Luta pela terra

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Luta pela terra

Corumbiara, Rondônia

Festa na Área Revolucionária Zé Bentão

Assim se chama a parte da Fazenda Santa Elina que já pertence aos camponeses

Com informações de resistênciacamponesa.com

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Centenas de pessoas se deslocaram desde Alto Guarajus, Rondolândia, Vanessa, Adriana, Vitória da União, Corumbiara, Cerejeiras, Chupinguaia, Vilhena, Espigão, Cacoal, Vila Palmares, Jaru, Ariquemes, Buritis, Machadinho, Canãa, Raio do Sol, Lamarca, Rio Alto, José e Nélio, Jacinópolis e Porto Velho. Mais de quinhentos convidados estiverem presentes, segundo a organização da Festa do Corte Popular da antiga Fazenda Santa Elina. A maioria dos presentes eram camponeses, antes sem terra, agora proprietários de seus próprios lotes conquistados pela Revolução Agrária. Mas também havia operários, estudantes, professores, dirigentes sindicais e representantes de organizações classistas. Foram todos presenciar com os próprios olhos e festejar uma das maiores, senão a maior, conquista da luta camponesa no ano de 2010 no nosso país.

A antiga Fazenda Santa Elina, palco da heroica resistência camponesa de 1995, foi retomada pelos camponeses. Seus lotes foram cortados e distribuídos para as famílias, grande parte sobreviventes e remanescentes da batalha histórica, pela Assembleia Popular da Área Revolucionária Zé Bentão.

Zé Bentão, como era conhecido o dirigente camponês e fundador da Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia, Francisco Pereira do Nascimento, foi assassinado em 2008. Ele foi homenageado pelos camponeses de Santa Elina que deram o seu nome à parte do latifúndio conquistada.

A grande festa durou três dias: 3, 4 e 5 de dezembro, e foi repleta de atividades políticas, culturais e esportivas. O Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina — Codevise foi o anfitrião do evento.

Uma grande queima de fogos deu abertura aos festejos, que foram saudados por coordenadores do Codevise, da Liga dos Camponeses Pobres – LCP de Rondônia, LCP do Pará, Socorro Popular, Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos, Associação Brasileira dos Advogados do Povo, Movimento Estudantil Popular Revolucionário, o Movimento Feminino Popular, a Liga Operária, o Sindicato dos trabalhadores Rurais de Espigão d’Oeste, o Sindicato da Construção Civil de Belo Horizonte, a Escola Popular Orocílio Martins Gonçalves, a Escola Popular de Rondônia, entre outros.

Após a saudação de abertura, os nomes de cada um dos camponeses tombados durante a resistência e assassinados pelos policiais e pistoleiros em 1995 foram lidos e um coro de centenas de vozes respondeu em uníssono: presente!

Um grupo de jovens camponeses encenou uma peça teatral sobre a luta de uma vila em que camponeses se rebelaram contra os abusos do latifúndio. A atividade despertou bastante interesse dos camponeses, gerando grande comoção. Torneios de futebol e vôlei também fizeram parte das atividades da Festa do Corte Popular.

Camponeses recebem seus lotes

O grande momento da festa foi a cerimônia de entrega do certificado de posse da terra durante a Assembleia Popular. Os camponeses foram chamados à frente da plenária e receberam os certificados de posse dos seus respectivos lotes.

Um documento redigido pela organização da Festa do Corte Popular, lido durante a Assembleia, resumiu o significado daquele momento:

Há 15 anos o sangue derramado pelos camponeses neste chão regou a semente da luta em nossos corações e mentes, esta semente cresceu, floresceu e deu frutos e hoje suas raízes são tão profundas que o latifúndio já não pode destruir. Pelo contrário, somos nós que podemos e devemos destruí-lo. Nunca devemos esquecer os combatentes que morreram assassinados pelas balas do latifúndio e pelas mãos malditas de seus carrascos. Estes companheiros carregavam consigo o sonho de ter um pedaço de terra para viverem e trabalharem com suas famílias e pagaram com suas vidas ao acreditar e lutar por este sonho.

A morte destes companheiros não foi em vão, pois hoje estamos transformando este sonho em realidade, somos herdeiros e continuadores dos mártires de Santa Elina. Estamos aqui para acertar as contas, ou pelo menos uma parte delas com o latifúndio. Não está longe o dia, companheiros, em que acertaremos todas as contas, e aí terão de pagar muito caro por todas as humilhações, todos os abusos, todas as mortes, toda a miséria e desgraças que causaram as gerações passadas e presentes de camponeses pobres, escravos negros e povos indígenas!

Estamos aqui reunidos presenciando e celebrando a destruição de mais uma parte do latifúndio, sabemos e temos dito que a cada punhalada que damos ele ficará mais fraco até que um dia morrerá para sempre! É nisso que acreditamos e por esse objetivo temos lutado e seguiremos lutando! Façamos como os companheiros de Santa Elina para cravarmos a bandeira da Revolução Agrária por todos os cantos, destruindo o latifúndio e construindo uma verdadeira e Nova Democracia em nosso país.

