As denúncias do Cebraspo, Universidade Federal de Rondônia, além de várias entidades democráticas e progressistas foram comprovadas na madrugada de 21 de março. Uma operação conjunta, que envolveu as polícias militar, civil e federal em Jacinópolis prendeu e torturou camponeses. A ação de guerra covarde contra os camponeses pobres e desarmados, dormindo em suas casas após exaustivo dia de trabalho, foi realizada às 4 horas da madrugada e contou com um efetivo de 85 policiais.
A agressão foi instigada pelo latifúndio, autorizada pelo juiz da comarca de Buritis, Danilo Augusto Kanthack Paccini, e comandada pelo delegado Claudionor Soares Muniz, de Buritis. A absurda justificativa (no melhor estilo Bush) foi a de que os camponeses estariam portando fuzis, granadas e armamentos pesados.
Os impiedosos meganhas espancaram os camponeses, sendo que nem as mulheres foram poupadas. Em Jacinópolis, o camponês Derci Francisco Sales (Ver carta na pág. 2), um dos moradores mais antigos, foi submetido a sessões de pancadaria e afogamento durante horas para dizer quem eram as lideranças da LCP na região. Os policiais, que não levaram mandado de prisão, invadiram até mesmo a casa do administrador do distrito e o algemaram. Demoliram com uma bomba a porta da casa do camponês Sebastião. Ambos são moradores da área desde o início da colonização, em 2000.
Ao final da operação três camponeses foram presos: Derci, Sebastião e Alcélio. Após ação impetrada pelo advogado, dois foram soltos, enquanto Derci Francisco Sales foi encarcerado na Delegacia de Buritis, necessitando de cuidados médicos e libertado apenas no dia 30 de março. A polícia não enviou os presos a Porto Velho, buscando evitar o exame de corpo de delito que comprovaria a prática de tortura contra os camponeses. As armas encontradas foram apenas espingardas velhas, imprescindíveis para a sobrevivência de qualquer família camponesa.
Sebastião, Derci e Alcélio fazem parte de uma família de nove irmãos que na década de 70 vieram com seus pais do Espírito Santo para Rondônia, acreditando nas promessas do governo de que conseguiriam terra fácil. Tiveram que trabalhar por muitos anos nas terras dos outros, colhendo café, roçando pasto, passando privações visando comprar um sítio. Trabalharam na região de Jaru e Buritis.
Há mais de 10 anos, a família desistiu de esperar pela “reforma agrária”. Foi para Jacinópolis. Ali, com outras famílias enfrentaram todo tipo de dificuldade para conquistar suas terras. Bateram-se contra a malária, sofreram com as perseguições e assassinatos a mando dos bandidos latifundiários. Seu sobrinho Ozéias Martins foi morto em 2003 a mando do fazendeiro Carlos Schumann. Mas nunca desistiram.
A ação foi denunciada na sede do INCRA, em Porto Velho, no dia 23 de março. Nessa reunião, o Ouvidor Agrário Nacional, Dr. Gercino José da Silva, não compareceu, enviando representante. Na mesma data, os camponeses denunciaram a ação de despejo do acampamento Jacinópolis II, que até o fechamento desta edição estava prevista para acontecer. Os camponeses apresentaram as denúncias de tortura ocorrida nos dias anteriores e até notificaram ao INCRA o que o acampamento Jacinópolis II estava produzindo com a revolução agrária, destacando-se as 1.200 sacas de milho; as 700 sacas de arroz; os 12.845 pés de mandica (próximo à colheita) e uma extensa variedade de legumes, verduras e frutas.
Ignorância e bestialidade
Os camponeses denunciaram à AND que o latifúndio, após expulsá-los do acampamento Jacinópolis II, será administrado pelo advogado João Lucena Leal, de Porto Velho, ex-delegado de polícia e advogado de Darly Alves da Silva, um dos assassinos de Chico Mendes.
Segundo os camponeses, Lucena “administrará” a fazenda com 15 pistoleiros para impedir a reocupação da área, até a venda. O ex-delegado receberia 30% do valor apurado.
Na madrugada de 23 de março, o camponês conhecido como “Camarão” foi assassinado quando saia do acampamento José e Nélio, localizado na linha 3, a 9 quilômetros de Jacinópolis. “Camarão” saiu às 5:40 hs com destino a Buritis e foi vítima de emboscada feita por bandos armados do latifúndio. Seu corpo foi encontrado por moradores, algumas horas depois, na estrada, crivado de balas. Reproduzimos na integra mensagem da Liga dos Camponeses Pobres:
A morte de mais um camponês na região de Jacinópolis não pode ficar impune. Latifundiários estão usando bandos armados para matar companheiros com a proteção da polícia militar e civil. O maior agente de pistolagem de Rondônia, conhecido como Donizete é quem está comandando estes grupos. Os latifundiários Geraldo Coleto e Nelson Botelho são os mandantes e responsáveis diretos por mais este crime bárbaro.
A Ouvidoria Agrária Nacional e Incra também são responsáveis, pois há muito foram avisados da gravidade dos conflitos agrários na região e nada fizeram para resolver a situação das 3 mil famílias que lutam pela regularização das terras. Esperamos que os culpados sejam punidos!
A reação do velho Estado contra os camponeses continua. O latifúndio se arma, organiza milícias ou ordena que a própria repressão estatal massacre os camponeses que lutam pela terra. Em Jacinópolis os camponeses resistem contra todas as investidas das quadrilhas de semifeudais e instalam o poder popular. Garantem o direito à terra aos camponeses pobres, desenvolvem as forças produtivas e, a cada dia, o avanço da revolução agrária enquanto única alternativa para livrá-los do fardo da miséria e opressão em que vivem submetidos.
Vítima da violência policialMurilo Soares *12/07/1992 Desaparecido junto a Paulo Sérgio Pereira, 21 anos, no dia 24 de abril de 2005, após abordagem do Grupo de Patrulhamento Tático de Goiânia Quando a dor vira resistência! Comitê de Goiania pelo fim da violência policial Contato : ( 62) 4009-0339 / 2764-3167 |