Proveniente de uma família repleta de artistas, o músico, letrista, compositor, cantor e escritor Luiz Ayrão adquiriu uma inclinação inevitável para a música. Isso porque em 35 anos de carreira dedicados à música o artista carrega uma bagagem de 350 composições gravadas e 30 discos.
Em junho deste ano foi lançado o seu último disco intitulado A vida é uma festa, com 12 faixas, das quais seis são inéditas. Juntamente com o disco, Luiz lança seu segundo livro Meus ídolos e eu com enfoque diferente da sua primeira obra País de meus anjos — lançado em 2000.
Desde que se entende como gente, Luiz Ayrão tem contato direto com a música. Seu avô paterno era maestro, compositor e professor de música, o que contribuiu decisivamente na sua vocação para compor. De sua avó herdou o talento para os versos e a poesia. Em dias de descontração, sua casa, no Lins de Vasconcelos, bairro da Zona Norte carioca, era reservada aos encontros de músicos e compositores nos quais célebres personalidades musicais irrompiam:
— Pode ser que houvesse outras pessoas importantes da época, mas que eu me lembre, e que se destacaram, Pixinguinha e João da Baiana. A importância é que despertaram em mim o prazer de ouvir melodias bonitas, e o som daqueles instrumentos tão bem executados — conta o cantor, ao tentar lembrar de sua infância.
Carreira invejável
O primeiro trabalho como cantor surgiu no início de 1974, pela Emi-Odeon. Em uma faixa daquele disco destaca-se sua paixão irreprimível à escola de samba Portela: Porta Aberta. A canção teve o mérito de estourar no carnaval como uma espécie de hino carnavalesco do respectivo ano. Aliás, o cantor já teve a oportunidade de desfilar algumas vezes pela escola e em certa ocasião teve que empurrar um carro alegórico que apresentou defeito no exato momento de entrar na avenida, carregando-o por todo percurso. Prova do carinho pela famosa escola de Madureira é vista em inúmeros dos seus sambas. Porta Aberta, segundo ele, já foi cantado muito em seus mais de 5 mil shows. Portanto, como fez questão de mencionar, a canção em homenagem a Portela é uma forma significativa de divulgar e consagrar sua querida escola e seu povo.
Foi a partir do primeiro disco que Luiz decidiu largar sua carreira de advogado a dedicar-se exclusivamente à musical. Novos sucessos surgiram, como Saudades da república e Bola dividida, que foram grandes sucessos na época. Além disso o artista ainda virou empresário e integrou o elenco da mais badalada casa de espetáculos de São Paulo: a Catedral do Samba.
Um cantor sem um disco
é como um galo:
canta mas não bota ovo
O músico, então empresário, constrói e dirige na capital paulista três casas de show de destaque: Canecão Anhembi, Sinhá Moça e Modelo da liberdade. Pelas três casas passaram nomes como Elis Regina, Chico Anísio, Amália Rodrigues, Martinho da Vila, Clara Nunes, Ângela Maria, Isaurinha Garcia, Jair Rodrigues, Inezita Barroso, Adoniran Barbosa, Os Demônios da Garoa, Os Cantores de Ébano, o comediante Costinha e diversos outros talentos.
Juntamente com os discos, ele carrega uma legião de fãs por todo país. Diferente de muitos artistas sem oportunidade para divulgarem seus trabalhos, Luiz é um autêntico artista brasileiro que conseguiu a façanha de ser amparado por gravadoras:
— Tenho uma espécie de clientela que está por aí espalhada pelo Brasil. É necessário atendê-la. Um cantor sem disco é como um galo: canta, mas não bota ovo. Por aí você vê o sacrifício que se tem que fazer. Quanto às regravações de músicas de minha autoria, algumas devem estar no CD. Os grandes sucessos, são como um bônus na vendagem e na execução. As de outros autores, como Velocidade da Luz e O show tem que continuar, estão porque gosto demais — Afirma o compositor.
"Estilo é não ter estilo"
Ser intérprete de composições de artistas emblemáticos da música brasileira parece não ser problema para Luiz Ayrão. Em 2004, o músico lança o disco Luiz Ayrão — Intérprete, contendo 14 clássicos da música brasileira dos anos 30 aos 60. Nele, grandes canções de Ary Barroso, Noel Rosa, Cartola, Maysa, Pixinguinha e Braguinha a cantar sucessos como As rosas não falam, Carinhoso, Ouça, Último desejo, Risque, O meu nome é ninguém, Lábios que beijei, Neste mesmo lugar, entre outros.
… fiz, com sucesso,
vários gêneros musicais,
mas é o bom samba
que me fala mais ao coração
— Aprecio a música boa de qualquer gênero. No meu tempo de ouvinte assíduo de rádio, não existiam emissoras segmentadas. Ouvia-se de tudo na mesma rádio: bolero, samba, baião, bossa-nova. Daí eu ter feito, com sucesso, vários gêneros musicais, mas é o bom samba que me fala mais ao coração. Por isso considero que meu estilo é não ter estilo.
De acordo com o compositor, a massiva disseminação de músicas oriundas do exterior faz com que dificilmente o povo consiga discernir o que é verdadeiramente popular ao que lhe é imposto. Na sua visão, dependendo do ouvinte, ele acaba repetindo tudo que ouve. Ou seja, se estiver na moda ele abraça. Porém, haverá também sempre o ouvinte que, independentemente de sua escolaridade, classe social ou idade, se encanta com uma frase inteligente ou uma melodia bonita. É diante desse contexto que o cantor inspira suas melodias:
— Alguém já disse que o compositor é como um repórter que se traduz por versos e melodias. É verdade. É o meu caso e meu dever! — conclui Luiz Ayrão.