Rondônia: camponês é assassinado em Rio Branco
Mais uma vítima do latifúndio em Rondônia
Mais um camponês é covardemente assassinado por lutar pela terra em Rondônia. Na internet e na imprensa local, os monopólios a serviço do latifúndio, buscando criminalizar e justificar o assassinato de José Antônio, noticiaram ser ele presidiário no regime semiaberto, monitorado por tornozeleira eletrônica e fazer parte de um grupo que “comandava invasões de terra”. A Liga dos Camponeses Pobres (LCP) denuncia que José Antônio Dória foi assassinado por um bando de pistoleiros comandado por ex-policiais que atua no estado e já foi denunciado por outros crimes semelhantes sem que nenhuma providência fosse tomada pela Ouvidoria Agrária Nacional ou pelas ditas “autoridades”, apesar das reiteradas denúncias. Publicamos abaixo nota da LCP com a denúncia do assassinato do camponês.
Nota da LCP de Rondônia e Amazônia Ocidental e Comissão Nacional das LCPs
O camponês José Antônio Dória dos Santos, conhecido como Zé Mienga, foi covardemente assassinado por um bando armado que está atuando na região do Vale do Jamary.
Jose Antônio voltava para sua casa de moto por volta das 21h de 27 de janeiro quando foi atingido por quatro tiros, sendo três na cabeça e um nas costas, morrendo no local.
Ele vinha há muito tempo recebendo ameaças de um grupo ligado ao ex-PM de Buritis, Edelvan, vulgo “Zeca Urubu”.
No dia 17/12/2014, um camponês havia denunciado ao Ouvidor Agrário Nacional, Gercino Filho, que um grupo de policiais e ex-policiais de Buritis está praticando assassinatos e fazendo “segurança particular” para latifundiários e grileiros de terras na região. Doze dias depois esse camponês sofreu uma tentativa de assassinato por desconhecidos.
Mesmo tendo denunciado com detalhes os nomes dos policiais, o Ouvidor Agrário Gercino não tomou nenhuma providência, a não ser no intuito de criminalizar a nossa luta.
O detalhe mais grave da presente situação é que essas terras em disputa são um assentamento do Incra que foi grilado pelo latifundiário Caubi. Mesmo assim nenhuma providencia foi tomada.
Todos esses assassinatos e sumiços na região são responsabilidade da Ouvidoria Agrária Nacional que só ouve as denúncias dos camponeses e não toma nenhuma providência nem antes nem depois que os que denunciam são assassinados.
Vejam nos links as páginas na internet com exemplos de execuções como a do casal assassinado no Mato Grosso após reunião com a Ouvidoria Agrária: www.cptnacional.org.br
Vejamos o exemplo de Cleomar Rodrigues assassinado no Norte de Minas após reuniões com Incra e Ouvidoria Agrária: www.anovademocracia.com.br
Vejamos o caso dos líderes camponeses Elcio Machado e Gilson Gonçalves, brutalmente torturados e assassinados após reunião com o Ouvidor Agrário: www.andblog.com.br
Essas reuniões com a Ouvidoria Agrária só têm servido para identificar as lideranças camponesas combativas para serem presas ou assassinadas depois, já que nenhuma providência é tomada quando os camponeses denunciam os bandos armados.
A Liga dos Camponeses Pobres mais uma vez denuncia esse covarde assassinato do camponês Jose Antônio Dória e cobramos punição aos covardes executores e providências a justiça.
Resiste Canaã!
Na última edição de nosso jornal, noticiamos as provocações e ameaças do latifúndio e do judiciário contra a área Canaã. Na presente edição publicamos as impressões dos membros do Comitê de Apoio ao AND em Porto Velho, que esteve no local e ouviu camponeses das áreas Canaã, Raio do Sol e Renato Nathan, em Rondônia, colhendo depoimentos de sua luta e seu trabalho.
A área Canaã localiza-se próxima a BR-619, em Rondônia. Possui 1.200 alqueires de terra, cada qual avaliado entre R$20.000,00 a R$30.000,00, dada a fertilidade das terras e a abundância de sua produção. Outras duas áreas vizinhas, ‘Raio de Sol’ e ‘Renato Nathan’, possuem 400 alqueires, cada um avaliado entre R$10.000,00 a R$30.000,00. Os preços foram estipulados pelo Incra para pagamento aos latifundiários Lindolfo Lima e Regina Lima, que reclamam aquelas terras, “compensação” por sua desapropriação. Para eles o valor pago “não foi satisfatório”.