Candeias do Jamari

Pistoleiros atacam assentamento Flor do Amazonas

Com informações de rondoniaaovivo.com

No dia 5 de dezembro, um bando de pistoleiros atacou o assentamento Flor do Amazonas, zona rural do município de Candeias do Jamari, em Rondônia. De acordo com o boletim de ocorrência nº 2288/2010, quatro homens estavam construindo casas pré-moldadas no assentamento, quando chegaram vários homens armados e, sob ameaça de morte, renderam e mantiveram em cárcere privado Francisco C.S.M., José E.S.C., Marcelo G.V. e Geraldo D.

Os homens ficaram aprisionados por cerca de quatro horas, enquanto os pistoleiros queimavam duas casas já prontas e todo o material que seria para as outras casas. O assentamento Flor do Amazonas já foi alvo de outros ataques de pistoleiros que agem a soldo do latifúndio na região.

Alagoas .

Assassinato anunciado na Usina Utinga

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O corpo de Elias, dirigente da LCP, é carregado por seus companheiros

Na edição de dezembro de 2010 AND havia noticiado que famílias camponesas organizadas pelo Movimento Terra, Trabalho e Liberdade — MTL, que há mais de um ano haviam tomado 13 propriedades da Usina Utinga, em Murici, Zona da Mata alagoana, foram despejadas.

Lideranças da área denunciavam que os policiais militares que executaram a ação de despejo teriam queimado barracos e cerca de 40 famílias estavam acampadas provisoriamente em um posto de combustíveis na BR-101, próximo ao município de Flexeiras.

A mesorregião da Zona da Mata alagoana compreende os municípios de Branquinha, Capela, Flexeiras, Messias, Atalaia e Rio Largo. É uma região marcada por inúmeros conflitos agrários e denúncias da ação de bandos de pistoleiros agindo a soldo de latifundiários e usineiros.

No dia 08 de dezembro, o camponês Elias Francisco Santos da Silva, dirigente da Liga dos Camponeses Pobres, foi assassinado a tiros por pistoleiros a mando do latifúndio da falida usina Utinga Leão, na zona rural de Messias/AL, município vizinho de Murici, onde ocorreu o despejo citado anteriormente.

Elias foi covardemente executado com disparos de espingarda calibre 12 no peito e no rosto e disparos de armas de outros calibres que deixaram marcas em todo o seu corpo.

Ele dirigia a ocupação em uma área pertencente a usina Utinga Leão, região conhecida popularmente como Lageiro. Outras partes do latifúndio também estão ocupadas por camponeses organizados por outros movimentos.

A LCP e outros movimentos camponeses já vêm há muito denunciando a ação de pistoleiros travestidos de “vigilantes” da usina Utinga Leão, que já fizeram inúmeras provocações e ataques contra os acampamentos.

Elias foi sepultado por seus familiares e companheiros, que prestaram solene homenagem ao seu dirigente jurando prosseguir a sua luta pela conquista da terra e destruição do latifúndio.

Conflitos por terra se avolumam no Nordeste

De acordo com o último relatório de Conflitos no Campo no Brasil divulgado pela CPT, a região Nordeste do país concentrou 54% dos conflitos por terra no ano de 2010. O número se elevou dos 158, em 2009, para 194, em 2010.

Pará

Matança de camponeses no latifúndio Rio Cristalino

Com informações da Comissão Pastoral da Terra — CPT

De maio a outubro de 2010, quatro camponeses cujos nomes constariam numa “lista” de marcados para morrer, foram assassinados na área ainda não desapropriada do latifúndio Cristalino, localizado no sul do Pará, ocupado por cerca de 600 famílias desde 2008. A partir de 2009, muitas dessas famílias se desligaram da FETRAF e criaram a “Associação dos Pequenos e Médios Produtores Rurais dos Retiros 1 ao 15”.

Foram assassinados: Roberto Paim, morador do Retiro 5, pai de dois filhos menores, assassinado em 28 de maio, na estrada do Retiro 5; José Jacinto Gomes, conhecido como Zé Pretinho, posseiro do Retiro 7, encontrado morto na sua própria roça, em 26 de junho, com diversos hematomas no corpo; em 22 de outubro foi a vez de Givaldo Vieira Lopes, pai de 3 filhos menores, morto por dois tiros na estrada do Lote 04, quando estava andando sozinho, de motocicleta, teve o corpo muito machucado; por fim, Lourival Coimbra Gomes, também conhecido por “Baiano”, cujo corpo foi encontrado no dia 24 de outubro na sua própria casa, com a cabeça decepada, a qual não foi encontrada.

A ocupação do latifúndio foi organizada pela FETRAF, numa área não desapropriada de 50 mil hectares do latifúndio Rio Cristalino (antes propriedade da Volkswagen).

Xinguara-PA, 06 de dezembro de 2010.

Frei Henri Burin des Roziers
Advogado da Comissão Pastoral da Terra

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