus 438 mil km2 e que oferece uma resistência surpreendente.
Qual a origem das armas de melhor calibre utilizadas pela resistência iraquiana? Quem a sustenta, se nenhum país estrangeiro se atreve a lhe fornecer créditos? Sobretudo, de onde provêm as idéias da resistência?

A economia iraquiana, ainda quando do bloqueio dos fascistas ianques, antes da ofensiva de 2003, exibia números invejáveis em toneladas de produção e distribuição. De sua agricultura, silvicultura, pecuária, pesca, extração mineral, nada mais se sabe, exceto que é vítima da mais cruel rapina. Mas o povo segue produzindo e comercializando. E parte dessa produção sustenta a resistência, nacional, patriótica, contra os bandidos imperialistas e seus comparsas internos. Portanto, não é verdade que os iraquianos não podem viver sem a exportação, especialmente do seu petróleo.

Também não é verdade que as formulações políticas e o movimento de massas iraquianos não expressem nenhuma força considerável, exceto pela vontade exclusiva de muçulmanos, sem quaisquer indícios de resistência laica.

O imperialismo continuará provocando distúrbios e terror infinito (enquanto saqueia o território), fazendo crer que a principal força iraquiana é representada pela seita do xiita Moqtada al Sadr, ou qualquer outra, até que essa se desgaste inteiramente — como se para as bandas de Bagdá toda guerra fosse santa. O imperialismo seguirá sustentando que os iraquianos até restituíram a liberdade interrompida durante o governo do presidente Saddam— demonstra a “reabilitação de seu futebol…” e, principalmente, que tampouco há classes sociais com interesses claramente definidos no Iraque, apenas muçulmanos.

O imperialismo também não pretende convencer a ninguém se deve ou não permanecer no Iraque, mas pensa acostumar os povos a assistirem imperturbáveis aos massacres, às campanhas de extermínio, e que é possível ocultar o caráter da resistência dos oprimidos. Quando no Iraque o imperialismo anunciou ter acabado a guerra, ela começou de fato. Sempre que a resistência do povo desfere um ataque de maiores proporções, a entente (evitando reconhecer a guerra) anuncia o “recrusdecimento da violência no Iraque” (?!). Mas todos os dias a resistência avança e causa baixas crescentes às forças opressoras. O povo iraquiano só é controlado no noticiário, e o USA sabe que não vai ganhar nenhuma guerra, mas que é necessário mantê-la pelo tempo que puder assegurar a rapina. Mesmo porque, ele já não dispõe exatamente de um exército nacional, mas de hordas de assassinos e ladrões a serviço do capital financeiro, embora conserve uma sofisticada organização militar. Por isso, não tem moral para reconhecer direitos de prisioneiros civis ou militares.

Ah, gringo, no que deu a sua guerra de trovoadas, se apenas ao povo compete lançar relâmpagos de fogo?

O bom preço da guerra

Com efeito, as milícias de Najaf recebem pela manhã um ultimatum para a rendição imediata e, à tarde, os centuriões da entente respondem ao seu próprio “último e irrevogável aviso para a rendição”, cessando fogo ou retirando-se sem nada conseguir, além de suas pesadas baixas. É fundamental para o desmoralizado exército da entente sustentar que a resistência aceitou acordos. Estabelecer o mais insignificante cessar-fogo com uma das forças isoladamente é, para o USA, algo significativo, mas para os povos isso nada representa senão que uma farsa. Caso forje acordo em alguma região, imediatamente ele será desautorizado pela povo com ações vigorosas em outras partes do Iraque. Que ação secreta, atentado terrorista ou campanha de intriga pode o imperialismo promover sem vê-los prontamente desmascarados? Pensam os potentados que o povo não dispõe dos instrumentos necessários nem de capacidade intelectual bastante para abstrair as relações econômicas e políticas que determinam a guerra em seu país.

O imperialismo, em particular naquelas condições estratégicas, não pode deixar de exercer a rapina, provocando distúrbios, massacres e atentados terroristas para desorientar o povo. Ao mesmo tempo, sob a tutela ianque, essa política rebaixa tropas de outros países ali à desmoralizada condição de forças mercenárias, além de criar outros contingentes secretos especiais que, com ou sem enxoval militar, robocós, espias, agentes provocadores, ou jagunços excepcionalmente adestrados, tendem a ter poucos dias de vida na terra iraquiana. Em janeiro de 2003, quando o império rufafa seus tambores de guerra (ver AND no6), no Iraque armas eram distribuídas entre o povo que assegurava: “Os soldados ianques serão repatriados em sacos plásticos”.

Não há como convencer o “contribuinte” (apelido que o governo ianque aplica aos seus cidadãos) que a manutenção das guerras tem se tornado mais barata, exceto para os poderosos grupos financeiros. As guerras de agressão —sugerindo ser “auto sustentável a rapina” porque contam com os entreguistas nativos e exércitos estrangeiros agregados à entente —, de fato são muito lucrativas. Se lucrativas, portanto, convenientes apenas para as grandes corporações, as que não conhecem prejuízos, uma vez que são devidamente ressarcidos pelo Estado hegemônico. Ou seja, nunca mais barato sai um grande conflito para os cofres do próprio império, mesmo quando se transferem de forma insular as obrigações de guerra para os “sócios” (forçosamente) alinhados, tanto mais quando são colônias e semicolônias. Gastos militares para o ano fiscal 2004/5, no USA, registram uma previsão orçamentária de 500 bilhões de dólares; 1,36 bilhão por dia, anunciam.

