Mebengoke bloqueiam BR163
No dia 13 de fevereiro o servidor da Funai Manoel Aparecido de Mello Nunes ficou em poder dos índios das etnias Mebengokrê (“Kayapó”) e Yudjá (“Juruna”) para pressionar o órgão federal a ouvir as reivindicações dos povos originários, que denunciam uma série de ações de pistolagem, emboscadas, além da demora no cumprimento da promessa de demarcação da Terra Indígena Kapotnhinore, área ancestral do povo de Raoni Metuktire, que segue ocupada e explorada pelos brancos.
Alguns dias antes, quando um caminhão de propriedade da Aldeia Piaraçu circulava na área, atolou em uma vala cavada na estrada. Os índios que foram em busca de ajuda foram presos por policiais do 10º BPM, algemados e agredidos por pistoleiros encapuzados com a assessoria de supostos servidores, que ocupavam caminhonetes com as placas adulteradas e uma viatura da Secretaria de Meio Ambiente. Os que ficaram guardando o caminhão. Na sequência, foram efetuados disparos contra os indígenas que guardavam a viatura comunitária inutilizada, obrigando-os a fugir e se proteger.
No retorno, o caminhão havia sido incendiada e explodida.
Os indígenas hoje ameaçados auxiliaram, em agosto passado, Polícia Federal, IBAMA e FUNAI a fechar pousadas ilegais que, sob pretexto de “pesca esportiva”, promoviam ou acobertavam pesca e caça indiscriminadas, deixando animais mortos ao caminho e, por vezes, retirando toneladas de peixes dos igarapés que alimentam o Xingu.
Segundo morador não-indígena de Santa Cruz (MT), poderia ter havido óbitos no último mês, tendo sido a emboscada represália contra as ações de fiscalização dos limites de Kapoto-Jarina, Mekranotire e da área em estudo identificatório de Kapotnhinore (Raoni a identifica como dos Metuktire desde que se entende por gente, tendo ali nascido e enterrado os pais – o seu Povo se afastado de lá por conta de ataques inimigos há 50 anos, encontrando equipe dos Villas-Boas no Rio Liberdade e, em seguida, rumando para onde seria o norte do Parque Indígena do Xingu).
Movimento das Mulheres Indignadas exige nomeação para coordenação da Funai
O trabalho dos jovens de monitoração dos limites foi estruturado ainda na gestão de Megaron Txukarramãe na Funai-Colíder, tendo continuidade mesmo na breve gestão Sebastião Martins. Este, indicado pela presidência da Funai para monitorar resistência à UHE de Belo Monte e a luta por Kapotnhinore, se utilizava de gordos recursos para tentar comprar as lideranças indígenas, neutralizando, assim, as ações das barricadas vivas aos projetos governamentais genocidas que são os grupos Mebengokre, Yudjá e aliados.
Promoveu ainda perseguição aos servidores que “iam presos no lugar do índio para fazer valer o Estatuto do Índio” (palavras de um veterano).
Megaron, como bom Guerreiro Mekranotí, não se dobrou. Lutando contra o decreto 7056/09 – que extinguiu mais de 400 Postos e Coordenações da Funai – e o “Belo Monstro”, interrompeu a balsa sobre o Rio Xingu durante meses – o que, na prática, significa interditar grande quantidade de soja e gado para exportação, fez pressão efetiva contra o latifúndio e o Estado – além de participar, junto com Raoni, de atos e ações contra a política de Estado genocida do PT, nunca se furtando de dizer o que pensa.
Ambos, Megaron e Raoni, são veteranos das lutas contra projetos hidrelétricos e leis de Mineração – tendo já derrubado presidentes da Funai e projetos de lei em diversas ocasiões. E foi graças à fala firme de Raoni e a atuação abnegada de Megaron, primeiro na administração do Xingu, até 1994, depois, como gestor de Colíder, que se manteve o Povo de Kapot-Jarina e etnias da região longe do apelo das madeireiras e mineradoras. E, quando os demais grupos do Pará decidiram unanimemente cortar vínculo com políticas exploratórias, Megaron utilizou a administração para dar o apoio estrutural, impedindo que as comunidades sentissem necessidade de retomar o contato.
Não é à toa que FUNAI e Polícia Federal, bem como superiores diretos das autarquias, sabiam da elevação perigosa da tensão entre os índios e a sociedade local, principalmente a partir de dezembro de 2009, quando as ações do governo incrementaram a usurpação de Direitos, obrigando indígenas a protestar de forma cada vez mais violenta, como foi o caso da retenção da balsa sobre o Xingu (2010) ou no bloqueio da BR 163 (junho de 2010). Isso deu subsídios para que certa imprensa local explorasse os fatos de maneira a incitar o ódio racial e a rejeição aos indígenas.
A Polícia Federal não pode dizer que desconhece o fato de que a lista de “bens roubados pelos índios”, entregue na denúncia do latifundiário Fleurimar Ferreira se trata exatamente da relação dos itens apreendidos e lacrados pela própria PF, em operação conjunta com IBAMA e FUNAI, contra invasão de Terras Indígenas para pesca e caça ilegais.
Durante mês de fevereiro, FUNAI e PF receberam ofícios e telefonemas relatando agressões, intimidação e atentado, dando conta dos jovens e crianças indígenas impedidos de ir à aula pelo risco de serem mortas ou agredidas no caminho, estando indígenas da região impossibilitados de usar a estrada que sai do município de Confresa (MT) pela presença de pistoleiros e PMs no trajeto.
Foi nesse contexto que os índios se apoderaram do funcionário da Funai, Manoel Aparecido, visando chamar a atenção da opinião pública, apesar de a imprensa em geral ter dado destaque apenas às mentiras (segundo os índios) de que Manoel teria sido torturado por vários dias.
No dia 12 de março o Movimento das Mulheres Indígenas (Mebengokre Menire), ocupou a Funai de Colider exigindo a nomeação de um mebengroke escolhido pela comunidade para ser o coordenador da Funai. A demanda indígena foi aceita após 26 horas de ocupação.