Em maio do ano passado, AND publicou em sua edição n° 65 a notícia do assassinato do motoboy Eduardo Luís Pinheiro dos Santos, na época com 30 anos. O trabalhador foi torturado até a morte por mais de 12 policiais com chutes na cabeça, pauladas e até golpes de corrente. Socorrido em um hospital do bairro Casa Verde, zona Norte de São Paulo, o jovem não resistiu aos ferimentos e morreu. O atestado de óbito não continha o nome do motoboy, já que seus documentos também foram roubados pelo grupo de PMs.
Semanas depois, o Ministério Público pediu a prisão provisória dos 12 policiais e, no dia seguinte ao assassinato de Eduardo, outro motoboy que se identificou apenas como Edson procurou uma delegacia da região para denunciar um grupo de PMs do mesmo batalhão que o teriam agredido e prendido em uma abordagem arbitrária.
Ainda assim, no último dia 10 de janeiro, os policiais presos pelo assassinato de Eduardo foram soltos por decisão da justiça de que não houve intenção dos policiais do 9° BPM de matá-lo. O motoboy, segundo legistas, foi espancado até a morte, enquanto estava algemado, sem chances de se defender. Os principais agressores, agora livres, foram os PMs Wagner Aparecido Rosa, Alexandre Seidel, Raphael Souza, Nelson Rubens Soares e Antônio Sidnei Rapelli Júnior. Outros seis PMs estavam sendo acusados de omissão, por terem presenciado a sessão de tortura e nada terem feito, e dois por terem coagido testemunhas do assassinato, que mesmo com ofertas de proteção, preferiram não testemunhar.
Segundo a única testemunha do processo, “a vítima gritava de dor e implorava para não ser agredida pelos policiais, os quais, logo depois, voltavam à frente do prédio fazendo gracejos a respeito do ofendido”, como consta nos autos. Mesmo assim, o juiz decidiu que os policiais não tiveram a intenção de matar Eduardo.
No mesmo mês, especificamente no dia 8 de maio de 2010, outro motoboy, Alexandre Menezes dos Santos, na época com 25 anos, também foi assassinado por PMs, dessa vez, no bairro Cidade Ademar, zona Sul de São Paulo. Ele voltava da pizzaria onde trabalhava em sua moto, sem placa, quando foi abordado pelos policiais militares. Segundo o laudo cadavérico de Alexandre, o motoboy “foi a óbito por asfixia mecânica e possuía escoriações por todo o corpo”, o que, para o Ministério Público, comprova que ele foi espancado pelos PMs até a morte.
No dia 11 de janeiro, a justiça decidiu que os PMs Alex Sandro Soares Machado, Carlos Magno dos Santos Diniz, Márcio Barra da Rocha e Ricardo José Manso Monteiro irão a júri popular, acusados não apenas pelo assassinato de Alexandre, mas também por fraude processual, já que ao longo das investigações, tentaram de todas as maneiras eliminar as principais provas do crime e coagir as testemunhas.
— Eram jovens, motoboys e negros e, talvez por isso, como muitos ainda hoje, pagam pela condição social que a burguesia lhes impõe — disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas de São Paulo, Aldemir Martins.