A guerra de baixa intesidade — GBI (que se concentra na política do terror entre a população e no extermínio dos chefes e quadros intermediários da resistência) — assim justificada pelo imperialismo, aparentemente requer baixos investimentos. Mas a associação à política de invasão e pilhagem, e a incontrolável necessidade de alimentar-se da exploração dos povos, como de promover novas aplicações, tudo desmente… Se, ao primeiro momento, os centuriões afirmam serem baixos os custos de sustentação das agressões, por outro lado é imprescindível e crescente a exportação de capitais, ao lado da acentuada queda relativa de lucros. E o que fazer, dominando toda a sociedade, seus governos e terras no mundo inteiro, se cada povo na face da terra se torna inimigo mortal do império?

Causar distúrbios e perder

De fato, a ofensiva contra-revolucionária nas colônias já não conhece mais as facilidades do final da década de 70, porque já não é possível administrá-las senão com o emprego do saque impiedoso e do terror, o que estimula as guerras de resistência. Se o imperialismo não pode retroceder, enquanto estiver vivo não haverá paz, portanto.

Os resultados revelam que, para os 150 magnatas que dominam o mundo, vidas humanas não contam, e os soldados do seu próprio exército devem funcionar à maneira do capital variável: pronto para ser usado até a exaustão e, depois, queimado.

Imagens de fileiras de urnas funerárias recebendo “honras do Estado”, cobertas com a chita ianque — cuja decomposição dos cadáveres não permite prolongar velórios e honras por muito tempo — denunciam que a contabilidade das perdas, levada ao conhecimento público por cada “jornal nacional” dublado para diferentes países, padece de insuficiência crônica. O número de agentes e soldados abatidos em uma única semana é bem maior do que aquele informado, inclusive no próprio USA.

O imperialismo precisa promover lutas fratricidas entre o povo, estimular questões religiosas e invocar receitas raciais, instigar as classes nativas mais reacionárias contra os movimentos populares, desencadear o pânico e a discórdia, mas também dentro de seu próprio país, porque a guerra tende a perdurar e a se alastrar. A agressão começa a pesar para o público consumidor de opiniões. O peso da guerra começa a se fazer sentir no USA, política e economicamente. O terror ianque invocou a existência de armas de destruição em massa no exército nacional iraquiano. A própria entente, há décadas já constituída, mandou que a ONU procedesse uma investigação (espionagem) no arsenal daquele país. Nada encontrando, a prova do crime, se pensava, poderia ser apagada com o assassinato na Inglaterra de testemunhas do grande blefe. E também assim foi feito.

A entente imperialista, em particular o USA — por mais de dez anos impôs ao Iraque o massacrante cerco econômico, realizou espionagens, sabotagens, disparou diariamente contra o seu território, proibiu aquele país de importar medicamentos, provocou epidemias, a fome, o pânico entre a população. Por fim, impediu o exército de portar armas de maior alcance — e se certificou de que não haveria resistência. Encheu-se de covardia e finalmente invadiu o território iraquiano com um imenso sofisticadíssimo aparato bélico.

O imperialismo ocupou, pilhou e destruiu museus em favor dos colecionadores particulares (os “bárbaros”, ao invadirem Roma antiga, não se utilizaram de expedientes dessa natureza), apoderou-se de poços de petróleo, dos principais meios de produção daquele país, dos centros culturais e educacionais, dos meios de transporte. Na economia e na superestrutura, a entente de tudo se apoderou. Gente muito sensível com os iraquianos a rigor se esquece de que o imperialismo se apropriou principalmente do trabalho e da força de trabalho dos iraquianos. Não fosse assim, os que mantêm a direção da agressão no Iraque seriam, ainda que dirigentes, meros ladrões, genocidas, contratadores escra-vocratas, gerentes do tráfico varejista. Mas é a mortífera dinâmica das operações realizadas pela oligarquia financeira mundial que tem fome. Logo, os magnatas ianques confessaram seu projeto para transformar o Iraque num protetorado.

O papel da falsa esquerda

Jornalista francês

— Senhor Bem M’hidi, não acha cruel transportar, nos cestos de mulheres, explosivos que matam tantos inocentes?
Bem M’hidi, líder da Frente de Libertação Nacional da Argélia:
E não seria cruel bombardear vilarejos indefesos causando um número mil vezes maior de vítimas inocentes ? Claro que os aviões nos seriam mais cômodos. Dê-me seus bombardeiros e podem ficar com as cestinhas.
Jornalista francês, servindo de intérprete para um ianque:
— O senhor Willian (ianque) perguntou se, segundo o senhor, a FLN tem possibilidade de derrotar o exército francês.
Bem M’hidi:
É mais provável a FLN derrotar o exército francês do que esse exército parar a história.