Os camponeses tomaram as outrora infrutíferas terras há dez anos. Araram e cultivaram essas terras que hoje são reconhecidas pelo próprio Incra como a “área mais produtiva de Rondônia”. Canaã possui 200 lotes, cada qual com dez alqueires trabalhados diariamente pelas mãos dos camponeses.
Essas três áreas contam com o apoio e organização da Liga dos Camponeses Pobres (LCP) de Rondônia e Amazônia Ocidental, responsável pelas maiores conquistas da luta camponesa na região. Desde 2007, a LCP e os camponeses realizaram o Corte Popular das terras, abriram longas estradas e construíram sólidas pontes. Uniram-se para alugar máquinas para o cultivo da terra. Construíram casas, escolas e barracões. Tudo decidido coletivamente pelas Assembleias Populares nas áreas.
“Em 2007 era fogo pra todo lado, lembro que até porco morreu queimado, queimavam plantações… a polícia colocava arma na cabeça de pai de família a mando da fazendeira… O grande quer acabar com o pequeno, mas se a gente se unir a gente vencer o grande(…) No começo era a pé, de bicicleta, depois abrimos estrada pra moto, e hoje passa até caminhão”. Esses são depoimentos de camponeses ao Comitê de Apoio ao jornal A Nova Democracia de Porto Velho. Orgulhosos, eles nos mostram o fruto do trabalho nas áreas e narram a luta para conquistarem tudo o que têm hoje.
Desde 2010, os camponeses das áreas Canaã, Raio de Sol e Renato Nathan produzem e encaminham para a cidade toneladas de banana, mandioca, muito leite, hortaliças e outros produtos, ao contrário do latifúndio, que só produz soja e gado para exportação.
No mês de janeiro, trabalhadores que transportavam a produção das áreas para cidade foram abordados, sem motivo aparente, por carros do Grupamento de Operações Especiais (GOE) da PM e oficial de justiça.
Por representar combativo e vitorioso exemplo para os camponeses de todo o Brasil, a área Canaã, bem como outras áreas em Rondônia, está sob constante fogo do latifúndio e do judiciário. O Canaã já resistiu a repetidas tentativas de despejo e está novamente sendo alvo de um mandado de reintegração de posse. As famílias já afirmaram que, como sempre fizeram, resistirão e seus advogados também tomarão as providências necessárias para responder às provocações e ataques das classes dominantes.
Famílias expulsas com nova cheia do Rio Madeira
Na edição nº 127 de AND, publicada em março do ano passado, o jornalista Mário Lúcio de Paula já apontava que “as chuvas e cheias são fenômenos relativamente comuns na região amazônica, mas as proporções atingidas pela atual cheia do Rio Madeira são, segundo já denunciavam muitos juristas, estudiosos, ribeirinhos, povos indígenas e populações de áreas distantes até 100 km das margens do Madeira, um crime anunciado contra o povo e está diretamente relacionada com a construção das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio”.
No dia 27 de janeiro, a prefeitura de Porto Velho decretou estado de alerta quando o nível do Rio Madeira atingiu a marca de 15,28 m, forçando a saída de moradores também no bairro Nacional, próximo ao Centro da capital. O nível da água atingiu 2 metros abaixo no mesmo mês do ano passado quando a cheia acarretou estado de calamidade pública em quase todo o estado de Rondônia.
O responsável pela Defesa Civil na ocasião, José Pimentel, afirma que o abrigo de lonas no parque dos tanques está sendo desocupado aos poucos. Os atingidos disporão de imóveis para aluguel e escolas estaduais como abrigos temporários.
Segundo a página jornalatribuna.com.br, em 26 de janeiro, equipes da Defesa Civil de Porto Velho haviam removido mais três famílias de áreas atingidas pela enchente do Rio Madeira. Com essas remoções, o número de famílias desalojadas na capital subiu para 15 nesse último período.
Na edição passada do AND noticiamos a situação dos moradores de Jaci Paraná, que denunciam remoções de famílias atingidas pela cheia do Rio Madeira pela Santo Antônio Energia, responsável pelas obras da Usina Hidrelétrica Santo Antônio, no final de dezembro do ano passado.