Assassinos de cacique vão para a cadeia
Montezuma Cruz
Massacrado e morto. O cadáver sumiu em novembro do ano passado. A Polícia Federal prendeu, no dia 15 de junho, dez pessoas suspeitas da morte e do desaparecimento do corpo do cacique guarani Nísio Gomes, 59 anos, líder do Acampamento Guayviry, no município de Aral Moreira, a 402 quilômetros de Campo Grande (MS), na faixa de fronteira com o Paraguai.
Com a reabertura do inquérito, por determinação do Ministério Público Federal, espera-se a confirmação da versão indígena, segundo a qual o cacique foi ferido e depois retirado à força do local do crime. O grupo invasor era formado por cerca de 30 homens armados, todos encapuzados, no estilo Ku-Klux-Klan.
Entre os presos pela PF durante operação especial naquela região, está o policial militar aposentado Aurelino Arce, 47 anos, dono da Gaspen Segurança. A empresa dele, com sede em Dourados, teria sido contratada por fazendeiros para comandar um bando de jagunços que invadiu o acampamento guarani no dia 17 de novembro.
Os mandados de prisão preventiva foram expedidos pela Justiça Federal em Ponta Porã, cidade sul-mato-grossense separada apenas por uma avenida de Pedro Juan Caballero, capital do departamento de Amambay, no Paraguai.
Segundo a família de Nísio Gomes, na ocasião do ataque dos jagunços, não havia indícios concretos do assassinato. A PF indiciou Tatiane Micheli dos Santos, 20, a namorada de Arce, pelo roubo de uma caminhonete na propriedade dele. Ela e outras quatro pessoas foram presas e nos depoimentos contaram ter ouvido de Arce o plano de atacar o acampamento indígena.
Em 19 de junho, a Polícia Federal em Ponta Porã concluiu as investigações a respeito do atentado ao cacique Nísio e confirmou que ele fora assassinado de maneira cruel. Pôs fim, dessa maneira, a informações desencontradas divulgadas pela própria instituição policial, segundo as quais, ele estaria vivo.
Nessa mesma data, em Dourados, a PF ouviu o último preso do grupo de nove detidos no dia 15 de junho, com mandados de prisão preventiva. O militar aposentado Aurelino Arce, dono da empresa Gaspen Segurança, e mais três funcionários da mesma empresa, foram acusados pelo crime. Eles é que invadiram o acampamento indígena.
Ataque a ônibus é investigado
Em outro inquérito aberto pela PF, investiga-se ainda o ataque de encapuzados a um ônibus, em 4 de junho de 2011, nas proximidades da Aldeia Cachoeirinha, no município de Miranda (MS). O ônibus transportava estudantes indígenas Terena. Uma bomba caseira foi lançada contra o veículo, ferindo com queimaduras de segundo e terceiro graus (as piores) quatro pessoas, entre as quais o motorista, que perdeu o controle da direção e bateu o ônibus. Depois de alguns dias internada, Lurdivane Pires, 28, morreu na Santa Casa de Campo Grande, em consequência das queimaduras.
Pará: índios incendeiam unidade da Polícia Militar
Cerca de 60 índios da etnia Munduruku incendiaram um quartel da Polícia Militar no município de Jacareacanga, interior do Pará. A ação dos indígenas ocorreu na noite de 2 de julho. Os indígenas se revoltaram após um juiz conceder a liberdade a dois dos quatro suspeitos pela morte do índio Lelo Akay, morto a pauladas e facadas durante um assalto no dia 23 de junho.
O quartel da polícia foi ocupado, suas dependências destruídas e incendiado. Duas carabinas e um revólver calibre 38 teriam sido levados. Um policial ficou ferido após levar uma flechada no braço direito.
Nos dias 4 e 5 de julho, os Munduruku se recusaram a assinar um acordo para pôr fim às manifestações. Eles impediram que representantes da Funai e os policiais envolvidos na negociação saíssem da cidade e exigiam que a polícia prendesse e entregasse os acusados para que fossem julgados pelos próprios indígenas. Efetivos das forças de repressão foram enviados para a região.
Em 6 de julho, lideranças Munduruku, o secretário de segurança Luiz Fernandes, representantes do Ministério Público Federal, representantes da prefeitura municipal e câmara municipal de Jacareacanga se reuniram para debater a pauta de reivindicações dos indígenas. 1.600 pessoas participaram da reunião em uma praça pública e os debates foram encerrados com promessas dos representantes do Estado. Mas 120 efetivos das forças de repressão permanecem na cidade.