(A batalha de Argel, filme de Gillo Pontecorvo, Itália/Argélia, preto & branco, 1965. Em vídeo, 120 min.)

É incorreto dizer que os fins justificam os meios. Os fins explicam, apenas. Esse diálogo também não busca justificar, por exemplo, as cenas em que o principal movimento anticolonial, a Frente de Libertação Nacional, faz voar pelo ares um dancing e bares repletos de franceses. O ódio entre nacionalidades era um componente a mais na colonização francesa da Argélia, registrado por Pontecorvo: a parte nova da capital, Argel, cenário dessas explosões, era habitada não por franceses, mas pela lumpen-burguesia francesa, que instigava seus filhos a trucidarem os argelinos em plena rua.

Claro, o terrorismo é repudiado pelo povos. Portanto, não há que pedir desculpas pelo 11 de setembro, como faz a falsa esquerda, sempre que finge defender a resistência iraquiana. Acontece que o terrorismo, sob a habilidosa combinação de calúnias, é tema obrigatório e cada vez mais abundante no formidável aparato de guerra ideológica, tanto quanto os seus especialistas, as verbas, os mais luxuosos impressos, as edições especiais, os encartes, além de toda sorte de material televisivo, invariavelmente se fazendo acompanhar pela versão “alternativos”.

E é precisamente a falsa esquerda que serve de aval ao imperialismo, a partir da sua submissa moral da neutralidade — aquela que permite acusar de estar promovendo o terrorismo, tanto o imperialismo quanto os povos que lutam pela libertação nacional. Até aí, pouco importa. Dizendo-se neutra e imbuída da nobre missão de redimir o povo, a esquerda impostora posa como sendo o lado “racional” da humanidade, depurado, atualizado, imparcial, terceira via… Aliás, esquerda única, segundo os desejos do imperialismo. Mas, e isso importa, como quem está preparando algum terreno, qualquer resistência à repressão é caracterizada como “apelo à violência”.

O enunciado é descaradamente o mesmo: a resistência dos países ocupados encontra-se “em mãos dos terroristas”, quase toda concentrada no Médio e Próximo Oriente, sem esquecer (de ajudar) o Plano Colômbia e o “Peru redemocratizado”. Aconselham lembrar que o terrorismo preenche a vaga deixada pelo “socialismo derrotado”.

Ao final, o fundamentalismo islâmico aparece como dirigente da resistência mundial, cuja direção, obrigatoriamente, deve estar vinculada à obscura organização de Bin Laden ou outras do gênero. Mais hipóteses consagradas como verdadeiras são os revoltosos, em geral, fanáticos e não afetos ao diálogo, o que permite encerrar a questão no melhor estilo do fundamentalismo cristão da alta hierarquia das modalidades protestante e católica: “Tanto o agressor quanto os povos estão errados, porque ambos cometem a violência”.

Conjurar a agressão facista

Decretada a agressão contra as liberdades civis, o imperialismo busca cristalizar, ele próprio na voz de seus ideólogos e empregados elegantes da comunicação (são até mais zelosos nas colônias do que os da metrópole), essa força auxiliar da repressão, o conceito subjetivista de violência. Não pretende exatamente justificar, mas sistematizar seus sermões inquisitoriais. E para dar um sentido superior ao discurso condenatório, aos porta-vozes autorizados é permitido até mesmo veicular impulsos de descrédito que afetam, de forma controlada, os chefes da repressão mundial, em particular os que são regiamente pagos para desempenhar o papel de palhaços, bobos da corte — como as repugnantes figuras de Bush, Blair etc, seguidos por outras de menor talento e nenhuma autonomia nas colônias. É o reconhecimento dos “excessos” diante das indiscutíveis evidências, o que, embora tipifique como imputável o agente, não macula o Estado opressor e torna imperturbável a repressão.

A ONU, que há décadas aprova acordos contra “ações terroristas”, não estabeleceu até hoje o conceito de terrorismo. Bisonho, mas onde reside a dificuldade? Justamente no fato de que o Estado ianque, o que detém todos os poderes de decisão da ONU, é a maior organização de bandidos e terroristas do mundo.

Os especialistas em terrorismo, tanto os residentes na falsa esquerda quanto na direita autêntica, incorporam o fascismo e apresentam o terrorismo como manifestação inerente a qualquer Estado, período histórico, povo e principalmente à qualquer classe oprimida que dispute, ou venha assegurando, o poder.

Os “neutros” se satisfazem em definir o terrorismo como o ato de coagir, quebrar vontades e causar influências “empregando a força física” — ou seja, impõem formulações que se limitam ao conceito jurídico, formal e unilateral, já que, a rigor, é preponderante que todas essas ações tenham se voltado contra o poder constituído pró-imperialista. Mas este nunca será autor de ações terroristas, exceto quando sob os auspícios de um Estado não alinhado aos interesses do imperialismo. Severas críticas se limitam aos “sistemas passados”, reconhecendo o terrorismo de Estado, mas pela vontade exclusiva das personalidades marcantes do nazifascismo. Nesse ponto, as críticas coincindem com outras; surpreendentes revelações sobre o terror implantado pelos Estados revolucionários, pelo exato tempo em que o povo trabalhador exerceu sua democracia (URSS, China etc.), o que confere aos críticos uma lobotomizada imparcialidade, para os incautos, tolerável.

