Ligia M. Nóbrega foi combatente no Araguaia
Jovens de Fortaleza, na sua maioria universitários, tendo à frente Alexandre de Albuquerque Mourão, Viviane Tavares, Gelirton Almeida, Daniel Moskito e Marcos Venícios, decidiram fazer justiça à história do Brasil, especificamente ao período do regime militar fascista. Pelo menos dois espaços públicos que recordavam os dias mais sangrentos do regime dos generais foram rebatizados. São eles, o Centro Social Urbano Presidente Médici e a Praça do Quartel do Vigésimo Terceiro Batalhão de Caçadores, o 23º BC, esse último quase no centro da capital,
— A turma de moças e rapazes equipados com tintas, escadas, cordas e placas, não pedem licença a ninguém. Chegam e adotam as providências necessárias para apagar da memória do povo as imagens ou “as mentiras” políticas que a ditadura impôs às massas — diz Alexandre Mourão, um dos integrantes.
Na Praça do famoso 23º BC, no bairro do Benfica — defronte à unidade do exército que, nos primeiros dias de abril de 64, concentrou os presos cearenses do golpe — eles batizaram o logradouro de “Praça do Preso Político Desaparecido”. Para Alexandre, “relembrar é viver”. Placas e faixas reivindicam “o direito à verdade”, explica ele, acrescentando que o foco atual do Grupo de Arte Ativista é a memória dos desaparecidos políticos no Brasil.
No Centro Social Urbano, inaugurado pela prefeitura ainda nos tempos do regime militar, os estudantes apagaram o nome do general Emílio Garrastazu Médici — que comandou o período mais sangrento do regime (1969-74) — e deram-lhe o nome do estudante paraense Edson Luiz de Lima Souto, assassinado por agentes de repressão em 28 de março de 1968, durante uma manifestação no restaurante Calabouço, no Centro do Rio de Janeiro.
Fruto do esforço desses jovens, estimulados pelo exemplo de Hélio Oiticica, Lygia Clark, Cildo Meireles, entre outros artistas populares dos anos 60, uma estação experimental de rádio já está no ar, também seguindo a linha revolucionária dos anos 50 e 60 na Europa e no Brasil. Recentemente, os estudantes fizeram uma transmissão em Recife durante a Semana Pernambucana de Artes Visuais. Na ocasião, um grande número de pessoas sintonizou a rádio FM 103,5, que tem o objetivo de intervir no espaço e levar informações que, segundo o grupo, não chegam aos ouvintes através das emissoras autorizadas pelo ministério das comunicações.
Uma informação intensamente divulgada pela rádio é a leitura dos 140 nomes de desaparecidos políticos durante o regime militar no Brasil. A programação também inclui temas da atualidade com referência ao regime e entrevistas com pessoas do povo e figuras emblemáticas envolvidas nessa luta.
Em Fortaleza, recentemente, a prefeitura deu o nome de ‘Praça do Futuro’ à maior praça da cidade, que antes se chamava Praça 31 de Março, em referência à data oficial do golpe de 64. Para 2012, o grupo de estudantes universitários promete outras intervenções do gênero no Nordeste, polemizando cada vez mais o debate sobre o regime militar e suas muitas verdades ainda ocultas.