Lutas de resistência em Puno fream transnacionais

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Lutas de resistência em Puno fream transnacionais

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Bloqueios: população de Puno contra a mineradora

No Peru, a desigualdade econômica e social tem uma geografia particular que faz com que a miséria se afinque principalmente — não exclusivamente — nas zonas alto andinas e amazônicas. Apesar dessa situação, não se cansam de repetir há anos a notícia de um crescimento econômico sustentado basicamente no volátil parâmetro do Produto Interno Bruto (PIB), a ponto de sustentarem que existe um suposto “milagre econômico”, historieta abonada também por alguns comentários lisonjeiros e fantasiosos do vice-presidente do USA em uma visita ao Peru no ano passado.

O certo é que a bonaça e a prosperidade não são coisas estranhas para pequenas elites na América Latina, nem tampouco as crises econômicas endêmicas para as grandes maiorias. De fato, nos últimos 5 séculos, mudaram dezenas de vezes as formas de governo, os sistemas de representação se sucederam um depois do outro, a tecnologia se incorporou à produção, mas jamais se abandou o sistema extrativista que se focaliza na produção de um número limitado de matérias-primas através da mineração e agora também o gás, dentro de um lógica de exploração da natureza eminentemente depredadora e exploradora.

De fato, a depredação dos ecossistemas pela extração dos recursos minerais — cujas jazidas se encontram nas regiões da serra e selva do Peru — assim como os corpos de camponeses lacerados pela água e o ar contaminados pelo extrativismo seguem beneficiando apenas pequenos grupos empresariais e burocratas da costa que trabalham em cumplicidade com transnacionais.

Este é o marco geral no qual hoje podemos compreender as lutas do povo em Cajamarca, Bagua, Moquegua e mais recentemente em Puno1. Neste último departamento (estado) desde maio a população ingressou em uma longa luta de resistência contra a contaminação da água por parte de uma companhia mineira transnacional que atuava monopolizando a água em detrimento do consumo de camponeses da zona tanto para fins domésticos como produtivos. Da mesma forma, contaminava impunemente os rios Ramis e Suches sob o amparo do Estado peruano.

Durante dois meses de luta intensa em Puno, o povo só recebeu forte repressão do Estado peruano, que consegue se fazer presente na região apenas para isso, reprimir, pois em geral os serviços de educação, saúde e de desenvolvimento não chegam ou chegam a conta-gotas ou simplesmente são de uma qualidade medíocre.

Como de costume, o legítimo protesto contra a deterioração dos rios foi reprimida deixando um saldo de seis mortos, dezenas de feridos e com uma criminalização aos dirigentes populares, como Walter Aduviri, sobre quem recaiu uma ordem de detenção, que pretendeu ser executada pela polícia enquanto o dirigente se encotrava prestando declarações em um conhecido canal de televisão. Esta ordem foi alterada para um simples comparecimento como consequência da tenaz luta do povo de Puno.

A ações do povo punenho durante dois meses foram caracterizadas pelo bloqueio permanente de estradas, que só foi levantado brevemente durante o segundo turno das eleições gerais no Peru, tomada de edifícios públicos nos quais opera a burocracia local e regional, assim como a queima de veículos. A potência do protesto popular tornou evidente a grande capacidade organizativa de dirigentes e massas em Puno. Inclusive assombrou os representantes do Estado, que através do monopólio dos meios de comunicação lançaram a falácia de que tanto os dirigentes como as massas estavam sendo ensinadas por organizaões populares da Bolívia.

Os conflitos socio-ambientais, em grande parte ocasionados pela ação extrativista de transnacionais com o respaldo do Estado peruano, se converteram nos últimos anos no motivo mais usual para a detonação do protesto popular. Sem dúvida, claro sintoma de que a suposta prosperidade econômica peruana está baseada em uma feroz arremetida contra a água, o ar, a terra das regiões andinas e amazônicas em detrimento de suas populações, principalmente camponeses e indígenas.

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1 Departamento (estado) do Peru localizado na zona sudeste do país, na região limítrofe com o Altiplano Boliviano, com alturas que oscilam entre 3 mil e 4 mil metros acima do nível do mar.

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