Jovem é assassinado pelo Bope no Rio: “Bala perdida acerta a pessoa duas vezes?”

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Jovem é assassinado pelo Bope no Rio: “Bala perdida acerta a pessoa duas vezes?”

No dia 29 de junho, foi enterrado no cemitério do Catumbi, Zona Norte do Rio, o corpo do jovem motoboy Rafael Camilo Néris, de 23 anos. Segundo testemunhas, Rafael foi executado com dois tiros por policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM que faziam uma operação no morro da Coroa, região central do Rio, dois dias antes. O corpo de Rafael chegou ao Instituto Médico Legal sem roupas, sapatos ou documentos. Segundo a perícia, Rafael foi alvejado por dois tiros, um a longa distância no pescoço e outro à queima-roupa no peito — disparo que teria ceifado a vida do jovem trabalhador.

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Manifestação de moradores no dia do velório de Rafael

Os disparos “à queima-roupa” recebem esse nome, pois deixam um resquício de pólvora que queima as bordas da perfuração causada pelo projétil. Por isso, policiais tiram as roupas das vítimas para destruir as provas de uma evidente execução sumária com um tiro à queima-roupa.

Testemunhas que preferem não se identificar por medo de represálias disseram à reportagem de AND que Rafael foi ferido com o primeiro tiro enquanto dirigia a sua moto. Em seguida, policiais se aproximaram. Rafael teria implorado por sua vida, mas, mesmo assim, PMs o executaram com um tiro no peito e o colocaram na viatura. O jovem era entregador de uma famosa pizzaria do Rio de Janeiro, a Santa Pizza, e pela manhã fazia entrega de livros e revistas. O assassinato a sangue frio causou revolta entre moradores, já que Rafael era muito querido no complexo de favelas de São Carlos.

Nossa comunidade está pedindo socorro, a gente não aguenta mais agonizar. Pode colocar na conta, pois o Rafael é só mais um na conta do Pezão. Eu quero ouvir o que ele tem para dizer, porque isso tem que parar — diz um morador do morro da Coroa.

Cerca de 300 pessoas compareceram ao seu enterro e fizeram um protesto em seguida. A manifestação atravessou o túnel Santa Bárbara até o Palácio Guanabara, sede do gerenciamento estadual. Amigos e parentes de Rafael foram recebidos por um assessor do gerente estadual Luiz Fernando Pezão, que nada fez além de anotar os telefones dos familiares. Em seguida, moradores voltaram para o complexo de São Carlos pelo mesmo caminho. No trajeto, policiais tentaram provocar manifestantes e foram respondidos com vaias.

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Jovem trabalhador assassinado

Eu conhecia o Rafael desde criança e o nosso dia a dia sempre foi trabalhar de cinco da manhã até as dez da noite. Havia dia em que o Rafael tinha só quatro horas para descançar. Ele tinha três empregos para conquistar uma condição de vida melhor e tiraram isso dele. E ainda queriam enterrar ele como bandido. Se ninguém faz barulho, se nós não tivéssemos vindo para a rua, ele seria enterrado como bandido — diz Diego Pardim, um dos melhores amigos de Rafael.

Nossa rotina na comunidade é uma rotina de medo. Se polícia subir, é medo. Morador tem medo de polícia. Porque eles só entram na favela para agredir, humilhar e esculachar trabalhador. Pra eles, todo mundo que mora na favela é bandido. O jornal O Globo disse que Rafael foi vítima de uma bala perdida. Aí eu te pergunto: bala perdida tira a roupa da pessoa? Bala perdida rouba os documentos da pessoa? Bala perdida acerta a pessoa duas vezes? Falar que o Rafael trocou tiros com o Bope, ou que foi atingido por bala perdida? A realidade é que só quem mora sabe o que acontece — diz o jovem Diego, enquanto amparava a viúva de Rafael, com quem havia se casado seis meses antes.

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