Em resumo, a crítica dos apologistas da neutralidade é a crítica do imperialismo feita pelo próprio imperialismo.

O terrorismo é uma palavra chave, o melhor subterfúgio fascista. Atualmente, é o tema preferido para estigmatizar os que lutam pela liberdade, a desesperada tentativa de igualar a gente de bem aos dirigentes das potências imperialistas.

E, então, basta haver uso de explosivos, emboscadas, combates ligeiros etc. contra o imperialismo e seus asseclas, para ser caracterizado o terrorismo; óbvio, sempre cometido pela resistência, também considerada desleal, porque embora não disponha de nenhuma “arma de destruição em massa, mas parecia ter”, se recusa terminantemente a permanecer sob a mira das armas humanitárias do invasor, além de atacar de forma inesperada. Pode-se acrescentar, o terrorismo financiado pelo “eixo do mal”.

Da mesma inutilidade se serve a definição que simula defender o povo, quando o terrorismo passa a ser um ato violento que “atinge a não combatentes”. Afinal, caracterizar como terrorismo uma ação, pelo fato exclusivo de ter como objeto a “população desarmada” é endossar um argumento próprio dos filisteus, porque, antes de tudo, não há maior crime que o de voltar-se contra o povo soberano, a única e grande força motriz na história universal.

Pactos, convênios e resoluções tipificam de terrorismo “delitos cometidos” contra a segurança das pessoas internacionalmente protegidas, o que inclui mandatários e suas famílias. O exército ianque supliciou até a morte, em Mosul, personalidades como Uday e Qusay, os filhos do presidente Saddam Hussein — que jamais estiveram ligados às provocações de 11 de setembro, confessam os chefões da entente — e orgulhosamente apresentou os corpos já mutilados como prova de grande feito. Pela cabeça de cada um deles o USA pagou (a quem?) 15 milhões de dólares! Não são “pessoas internacionalmente protegidas” os mandatários e parentes mais próximos que se opõem às intenções de tornar seu país um protetorado ianque.

Sob a direção do USA (que, longe de ser uma ameaça, é o verdugo da humanidade), o terrível bloqueio econômico e político ao Iraque (endossado pela ONU), de mais de uma década evoluiu para a invasão. A entente bombardeou impiedosamente a população iraquiana, realizou experiências com armas de última geração, executou homens indefesos, não poupou a vida de mulheres, crianças e anciãos. Torturou e trucidou civis e soldados. Lançou bombas contra mesquitas, assassinando centenas de fiéis. Sucedem-se casos de tortura e assassinatos nas prisões do Iraque, do Afeganistão, em Guantánamo e nos cárceres secretos do USA, denunciados constantemente. Tudo fotografado e documentado. Os governos títeres do USA nas Filipinas, na Turquia, promovem em suas prisões especiais as mais terríveis torturas, mutilações, assassinatos. Prisioneiros políticos desaparecem das celas daqueles países, também no Egito, na Arábia Saudita, na Argélia, em Israel, Kuwait, Paquistão e Afeganistão, no Nepal, no Peru. Nenhuma medida que vise conter a carnificina em qualquer um dos continentes é sequer sugerida pela ONU, e todos os grandes veículos de comunicação concentrados nas mãos do imperialismo seguem deplorando a resistência ativa dos povos, à qual chamam de terrorismo.

Criar e generalizar acidentes, mortes ou mesmo a intranquilidade e o temor entre o povo, jamais corresponderam ao comportamento da esquerda (partidos, organizações, pensamento e pessoas — progressistas, democratas, socialistas, comunistas — que propugnam a independência nacional e a emancipação das classes oprimidas), mas ao da reação. Quanto às bombas, arremessadas contra o invasor ou a gente do povo, elas têm destino e procedência. É justamente o tipo de alvo atingido que torna inútil qualquer tentativa de esconder a ideologia de quem as operou e lançou.

Os bravos combatentes do povo nos países ocupados pelo III Reich na Europa (partigiani, na Itália; maquis, na França etc.) recebiam o epíteto de terroristas porque os nazistas evitavam revelar o verdadeiro caráter dos que enfrentavam a agressão estrangeira: guerrilheiros, homens do povo em armas, que mobilizavam a população fazendo guerra ao invasor e ao mesmo tempo construindo um exército realmente comprometido com a defesa da pátria. Só a hipócrita neutralidade pode ver os combatentes do povo como possíveis responsáveis por atentados contra o próprio povo.

Terrorismo: prática fascista

A contra-revolução no poder é o atual estilo de luta de classes da burguesia financeira mundial para sufocar as revoluções em marcha, o desenrolar das guerras de libertação nacional ou qualquer movimento revolucionário já vitorioso. A política adotada é o fascismo, do qual o terrorismo é uma das expressões delinquenciais, obrigatoriamente presente até mesmo no habitat do capital financeiro, já que, uma vez opressor dos povos, é necessário ser opressor de seu próprio povo — comprova a prática de empurrar para dentro das celas qualquer pobre, estrangeiro ou não, sobre o qual a polícia tenha lançado a mínima suspeita.

O terrorismo é o elemento imprescindível da ditadura do capital financeiro e essa ditadura é engendrada pela sua política, ou seja o fascismo, provedor de crimes contra a humanidae elevados à política de Estado. Claro que reduzir o conceito do fascismo ao terror e à violência significa ocultar sua expressão verdadeira, assim como a do Estado das classes exploradoras, caduco e podre. É o mesmo que considerar o fascismo como querem os oportunistas, apenas na sua forma clássica e passada, ou “inteiramente superada”, admissível somente quando há um fuhrer —sempre que ele se avizinha. É ocultar que os países que se aliam às potências imperialistas se submetem ao diktat fascista. É, sobretudo, ocultar o fascismo.

As classes exploradoras, ao preverem o desmoronamento de seu sistema e a sua própria degeneração, jamais pensaram duas vezes em promover o terror branco, procedendo a eliminação seletiva de dirigentes e de chefes intermediários dos setores populares. Como as massas é que fazem a revolução — enquanto os quadros as dirigem, e é infindável a capacidade de recomposição das forças populares —, as frações mais à direita das classes dominantes apelam, num segundo momento, para o terror sangrento contra milhares de pessoas do povo.

Episódios dessa natureza são fartamente encontrados, com suas peculiaridades, na fase decadente de cada modo de produção a partir da história Moderna (1789 Revolução Francesa). Por sinal, as classes dominantes consideram o delito político apenas quando a vítima partilha do poder dos exploradores ou é um seu apadrinhado. O magnicídio, tão abominado pelos humanistas burgueses, sequer se faz merecedor desse conceito quando se configura o assassinato de um proletário cuja classe tenha chegado ao poder.

Mas, da mesma forma que o exercício do pânico não salva nem transforma o sistema, a atmosfera de terror ainda não é suficiente para caracterizar o Estado que o promove como fascista. Vejamos a Comuna de Paris1, que 72 dias após o levante, seguiu-se uma das mais bárbaras campanhas de terror da história na Europa, que se arrastou por meses. Muito antes de estabelecida a pérfida aliança entre a burguesia francesa e alemã — que resultou na perseguição e morticínio dos comunardos, e outros atingidos pela mais leve suspeita — a burguesia tinha concluido que seu inimigo principal já não era outro senão que o proletariado internacional. Mas aquele morticínio não tem as características do terror implantado na fase imperialista do capitalismo. A encíclica Rerum Novarum, elaborada 20 anos depois da Comuna, homenageando sua derrota, constrói várias bases teóricas que se concretizariam sob a única condição de se aplicar o terror. Da mesma forma, ela não era ainda uma doutrina acabada e, sobretudo, aplicada do fascismo, embora lançasse parte de suas bases. Contra o socialismo, Bismark, oito anos após a queda da Comuna de Paris, criava em “lei escrita a perseguição aos socialistas”2; na Rússia tzarista era crime a iconoclastia, a associação secreta, a coalizão trabalhista, a miscigenação racial, a adesão a partidos políticos não autorizados.

Outras doutrinas anteriores à etapa superior e última do capitalismo, por mais cruéis que fôssem e por mais que se assemelhem às atuais, não são originalmente a doutrina e o exercício do fascismo, ou seja, a doutrina e a prática da ditadura terrorista.

Mais tarde, no Código Penal da Espanha fascista, a legislação antiproletária introduz no âmbito do delito político o do “terrorismo político”, acompanhado dos delitos “terrorismo agrário”, o terrorismo anarquista, o terrorismo comunista, além do “delito terrorista propriamente dito”3. O “delito socialista” jamais foi revogado durante a vigência do III Reich, não o permitindo o Estado que era comandado justamente por um partido que, em 1919, se chamava Partido dos Trabalhadores Alemães e, no ano seguinte, com novo batismo, Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP, sigla em alemão). Portanto, o terrorismo sistematizado pelo fascismo não surge como um adorno cronológico.

O Estado explorador sempre foi a própria violência institucionalizada, com a diferença de que ela passou, na primeira metade do século XX, a ser utilizada pelos governos imperialistas, tanto nas potências como nas colônias e semicolônias, para a forma do terror sistematizado e com características próprias, um instrumento imprescindível da contra-revolução no poder. Na década de 20 do século passado, o capitalismo monopolista experimenta um processo de degeneração irreversível e o sistema imperialista mundial se vê enredado em novas e profundas crises de ordem econômica, política e ideológica. O imperialismo já não é somente opressor do proletariado, mas de todas as nações. Ele consome cada vez mais gastos militares provocando grandes disputas territoriais e por matéria prima no mundo inteiro. Sua crescente condição belicosa e parasitária lhe impõe realizar partilhas que nunca o satisfaz, e se entrega à rapina incontrolável, aguçando ainda mais as contradições. O temperamento irascível do Estado na etapa imperialista, se resume ao dos Três Tudo da consigna do exército japonês, já durante a Segunda Guerra: “roubar tudo, queimar tudo, matar a todos”.

