Aluno e parceiro do saudoso violeiro Gedeão da viola, o mineiro João Pedro, radicado em Barretos, SP, aprendeu o jeito diferente de tocar Gideão, uma espécie de estilo próprio que desenvolveu e passou só para quem o procurou para aprender. Com quatro discos gravados, prêmios e viagens por todo o país, João Pedro atualmente faz dupla com Solito e permanece na luta em favor da música caipira autêntica.
— Nasci em Uberaba, MG, no ano de 1944, e fui criado na fazenda Queijada, no Chatão Mineiro. Meu pai trabalhava de meeiro, e eu ainda menino ficava vendo o pessoal lá da roça tocar. E um peão foi me ensinando algumas coisas. Aos 18 anos mudamos para Frutal, uma cidade ali mesmo na região. Acabei me envolvendo ainda mais com a viola por conta das folias de reis, a catira, que acontecem na localidade — conta João Pedro.
— Em 1965 vim para Barretos e só pensava em viola, mas a vida era dura e precisava trabalhar pesado em outras atividades para sobreviver. Mas fui levando a vida como dava e tocando a minha viola. Trabalhei em um armazém, virei caminhoneiro e depois peguei um trabalho de guiar máquina, trator, em obras. Mas não gostava de nada disso e acabei demitido desse último exatamente por causa da viola — continua.
— É que tinha um homem aqui na cidade que recebia muitos violeiros em sua casa e fazia festas. Alguns se hospedavam lá por dias, e ficavam cantando e tocando a noite inteira. E era gente importante mesmo: Tião Carreiro, Cacique, Pajé e outros. Acabei conseguindo participar dessa festa também, e certa vez fiquei uma semana na casa. Quando cheguei no trabalho estava demitido. Tentei explicar que não podia deixar aqueles violeiros lá e sair, mas não me entenderam (risos) — lembra.
Por conta desse episódio João Pedro resolveu trabalhar como vendedor autônomo, ganhando mais tempo para aproveitar os movimentos de viola.
— Passei a participar de muitos festivais e festas de viola em geral. Me apresentei várias vezes na festa de Alto Belo, do Téo Azevedo, a maior festa de folias de reis do Brasil. Ganhei por 6 vezes o festival Violeira Rose Abrão, daqui de Barretos, um dos mais antigos e importantes do país — comenta.
— Também já ganhei festivais em quase todas as cidades daqui da região, porque tem muito campo para a viola caipira nessa área. Porém, a famosa Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos há muito que se descaracterizou, deixou de lado a sua essência. Atualmente tem somente um ou dois por cento de caipira na festa — afirma.
Viola com estilo especial
— Minhas músicas falam da roça, da boiada, da vida do camponês, coisas que vivenciei. Já gravei minhas composições em discos e tive músicas minhas gravadas por outros artistas também. Sempre gostei de fazer parcerias, do trabalho de duplas, por achar que um ajuda o outro. E um desses meus parceiros foi o grande mestre violeiro Gedeão da Viola — fala.
— Antes mesmo dele se mudar para Barretos já fazíamos alguns trabalhos juntos, depois que veio começamos a parceria para valer mesmo, que durou cerca de 15 anos. Gravamos discos, ganhamos prêmios e viajamos bastante pelo Brasil inteiro — continua.
Quando viu Gedeão tocando pela primeira vez, João Pedro percebeu um jeito diferente de todos os violeiros que conhecia até então.
— Me aproximei e fui vendo que criou um estilo só dele mesmo. Além de tocar bem o dos outros, tocava mais um, que os outros não tocavam. Tanto que até hoje só os violeiros influenciados por ele, que foram seus alunos, é que tocam esse estilo. Era tão diferente e especial esse seu jeito, que gravou um disco de solo de viola que até hoje é o disco referência. Muitos outros gravaram também, mas o disco do Gedeão que é conhecido — expõe.
— Ele era simplesmente fantástico, inclusive uma música sua, chamada ‘Pau-Brasil’, foi tema de abertura do importante programa ‘Viola Minha Viola’ por muito tempo, e até hoje ainda é usada. Tive a felicidade de conhecê-lo e tê-lo como parceiro. E foi muito importante para a minha vida musical, e como amizade também — fala.
— Aprendi muito com ele. Eu já tocava viola quando o conheci, mas posso dizer que ele me lapidou para tocar como toco hoje. E muitos outros violeiros que tem por aí aprenderam com ele. O Gedeão da Viola está fazendo uma falta danada pra gente — declara, lembrando que Gedeão faleceu em 2005.
João Pedro gravou um CD cantado com Gedeão, que foi na época, 2001, considerado pela crítica como o melhor disco de música raiz.
— Um disco muito bom, só de viola, bem acústico. Quase todas as músicas são dos festivais que nós participamos. Mas tenho outros discos também com outros parceiros. O primeiro foi esse com o Gedeão, o segundo e o terceiro com o Iovano, e o quarto com o Solito, com quem estou fazendo dupla atualmente. Além disso, tenho diversas participações em coletâneas e festivais — diz.
— No momento, eu e o Solito estamos nos preparando para gravar mais um disco, que deve sair em breve, e nos apresentando bastante aqui pela região e todo o país. Posso dizer que não nos falta trabalho. É showzinho pra aqui e outro pra ali, e vamos lutando pela nossa música caipira — conclui João Pedro.
Para contatá-lo: (17) 3325-2464 / (17) 9763-0809.