Os algozes dos palestinos vêm se mexendo no cenário do Oriente Médio. São encontros, conversas e tramas que sinalizam para a imposição em breve de um novo "acordo de paz". E a reconhecida combatividade deste povo obriga os poderosos a prepararem com esmero um complemento óbvio para a truculência e a covardia diplomática: as boas e velhas milícias armadas até os dentes, cuja missão é massacrar um povo que, sabe-se bem, não se renderá à "paz" que interessa ao USA e a Israel.
Ação conjunta de soldados palestinos
e israelenses em Nablus, Cisjordânia
Diante da iminência de novos arranjos entre as forças que pretendem manter os povos do Oriente Médio sob o jugo do imperialismo e do neocolonialismo, os ianques e os sionistas de Israel vêm contando com a cumplicidade da Autoridade Palestina para levarem adiante este novo projeto assassino. Trata-se da implementação de uma força de segurança palestina despolitizada, diretamente subordinada a Washington e à Tel Aviv, e treinada para fazer dobradinha com os helicópteros de Israel na repressão em massa que vem sendo preparada para conter o combativo povo palestino no caso de mais um "acordo de paz" que lhe tentem enfiar goela abaixo.
Para os palestinos, não há no horizonte qualquer possibilidade de paz verdadeira — paz com dignidade e liberdade — que seja elaborada, conduzida e levada a cabo pela quadrilha formada pelos criminosos de sempre.
Os conluios, no entanto, se intensificam: As sucessivas visitas à Israel da secretária de Estado ianque, Condolezza Rice; os encontros para "negociações" entre o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, que agora vêm ocorrendo com periodicidade bissemanal; a atitude demagógica do ex-presidente do USA e prêmio Nobel da Paz Jimmy Carter, que faz jogo de cena ao simular junto com seus comparsas alguma indisposição com os poderosos ao insistir em "negociar" com o Hamas; as sucessivas reuniões entre a ministra de Relações Exteriores de Israel e o chefe de negociações da Autoridade Palestina.
Tudo isto indica que novas imposições estão realmente a caminho, ainda mais quando se leva em conta a promessa de Bush de articular a paz entre Israel e os palestinos até o fim de seu mandato — o que no fim das contas soa mesmo é como ameaça.
Enquanto vão se acertando os entendimentos entre todos estes cúmplices, a política de boicote e matança posta em prática por Israel na Faixa de Gaza e em outros territórios mantém os palestinos amarrados a uma realidade dramática. O ex-embaixador palestino na Argentina Suhail Hani Daher Akel tem por hábito fazer um resumo mensal das agressões ao povo palestino que vive sob a opressão brutal patrocinada pelos ianques e desencadeada pelos israelenses. No último mês de março, por exemplo, os dados levantados por Suhail Hani Daher Akel davam conta do que realmente acontecia enquanto tanto se falava de paz.
Em março, o exército de Israel praticou 4 execuções sumárias de civis palestinos, no melhor estilo Tropa de Elite, invadindo a cidade de Belém e indo buscar seus alvos dentro de casa. Ao todo, foram 119 palestinos mortos, entre os quais 15 crianças e muitos membros da resistência, e 443 feridos. Naquele mês, Israel prendeu ou sequestrou nada menos do que 557 palestinos, entre os quais 14 estudantes e 64 menores de idade. Foram demolidas 16 casas, sendo outras 29 usurpadas. Impôs-se 32 humilhantes toques de recolher, e o exército invasor realizou impressionantes 934 incursões e ataques destinados a reprimir ainda mais aqueles que já vivem sob artilharia pesada de mísseis, rajadas e balas de canhão.
Contraditoriamente, um novo "acordo de paz" que se venha a impor aos palestinos fará toda esta repressão assassina se intensificar numa escalada ainda mais sangrenta, pois este povo já deu provas suficientes de que jamais irá se curvar aos arranjos que há anos servem apenas para boicotar suas reivindicações e suas lutas por soberania e liberdade sobre a terra que lhes foi roubada pela potência regional.
Para dar conta do que enfrentarão, USA, Israel e Autoridade Palestina vêm trabalhando na construção de uma força de segurança que, por ser financiada pelos ianques, dizem assemelhar-se aos Contras patrocinados pela CIA para derrubar o governo Sandinista da Nicarágua. Mas o que se está formando parece mais,na verdade, uma espécie de Bope palestino. E as semelhanças não estão só na truculência e no treinamento para matar.
Estes milicianos estão sendo treinados na Jordânia e em outros países vizinhos a Israel e aos territórios palestinos, e estão sendo preparados para substituir gradualmente os integrantes das atuais forças de segurança palestinas. A Autoridade Palestina, seguindo orientação israelenses e ianques, está se valendo das desculpas de sempre — dificuldades financeiras e necessidade de "reestruturação" — para colocar no olho da rua milhares de soldados palestinos com arraigado sentimento patriótico e percepções políticas moldadas nos anos de maiores embates da resistência.
Segundo relatos que chegam da Palestina, veiculados pelo Centro Palestino de Informação, os militares que substituirão aqueles que convenientemente estão indo embora estão sendo cuidadosamente escolhidos pelo Serviço de Segurança Geral de Israel, o Shin Bet.
Dois dos mais decisivos critérios para a escolha dos recrutas são a baixa escolaridade e nenhum comprometimento com as aspirações do povo palestino. É a potência nuclear regional instrumentalizando a miséria e a ignorância para formar um exército que não recebe soldos, mas sim pagamentos por serviços mercenários. Cada um destes novos soldados ganhará entre mil e mil e quinhentos dólares por mês quando estiverem prontos para massacrar seus próprios irmãos. É mais do que o salário médio de um professor palestino com título de doutorado.
Assim vai se formando este esquadrão da morte sob comando da dobradinha USA/Israel, cuja missão será enfrentar multidões, dissolver manifestações, manejar armas pesadas contra os palestinos e transportar membros da resistência que sejam presos ou sequestrados para as masmorras e salas de tortura.
Por aqui, na mesma semana, o filme Tropa de Elite foi mais uma vez premiado em noite de gala e gravatas borboleta, enquanto o Bope real mais uma vez mandava corpos ao chão na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. Por lá, enquanto o povo palestino é encurralado, perseguido e exterminado pela máquina de guerra israelense, os ianques e os sionistas tramam o golpe final e treinam assassinos profissionais enquanto repetem seu blábláblá diplomático numa ladainha sem fim.
Guardadas as distâncias, proporções, magnitudes e especificidades, no fim das contas os grupos de extermínio oficiais servem para uma coisa só: respaldar com chumbo grosso a truculência e a opressão praticadas com belas palavras e com a boca cheia de "paz".