Máfia tenta salvar capitalismo criminoso

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Máfia tenta salvar capitalismo criminoso

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Nestes tempos de falta de crédito, muitas vezes são os chefões da economia marginal que estão segurando as pontas do mundo financeiro legal. Os expoentes das classes dominantes que reluzem nos cadernos de economia vêm fechando acordos de empréstimos e outras transações menos ortodoxas com os párias que figuram nas páginas menos nobres dos jornalões do monopólio. Elas buscam sanar seus problemas de caixa; eles querem basicamente lavar dinheiro, mas também visam tirar proveito da crise capitalista para entrar no mundo dos negócios tidos como de bem à luz da legalidade vigente, ainda que ilegítimos sob a ótica dos interesses do povo.

É o que revelam investigações conduzidas em vários países e estudiosos que se debruçam sobre as operações de organizações criminosas dos cinco continentes. Assim vão se extinguindo as diferenças entre o dinheiro sujo e o dinheiro de cara limpa, sendo que, em se tratando das grandes fortunas levantadas com o tráfico de drogas e do grande capital acumulado às custas do suor do povo e da financeirização do mundo, já não havia mesmo muita diferença.

Sem querer, e por vias tortas, agiotas e mafiosos de toda estirpe prestam um serviço à verdade dos fatos, mostrando que a rotina de banqueiros e demais financistas é a das atividades clássicas de um bom gângster: emprestar dinheiro a juros altos e penalizar os inadimplentes com as mais variadas sanções e intimidações. O limite para esta nova tendência é a redução da distância entre ficar com o nome sujo na praça e ter um dedo arrancado à chave inglesa por capangas/cobradores implacáveis.

Na Itália, os mafiosos vêm se valendo da agonia do capital para abocanhar empresas que na maioria das vezes não ficam devendo nada aos seus métodos peculiares de tocar os negócios, que atuam em ramos dominados pela sujeira altamente lucrativa, e apesar disso figuram com empáfia nos balanços da economia formal, como é o caso das companhias do setor de construção civil.

São os gângsters assumidos querendo posar de homens de bem, de fino trato e de negócios respeitáveis, tal e qual os seus colegas que, em vez de participarem de reuniões clandestinas regadas a presentes caros, charutos, vinhos e molho de tomate, costumam frequentar badaladas cúpulas comerciais onde abundam os conchavos do alto colarinho branco.

Tudo no melhor estilo Poderoso Chefão, como na cena do terceiro filme da trilogia de Francis Ford Copolla onde o poderoso gângster Michael é encostado na parede pelos outros chefes mafiosos, que reivindicam participação nos negócios da família Corleone recém-legalizados por meio da compra de ações de empresas imobiliárias — não sem a mãozinha da igreja católica, que facilita tudo em troca de uma generosa doação para o Vaticano.

No final de abril chamou a atenção a notícia de que a máfia italiana vem estreitando laços com cartéis mexicanos de drogas a fim de aumentar o fornecimento de cocaína para a Europa. Os carregamentos passam por Dallas, no Texas, um conhecido entreposto do tráfico internacional de narcóticos. Pois já se descobriu que os traficantes de Dallas andam mancomunados com consultores financeiros e corretores de fundos públicos em casos de operações fraudulentas no mercado ianque de ações.

Como o crime deflagrou a crise

A instabilidade gerada pela financeirização do mundo — o que está na origem da insegurança objetiva e subjetiva disseminada por todos os aspectos da existência humana, do medo de perder o emprego ao medo de sair às ruas — e o profundo grau de endividamento dos países ricos obrigam os chefes do imperialismo a realizarem intervenções periódicas em seus bancos e demais instituições especializadas em atividades econômicas tão antiéticas quanto perfeitamente legalizadas.

Legais? Nem tanto. Os pacotes de ajuda que agora voltaram à agenda capitalista escondem todo um processo de acumulação de dívidas pelas empresas socorridas que constituem trapaça econômica, mesmo sob as vistas grossas do aparato regulatório liberal. O que vem sendo referido como "crise das hipotecas", tido como fator deflagrador da atual crise capitalista, deveria ser chamado pelo seu verdadeiro nome: fraude dos empréstimos. Trata-se de uma falcatrua recorrente, mas que agora assumiu enormes proporções.

Pelas regras do mercado financeiro, um banco pode, digamos, equivocar-se em até determinada porcentagem das suas operações envolvendo empréstimos. Ou seja: há uma espécie de margem de erro para as apostas na roleta imoral do mercado de capitais. Uma vez ultrapassada esta margem, configura-se o crime de gestão fraudulenta, ou temerária, como preferem os afeitos a eufemismos. Acontece que os banqueiros se valem de toda uma rede de tráfico de influência, empréstimos mascarados e avaliações superestimadas de créditos podres por parte das agências de classificação de risco para burlar a norma. O objetivo é a multiplicação fácil do capital bancário pela via das operações financeiras de alto risco. