Itália, laboratório fascista de políticas anti-imigração

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Itália, laboratório fascista de políticas anti-imigração

Na Itália, com a entrada em vigor da lei anti-imigração, milhares de estrangeiros que foram dormir em situação migratória irregular perante o Estado italiano acordaram como criminosos comuns.

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Os cinco libaneses sobreviventes da travessia foram levados para o
Centro de Identificação e Controle para "primeiros socorros"

É nesta condição que, desde o dia 8 de agosto, encontram-se os 650 mil imigrantes que vivem na Itália sem os documentos necessários para a permanência no país. As primeiras prisões aconteceram já naquela data, primeiro dia de vigência da mais nova lei fascista promovida por Berlusconi e pelo seu ministro do Interior, Roberto Maroni, que é membro do partido Liga Norte, agremiação de ultra-direita que tem na perseguição aos estrangeiros pobres a base do seu projeto político.

Qualquer imigrante que for pego sem a papelada completa exigida pelas autoridades de imigração da Itália está sujeito a ser multado em até 10 mil euros e a ficar até seis meses trancafiado em um dos centros de identificação e expulsão. Os funcionários da administração pública ficam obrigados a denunciar os casos de "indocumentados" de que tomem conhecimento. Quem der abrigo ou alugar imóvel a imigrantes clandestinos pode pegar três anos de xadrez. Poderia ser ainda pior: na última hora foi subtraído ao projeto apresentado por Berlusconi o artigo que determinava às mulheres imigrantes em situação irregular que entregassem seus filhos recém-nascidos à custódia do Estado. A nova lei também "regulamenta" as famigeradas "patrulhas voluntárias de cidadãos", grupos paramilitares fascistas apadrinhados pela direita empoleirada no poder que perseguem imigrantes pelas ruas das cidades italianas.

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Para disfarçar o fato de que tais patrulhas constituem uma reedição dos camisas negras de Mussolini – patrulha paramilitar do fascismo transalpino formada na década de 1920 –, estipulou-se que seus integrantes não podem andar uniformizados, à exceção do uso de coletes fluorescentes, não podem usar armas ou cães, e cada grupo só pode contar com no máximo cinco pessoas, que devem ter mais de 25 anos e ficha limpa com a justiça. São estas as regras que balizam a legalização da violência xenófoba na Itália dos dias atuais.

Ministro se vangloria da caça xenófoba

Transformados em criminosos comuns por uma canetada da direita fascista, os imigrantes correm um sério risco de cair num círculo vicioso de problemas com a justiça. Foi o que aconteceu com sete imigrantes da Argélia e da Tunísia que no dia 20 de agosto fugiram do Centro de Identificação e Expulsão (CEI) de Gradisca d’Isonzo, no norte da Itália. Agora, além do crime de imigração ilegal inventado por Berlusconi e seus asseclas, pesa também sobre os africanos a pecha de fugitivos. Dez dias antes, os quase 200 detentos do CEI de Gradisca d’Isonzo haviam realizado uma grande manifestação contra a aprovação da lei de segurança.

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Patrulheiros ostentavam uniforme fascista

No mesmo dia em que os sete imigrantes africanos escaparam do seu cárcere no norte rico da Itália, soube-se que outros 75 morreram de fome e sede no sul pobre, após ficarem mais de 20 dias à deriva nas águas do mar Mediterrâneo entre a Europa e a Líbia, onde encheram um bote e tentaram rumar para a Europa em uma tentativa desesperada de escapar da miséria em sua terra natal, que por sinal foi colonizada e devastada pela Itália fascista na primeira metade do século passado. Eles tentavam chegar à ilha italiana de Lampedusa. Autoridades italianas esbanjaram hipocrisia e cinismo ao atribuir a tragédia a um "erro de navegação", sendo claro que as patrulhas marítimas da nova Itália fascista e outras embarcações que poderiam prestar ajuda abandonaram os líbios à morte no mar.

Em uma entrevista publicada no dia 7 de agosto em um jornal de Milão, o ministro Roberto Maroni havia dito o seguinte sobre a ilha de Lampedusa: "Posso me vangloriar de ter detido os fluxos de imigração ilegal desde a Líbia".

Entre os 75 mortos, houve cinco sobreviventes no bote líbio: três homens, uma mulher e uma criança. Ainda em estado de choque, eles foram imediata e impiedosamente encaminhados ao Centro de Identificação e Controle da ilha (onde estão amontoados cerca de 2 mil imigrantes) ainda que sob o pretexto de lhes prestar os primeiros socorros.

Amigo dos ‘ilegais’ também vira alvo

A Itália atual constitui verdadeiro laboratório de políticas xenófobas, o que não exclui os manejos da população imigrante segundo os interesses das suas classes abastadas. De olho nos números sobre imigração e trabalhos domésticos divulgados pelo Centro de Estudos Sociais italiano, e poucos dias depois da aprovação da lei anti-imigração, o governo fascista anunciou que haverá um processo especial de legalização de milhares de "ilegais" que provem ser "colaboradores domésticos" indispensáveis para lavar as privadas das famílias ricas que vivem nos grandes centros urbanos.

Esse tipo de trabalho recentemente foi citado pelo Banco Central italiano como uma das principais razões por meio das quais as mulheres italianas vêm aumentando sua presença no mercado de trabalho. Com imigrantes ocupando os sub-empregos que o Estado fascista lhes reserva, as mulheres italianas de classe média podem se desocupar dos serviços domésticos que a sociedade burguesa lhe atribui para se ocupar de ser explorada no mercado de trabalho capitalista.

As "inovações" em matéria de políticas de cerco aos imigrantes clandestinos, no entanto, não são exclusividade da Itália, ainda que lá a direita demonstre especial obsessão com a agenda xenófoba. No USA, no início de agosto, um tribunal do estado do Arizona condenou um jovem de 27 anos que deixava garrafas de água espalhadas pelo deserto que fica na fronteira entre o México e o território ianque, na tentativa de ajudar as pessoas que atravessam a fronteira ilegalmente a não morrerem de sede. Walt Stanton foi cinicamente acusado de "contaminação da Reserva Natural de Buenos Aires", ainda que seja de conhecimento público que o caso nada tem a ver com questões ambientais, e sim com a política migratória de Washington e com vontade das autoridades racistas do Arizona de deixar os latinos agonizarem até a morte sob o sol quente.

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