O Estado reacionário, esse órgão de repressão permanente, torna-se um aprimorado instrumento da contra-revolução, corporativo, associado a blocos militares de dominação mundial, voltado contra as mínimas garantias trabalhistas e democráticas, fomenta a reação entre as diversas camadas da população, em particular entre os setores desclassificados, reduzindo suas atividades a duas funções básicas: cobrar impostos e reprimir o povo. A fase da negação do sistema democrático burguês de velho tipo, a negação de todas as liberdades burguesas da mesma ordem, acontece como falência da democracia burguesa e tem reflexo direto na crise do parlamentarismo, principalmente, condição primordial para a implantação da ditadura terrorista aberta.

Nessas condições, o Estado é mais avassalador que o antigo Estado “democrático” burguês e, em nossos dias, o aparato repressor é bem mais sofisticado que o fascismo clássico, mais arrasador que a velha força de choque da reação mundial, quando ascendeu e sucumbiu ao final da Segunda Grande Guerra. É ele quem comanda agora a “repressão infinita” contra os povos do mundo e está longe das pretensões imperialistas interromper a guerra contra os povos. A diferença é que ele redobra o peso das agressões em cada etapa.

Insanos e verdugos

Tampouco é relevante que Clinton seja mais pervertido que Kennedy e o falcão Bush (co-nhecido pelos seus contemporâneos como chicken-hawk — falcão-galinha — , por ter se recusado a servir no Vietnã, no período da agressão ianque àquele país) mais degenerado que Truman. Esses homens não são melhores ou piores entre si nem têm o poder de frear ou acelerar a marcha da história, mas servem às classes exploradoras e reacionárias (com uma “fidelidade canina”), treinados que foram para ranger os dentes, morder ou ser alvos de chacota da sua própria imprensa.

Já se anuncia que a fração mais poderosa da burguesia financeira ianque pretende massacrar o Irã, logo após as eleições no USA. Por acaso a vitória (ou derrota) de Bush (já seu adversário nas eleições foi agraciado com uma medalha de “bravura” por ter se destacado numa guerra de agressão ao povo do Vietnã) será determinante para retardar ou acelerar essa guerra imperialista? Em absoluto. Insistir nessas especulações é render culto ao voluntarismo, à doutrina da predestinação, ao fatalismo, para quem a vontade da personalidade eminente determina o curso da história — o que, em nossa época, outra vez, leva a um ponto de vista favoravelmente fascista.

O terrorismo que avassala os povos, a partir da década de 20 do século passado, não é outro senão que o da ditadura fascista, aquele que surge no bojo da contra-revolução mundial, empregado de forma sistemática contra o povo — isso porque o imperialismo não pode desfazer-se do Estado militarista. Ele utiliza de muito bom grado os métodos terroristas, mesmo durante um aparente abrandamento da administração militar nas colônias e semicolônias, razão porque o caminho do fascismo é a destruição da humanidade. Portanto, o caminho dos povos, por outro lado, é o de deter a marcha do fascismo no mundo.

Os meios dirigentes imperialistas não podem se furtar do aumento incessante do poderio militar visando empregá-lo nas suas guerras de conquistas, criar blocos militares e, passo seguinte, mudar sua composição, exigir novas partilhas, jamais se descuidando de tentar sufocar as lutas de independência e até as mais simples lutas econômicas dos trabalhadores.

Para fortalecer a propaganda de guerra, os círculos imperialistas apelam para as campanhas que falam sobre uma hipotética ameaça interna. Sustentá-la significa manter, por todos os meios, os histéricos ataques ao mal — um ente a quem atribuem supremacia militar, cujo combate exige medidas de exceção que se multiplicam infinitamente porque, sendo paranóia, se justificam pelas próprias acusações. É o desespero geral diante do desmoronamento do sistema colonial e do ascenso das lutas de libertação nacional, em cujo socorro correm os ideólogos do imperialismo e os sacerdotes do oportunismo atribuindo ao povo agredido a condição física inferior ou psíquica, a inaptidão para a vida econômico-social e a incapacidade de desfrutar de uma cultura independente.

No entanto, cabe recordar, o genocídio, a tortura física, as operações de sabotagem etc., não bastam para que o terrorismo atinja o seu ponto culminante. Junta-se à ação prática da contra-revolução a base teórica do oportunismo, do revisionismo e do clericalismo irmanados. O imperialismo rouba, mata e, em seguida, acusa a própria vítima. Para atrair as amplas massas às suas fileiras, ele recorre aos sentimentos religiosos do povo, à chantagem, à mentira mais sórdida, à calúnia e à demagogia, e faz ressuscitar os mecanismos mais perversos de todas as épocas. O terror psicológico é uma arma da qual o imperialismo não se desfaz nunca, tal como o cassetete — bem ao contrário das ponderações pacifistas dos oportunistas de direita ao afirmarem que vai longe o tempo das canhoeiras e do Big Stick 4.

