Pernambuco
Camponeses decidem pela tomada das terras e pelo Corte Popular
David Capistrano
Estrada de acesso à Usina Catende é interditada
pelos camponeses que não se intimidaram com
o ‘gerente’ que o latifúndio mandou
Na noite do dia 13 de Janeiro, em vibrante assembleia popular no Engenho Pau D’olho, no município de Catende, Zona da Mata Sul Pernambucana, em conjunto, a Associação de Moradores e Trabalhadores do engenho Pau D’olho e a Liga dos Camponeses Pobres de Pernambuco tomaram três decisões unânimes e fundamentais: 1) selar a união das duas organizações; 2) moer a cana por conta própria, seguindo o exemplo dos engenhos Santa Luzia e Ousadia, que após longos 15 anos sofrendo a ininterrupta e implacável exploração dos “novos usineiros” e capatazes “socialistas” da cooperativa Harmonia, MST, FETAPE e de seus satélites sindicais vêm trilhando o caminho do movimento camponês combativo; e 3) tomar a terra e realizar o corte popular.
Mais de 150 camponeses expuseram toda revolta represada, opinaram e debateram como empreender a sua luta. Decidiram impedir que a Usina Catende, que já havia moído mais de 300 toneladas de cana nesta safra e tinha dívidas monstruosas com a associação e os camponeses, entre elas: moagens de safras anteriores ainda não pagas, dívidas individuais com camponeses que trabalharam no corte e salários atrasados a mais de quatro meses consecutivos.
“Daqui não vamos sair”
Às quatro horas da manhã de 14 de fevereiro, cerca de 200 camponeses bloquearam a estrada com troncos e pedras, impedindo assim a passagem dos caminhões, ônibus e tratores da Usina Catende, e montaram acampamento na margem da estrada de rodagem. Não tardou em chegar o “socorro” do latifúndio: comandados por Jorge, um dos “gerentes” dos engenhos, um bando de capangas tentou intimidar as famílias camponesas.
Fazendo-se de “amigo”, o “gerente” dramaticamente prometia pagar os salários e as contas das safras anteriores. Esforço inútil. Roubados e enganados durante anos, os camponeses mantiveram-se irredutíveis:
— Daqui não vamos sair, só desocupamos a rodagem depois que toda a cana for cortada e moída. Nem mesmo a polícia nos arranca daqui, nós estamos com a Liga e a associação, desta vez vocês não vão roubar nossa cana, seu bando de ladrões — respondeu um camponês, diante da insistência do chefe dos capangas.
Como a ladainha não abalou a decisão dos camponeses, os agentes do latifúndio passaram imediatamente à chantagem, intimidação e ameaças ostensivas. O tal “gerente” Jorge ameaçou:
— Se vocês moerem com a Norte Sul (outro engenho local) podem ficar certos que não vão receber. Vocês têm que ter muito cuidado, o que vocês estão fazendo é errado, vão se arrepender muito, coisas muito sérias podem acontecer com vocês — declarou em alto e bom som o chefe dos capangas da Usina Catende. São ameaças testemunhadas por dezenas de pessoas, literalmente transcritas pela reportagem de AND.
Coordenadores da LCP e lideranças da Associação esclareceram os camponeses de que somente permanecendo unidos e através da luta deteriam o roubo e derrotariam a “cooperativa” do latifúndio.
“A terra para os camponeses e a Usina para os operários”
Mobilizados a partir dessa palavra de ordem os camponeses decidiram bloquear a estrada, cortar e moer a cana. Os bate-paus do latifúndio foram expulsos.
A notícia da vitória dos camponeses do engenho Pau D’olho se espalhou rapidamente e outras famílias trabalhadoras do engenho Riachão solicitaram que a LCP visitasse sua área para explicar como conquistar as terras e realizar o corte popular no Engenho Riachão.
A boa nova da Revolução Agrária corre veloz de área em área. Com o avanço da organização e luta camponesa na reunião, mais e mais massas têm engrossado as fileiras do movimento camponês combativo.