Luta dos povos indígenas: repressão e luta em 2012

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Luta dos povos indígenas: repressão e luta em 2012

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O ano de 2012 começou com AND denunciando, em fevereiro, que grupos de paramilitares peruanos estavam invadindo território brasileiro, no Acre, há vários meses, provavelmente para fazer “limpeza” na selva, aterrorizando e matando índios, para que produtores de cocaína e traficantes pudessem se instalar. Essa era a suspeita da Funai.

No entanto, não se podia descartar que estivessem também “à caça” de combatentes do Partido Comunista do Peru (PCP, chamado pelo monopólio da imprensa de “Sendero Luminoso”), que atua na área amazônica daquele país.

Em abril, o jornal apontou suspeita de genocídio de índios do norte de Mato Grosso. As etnias mebengokrê (caiapó) e yudjá (juruna) detiveram um agente da Funai para exigir providências contra ações de pistolagem e emboscadas, além da demarcação da área ancestral de Kapotnhinore, que segue ocupada por brancos. Um morador de Santa Cruz (MT) disse que mortes de indígenas teriam acontecido em março, numa emboscada de pistoleiros.

Na edição de junho o jornal noticiou o risco de repressão federal contra os pataxós da Bahia. Embora em 2 de maio o STF tenha anulado os títulos de posse de latifundiários invasores das aldeias Caramuru e Catarina Paraguassu, no mesmo dia a Força Nacional de Segurança foi enviada ao território pataxó para unir-se à Polícia Federal, que já estava lá. Como é comum acontecer, a presença desses contingentes serviram mais para intimidar os índios do que para defendê-los.

Na segunda quinzena de julho, AND publicou diversos fatos importantes ligados à questão indígena. O primeiro deles foi a prisão de 10 pessoas acusadas de matar e desaparecer com o corpo do cacique guarani Nísio Gomes, do Mato Grosso do Sul, em novembro de 2011. O grupo assassino, com capuzes semelhantes aos racistas/terroristas da Ku-Klux-Kan (do USA), teria sido liderado pelo ex-PM Aurelino Arce, dono da Gaspen Segurança, que estava entre os detidos. Sua empresa teria sido contratada por latifundiários para atacar os guaranis.

A segunda notícia foi a abertura de inquérito pela PF para apurar um ataque de encapuzados a um ônibus que transportava estudantes da tribo terena, perto da aldeia Cachoeirinha, em Miranda (MS). O crime, à bomba, ocorreu em junho do ano passado e deixou vários alunos queimados, causando também uma morte.

O terceiro fato foi um contundente protesto de indígenas mundurukus. Em 2 de julho eles incendiaram um quartel da PM em Jacareacanga (PA), revoltados com a concessão de liberdade a 2 dos suspeitos pelo assassinato do índio Lelo Akay, massacrado a pauladas e facadas em junho.

Na segunda quinzena de agosto, o jornal denunciou a morte, por pistoleiros, de um cacique dos potiguaras da Paraíba. O líder Geusivan Silva de Lima foi baleado na aldeia Brejinho e um amigo seu, que tentou defendê-lo (Claudemir Ferreira da Silva), foi sumariamente executado. Meses antes os potiguaras haviam retomado terras ocupadas ilegalmente por um latifúndio de cana-de-açúcar.

Na mesma edição, AND publicou documento dos guaranis-kaiowás do MS, no qual os índios mostraram sua indignação com os ataques que vem sofrendo, por parte de ricos fazendeiros: “Chega de lideranças mortas, devolvam nossas terras!” O escrito foi elaborado numa Aty Guaçu (Assembleia Grande) e revelou o quadro de covardia e impunidade no MS, estado onde mais se comete violências contra indígenas no Brasil.

Na primeira quinzena de setembro, o divulgamos uma grave denúncia: Latifúndio prepara massacre de indígenas. Tratava-se de uma declaração de guerra contra os guaranis-kaiowás, registrada em vídeo, feita descaradamente pelo fazendeiro Luis Carlos da Silva Vieira, do município de Paranhos (MS). As violentas ameaças causaram indignação no país inteiro, mas, o autor, ao que se saiba, ainda não foi punido.

Na mesma edição AND noticiou o assassinato de um indígena de Rondônia, por pistoleiros. O kaxarari João Oliveira da Silva já tinha avisado que andava recebendo ameaças de latifundiários e grandes madeireiros.

Na segunda quinzena de setembro o jornal publicou retomadas, pelos guaranis-kaiowás do MS, de terras ilegalmente ocupadas por fazendas. Em Arroio Korá, a ação ocorreu em agosto e em Potrero Guasu no início de setembro (ambas áreas ficam próximas a Paranhos). Em violento revide, os indígenas sofreram ataques de pistoleiros. Em um deles mataram um bebê guarani.

Na primeira quinzena de outubro, AND criticou: Índios exigem direitos e recebem discurso marqueteiro. “Puro marketing”, “enganação”, “decepcionante”. Assim várias entidades nacionais e estrangeiras definiram o discurso da gerência Rousseff em reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra, no dia 20 de setembro, que garantiu estar tratando e solucionando a maioria dos casos de violência (cometidas por “autoridades” e classes dominantes) contra os povos indígenas brasileiros.

A edição da segunda quinzena de outubro trouxe uma síntese do Relatório da Violência contra os Povos Indígenas do Brasil, elaborado pelo CIMI. Com dados relativos a 2011, o documento informou que 51 índios foram assassinados no país naquele período. O maior número de vítimas, 32, mais uma vez foi registrado no MS. Ao mesmo tempo as nações indígenas seguiram travando duras lutas por suas terras, mesmo enfrentando adversários poderosos e brutais. O Relatório apontou que, no ano passado, ocorreram 11 casos de conflitos relativos a direitos territoriais: Amazonas (1), Mato Grosso (1), Mato Grosso do Sul (3), Pará (1), Paraíba (1), Pernambuco (2), Rio Grande do Sul (1) e Santa Catarina (1).

AND noticiou ainda que índios de várias tribos amazônicas e pescadores ocuparam, no dia 8, um dos canteiros de obras da hidrelétrica de Belo Monte (PA). Tratou-se de um protesto pelo descumprimento de acordos firmados pela Norte Energia.

Na primeira quinzena de novembro o assunto foi uma carta de 170 guaranis-kaiowás, de Pyelito Kue (Iguatemi – MS) denunciando o Estado genocida brasileiro. O documento causou impacto na internet, onde circulou, pois chegou-se a interpretá-lo como uma declaração coletiva de suicídio.

Em dezembro, o jornal noticiou invasão da Polícia Federal a uma aldeia, deixando 1 indígena morto e 2 gravemente feridos. O confronto ocorreu no começo de novembro, numa comunidade munduruku em Alta Floresta (MT). Os agentes supostamente estavam procurando garimpos ilegais de ouro.

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