Buscando remendar os defeitos da sua propaganda, o imperialismo divulga vídeos com execuções bárbaras, criminalizando as organizações da resistência, cuja responsabilidade pela autoria desses assassinatos é desmascarada muitas vezes pela sua própria imprensa. O próprio ayatolá Ali Khamenei acusou agentes ianques e sionistas de promoverem essas execuções filmadas no Iraque. Mas há grandes e pequenos espetáculos que se revezam, para todos os gostos e por quantas vezes se fizerem necessário, multiplicando à vontade o número de vítimas nos noticiários, inclusive porque a intoxicação faz desprezar investigações sobre episódios imediatamente anteriores, a começar pelo fato de que a versão dos autores dos atentados não é conhecida, como também ninguém lhes pergunta coisa alguma, não há processo etc. As únicas provas levadas a público são centenas e centenas de cadávares, onde até os números são desencontrados. Nas prisões de Guantânamo, Iraque etc., os ianques não oferecem proteção legal para os prisioneiros, portanto, sem acesso a advogados e tribunais.

Putin, por exemplo, que se vivesse sob o III Reich seria um dos mimos da SS, é um dos maiores articuladores do terrorismo mundial, desde 1999, quando fortaleceu o regime policial militar russo. Formado pela escola da KGB, já quando em mãos kruchovistas e trotskystas no trabalho de restauração do capitalismo na Rússia, Putin é o grande aliado do terrorismo mundial, particularmente do USA, e reputado como um dos mais talentosos repressores de nossos dias. A matança de setembro fez a glória dos jornais imperialistas, estampando manchetes que anunciavam mais de 300 cadáveres — quase 170 eram de crianças — resgatados numa escola de Beslan, Rússia. O exército russo, na interpretação que consegue conferir a ele a menor dose de responsabilidade sobre o caso, revela que a sua invasão ao estabelecimento, e a troca de disparos, ocasionou uma explosão que derrubou o teto da escola matando, então, centenas de pessoas. A veracidade de que os sequestradores eram árabes vem sendo questionada, enquanto que 30 pessoas próximas a Aslan Marjadov, que havia se prontificado a negociar com os sequestradores, foram detidas por encapuzados, um pouco antes da tragédia.

A história do massacre com suicidas da Chechênia (vide petróleo e separação da Rússia) foi de tal forma superada pela brutalidade de Putin que nem a imprensa ianque suporta a sua versão. No Parlamento, em Moscou, em 1994, foram massacrados inúmeros deputados por ordem do governo russo. Há nove anos, de um hospital com 2 mil reféns, pelo menos 100 cadáveres foram contados após outra operação do exército russo. Em 96, o exército fez 78 vítimas no episódio de um barco com 3 mil reféns. Outubro de 2002, Palácio da Cultura, em Moscou, Putin ordena ataque. Sucumbiram 490 reféns, vítimas de gases letais lançados pelo exército que, coincidentemente, sempre intervém para agravar a crise. Mas, o que essas feras não são capazes de fazer?!

Guerras justas e injustas

O antagonismo entre a revolução e a contra-revolução é uma lei objetiva da luta de classes quando esta atinge o seu ponto culminante. Se necessário, a contra-revolução assume a forma de obscuras “guerrilhas”, de guerra civil infinita para lançar a confusão entre as massas, conclamando a juventude ao aventureirismo, às táticas que desprezam as verdadeiras lutas de massas, propondo negociações, funcionando como um sinalizador para a repressão. A guerra é a “continuação da política por outros meios” (Carl von Clausewitz, 1780–1831), mas, aprenderam os povos, sob a condição de considerar o caráter de classe dessa continuação. No caso da guerra de agressão, ela é a política das potências e dos interesses de suas classes dominantes. O princípio é de que não se pode isolar a guerra do governo cujas classes traçam sua política. A época histórica de guerras de agressão é a do imperialismo, época das corporações financeiras gigantes que a todos submetem, para quem até a mais desapiedada exploração é algo perfeitamente lícito.

A origem das guerras contemporâneas é o imperialismo. A guerra imperialista, portanto, tem um conteúdo histórico, um caráter de classe determinado e mantém a finalidade de enriquecer os exploradores saqueando, partilhando o roubo segundo as forças que correspondem cada exército opressor, subjugando os demais povos e, novamente, procedendo outras partilhas. A guerra contra o Iraque corresponde à estratégia da Nova Ordem fascista; é parte de uma guerra geral “de forças gigantescas” incorporadas no USA que não reconhece prisioneiros, fronteiras, nações, história, paz.

O bloco fascista realmente desfruta de uma situação ímp ar. Não se depara com uma única república popular, hoje, para lhe opôr resistência, e comanda a ofensiva da contra-revolução mundial. Ele se prevalece de todas as vantagens que lhe trouxe o aniquilamento de milhares e milhares dos mais autênticos quadros no planeta, dirigentes e intermediários, com a chegada do revisionismo ao poder (Tito na Iugoslávia, o grupo de Kruschov em 1956, na URSS, a camarilha de Teng Siao-ping na China, em 1976 etc.) — o que desorientou por um largo espaço de tempo as lutas do proletariado internacional,incluindo o instrumento da frente única. A contra-revolução reinou por várias décadas no seu “mundo livre” das revoluções consequentes e estabeleceu a maior censura de todos os tempos nos meios de comunicação.

