Refutando as mentiras do latifúndio
Nota da redação: No dia 4 de julho, havíamos publicado no blog da redação de AND a notícia da prisão de 22 camponeses, ocorrida no dia 2, em Ariquemes, Rondônia. No dia 5, recebemos a notícia da libertação dos camponeses. Contudo, achamos importante divulgar, tanto no blog como nas páginas de AND, a nota publicada pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP), que responde a uma série de provocações e ataques feitos pelo latifúndio, pelas forças de repressão e pelo monopólio da imprensa.
Fotos publicadas nos sites tentam criminalizar os camponeses
Liberdade imediata para os camponeses presos em Ariquemes, Rondônia!
No final da tarde e início da noite de segunda-feira, dia 02 de julho de 2012, 22 camponeses foram presos por policiais do GOE do 7º BPM, comandado pelo Coronel Enedy Dias de Araújo.
Os camponeses ocupavam as terras da Fazenda Stivanin, Rodovia 257, linha C-70, abandonada desde maio deste ano quando seu antigo proprietário fora assassinado e foi cumprida reintegração de posse contra famílias que viviam na área com casas prontas e lotes produzindo, e que haviam comprado os lotes em negócios até hoje mal explicados com o falecido.
As reportagens da imprensa marrom, Rede Globo e sites claramente vinculados com a polícia e o latifúndio de Rondônia insinuaram que os camponeses e a Liga seriam suspeitos do assassinato do fazendeiro, estariam armados, praticando desobediência e se organizando como que para enfrentamento com a força policial. Para sustentar a verborragia contra os camponeses e à Liga, exibiram fotos de bandeiras do movimento, facões, canivetes, foices, um casaco camuflado e uma lista da guarda do acampamento. Um dos sites que noticiou o fato, com o mesmo texto da Globo e de outros sites, quis exagerar e mostrou uma enxurrada de imagens, com fotos de alimentos, um bilhete com regras como não beber e falar palavrão, e a imagem das pessoas, fotos que por si só desmoralizariam a acusação de quadrilha, e demonstrariam a condição dos homens e mulheres presos como camponeses que buscavam se organizar para lutar por um direito.
Esclarecemos e denunciamos que:
1 – A Liga dos Camponeses Pobres não teve nenhuma participação em nenhum dos episódios anteriores a ocupação atual, realizada na semana passada. Todos na região sabem disso. E segundo vários companheiros que conhecem o assunto, o próprio latifundiário havia autorizado a venda das parcelas, e depois de todas vendidas, desistiu do “negócio” e entrou com reintegração de posse.
2 – As famílias que foram despejadas, todas morando em barracos de lona, ao invés das moradias que haviam laboriosamente construído, aguardam uma solução prometida pelo INCRA em outras terras próximas.
3 – Não são só ridículas, como também paranóicas, as insinuações da imprensa marrom.
4 – Como, infelizmente nos dias de hoje retirar camponeses de terras, levá-los à prisão e criminalizá-los escondendo a verdadeira situação em que ocorreu a luta pela terra é “comum” e não levanta mais a indignação da “opinião pública”, a imprensa marrom a serviço do major Enedy e do latifúndio resolveu “caprichar” nas matérias.
Lista de regras foi apreendida
5 – Como não podiam falar que os camponeses resistiram à força policial, que não cometeram nenhum “esbulho possessório”, pois que as terras estavam abandonadas, que não agrediram ou humilharam ninguém como falaram antes para acobertar o assassinato do Professor Renato, então mentiram e “forçaram a barra” para transformar uma ocupação de terra em crime.
6 – Quer dizer agora que uma pequena espingarda, facões, foices e canivetes, essenciais para a vida na roça, são “armas brancas”? Quer dizer que essas jaquetas que imitam fardas do exército, vendidas em qualquer loja ou barracas, são “roupas” de guerrilha? Quer dizer que uma lista em que são organizadas a guarda do acampamento, como também um papel em que os camponeses organizavam regras de “não falar palavrão” e “não beber” configuram “formação de quadrilha”?
7 – Falem a verdade, covardes!
8 – Foram presos 22 camponeses lutando pela terra, sem cometer nenhum crime!
9 – A sentença que sustentou a ação policial, em que um “juiz” concedeu reintegração de posse válida por 6 meses, para qualquer jurista honesto é considerada uma aberração. E quem está na luta pela terra já se cansou de ouvir de gestores do INCRA e outros órgãos do Estado para que, em determinadas situações, “deixem passar trinta dias e voltem para a terra”!
10 – Por fim, reafirmamos que as bandeiras da Liga estão à disposição de todos os camponeses e posseiros que quiserem lutar pela conquista de seu pedaço de terra e destruir o latifúndio! Que essa canalha minta e nos difame, danem-se! As massas camponesas querem lutar, precisam lutar! E, ao contrário do oportunismo, nós não vamos nos negar, custe o que custar!
11 – Exigimos a imediata libertação dos camponeses presos em Ariquemes!
12 – Terra para quem nela vive e trabalha!
Goiânia, 04 de julho de 2012
Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres
Ataque de pistoleiros em Eldorado dos Carajás
Famílias ligadas ao MST foram alvo de disparos de um bando de pistoleiros no latifúndio denominado Fazenda Cedro, em Eldorado dos Carajás, sudeste do Pará, reclamado pela Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, empresa que tem como acionista o banqueiro Daniel Dantas. O ataque de pistoleiros travestidos de “seguranças” foi no dia 21 de junho. Eles abriram fogo contra um grupo de 16 pessoas no qual havia, inclusive, crianças.
Esse latifúndio já havia tido partes ocupadas por famílias camponesas em outras ocasiões e, em suas terras, já houve outros confrontos e ataques de pistoleiros. Mais uma vez, seguindo orientações do MST, os camponeses, 300 famílias ao todo, se retiraram e “serão deslocadas para acampamentos já existentes em outras áreas”.
Antes desse ataque, o latifúndio já havia feito outras investidas para intimidar os camponeses em outras áreas. A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Eldorado dos Carajás, Regina Maria Gonçalves, sofreu intimidação de um grupo de latifundiários que foi até a sede do sindicato para intimidá-la. Em declaração ao reportagembrasil.org.br, ela disse: “Fiquei cercada pelos fazendeiros, que estavam alterados e muito nervosos. Eles disseram que 150 homens armados estavam preparados para receber quem tentasse invadir”.