Ao povo iraquiano, pelo seu lado, resta responder à guerra injusta com a guerra possível de seus primeiros dias: a resistência ativa, prolongada, contra a agressão externa; um movimento de libertação nacional dirigido contra a escravidão imperialista.

A rede ramificada de bases do imperialismo, notadamente da sua força hegemônica, o USA, costuma transferir suas hordas para um país apenas quando se depara com a resistência popular vivendo a condição superior de luta ou em vias de alcançá-la. Antes disso, ministra o medicamento que pareça mais eficaz para a realização de seus planos macabros de dominação mundial, como a desestabilização de governos, bloqueios comerciais, golpes de Estado com participação das forças títeres nativas, criação de diversas “guerrilhas de negociação” para desgastar as forças populares etc.

No Iraque, o USA teve que intervir para quebrar a unidade dos povos árabes, principalmente, tentar escravizar um imenso contingente de força de trabalho porque, sem isso, de nada adiantava apoderar dos poços de petróleo. A guerra relâmpago do USA (blitzkrieg, concepção estratégica aplicada ao tempo do III Reich, de destruição total da resistência e coordenada sob determinadas formas de ataque aéreo e infantaria), procurou antecipar-se rapidamente aos preparativos da resistência estratégica por parte do povo iraquiano. O imperialismo acreditava que iria encontrar, de relevância, apenas contradições e opositores ao regime, tal como um sem número de traidores e covardes que realmente existiam. Mas o povo no Iraque, independente de contradições com a administração Saddam e as de nacionalidades no próprio território iraquiano, não acolheu os projetos de nenhuma quinta coluna.

A defesa da pátria era essencial

Por essas razões, nem todo o Iraque está sob controle das forças de ocupação, revelam esse contexto as próprias notícias fornecidas a contra gosto pela imprensa imperialista. A agressão imperialista criou o ambiente onde se desenvolve um nível de maturidade do povo para com suas tarefas de reconstrução nacional sob novas formas democráticas. Além disso, a resistência vem aprofundando o conceito de que não são os iraquianos os promotores da inimizade nacional. A resistência iraquiana vem dissipando mitos e ilusões e é parte da luta da humanidade para soterrar de vez o imperialismo.

Se não é uma guerra popular, na acepção da palavra, tem sido militante e heróica a resistência dos patriotas iraquianos, onde se encontra o caráter social e de classe à altura de um movimento de independência, o apoio do povo inteiro e dos povos de todo o mundo. Além do mais, entre as classes do campo da resistência, como entre os povos vizinhos, o proletariado tem a sua história, uma grande história.

A luta do povo iraquiano não é financiada desde o exterior. O exército iraquiano não se dissolveu no ar, tampouco o grosso dos oficiais desertou ou se entregou ao inimigo, mas se intregou às forças populares para fazer um tipo novo de guerra, o que provoca uma profunda transformação na estrutura militar. A resistência utiliza habilmente as armas de que dispõe e o próprio imperialismo não esconde haver constância de golpes desferidos que o atinge impiedosamente. A resistência encontra alguma situação estável, uma economia própria, dispondo de víveres, base de operações, escolas etc. Novamente é quebrado o mito da invencibilidade das forças fascistas.

As notícias revelam que não existe apenas uma, mas diferentes formas de luta e diversidade de métodos conscientes de organização no Iraque, que vão surgindo no decorrer dos embates. Entre as diversas iniciativas do povo para fazer fracassar os planos de ocupação, aparecem frentes de lutas clandestinas com programas políticos, a exemplo do movimento Al-Kifah, além dos contingentes guerrilheiros para a atual etapa da guerra, cuja tendência é a de organizar um exército verdadeiramente popular e todo um sistema de poder, à medida que vão generalizando a luta nacional. A resistência iraquiana é um fato concreto — não existiria sem o entusiasmo das massas — e despreza camuflagens ideológicas.

Da mesma forma, destacamentos maiores e menores, dependendo das condições políticas, militares e geográficas em cada área onde atua a resistência, vão delineando as formas de organização popular. A continuidade dos embates revela que esses grupos menores de combatentes atuam reduzindo as infiltrações dos provocadores e, pelo seu lado, detêm informações preciosas sobre os passos do inimigo cuja tendência é a de encontrar maiores dificuldades, tão logo a resistência possa contar com um centralismo orgânico e, sobretudo, ideológico e revolucionário. As nações ocupadas têm a obrigação de escorraçar o agressor para fora de seu território. Não é a paz que está em questão, mas a rendição do invasor e a sua imediata retirada do Iraque.


1 Que marca o início da Primeira Grande Onda da Revolução Proletária (1871 – 1976).
2 /3Willard, Marcel. O incêndio no Reichstag; revolucionários perante os tribunais. Editora Laemmert, Guanabara, 1968.
4 Grande Porrete, correspondente à Segunda Estraté
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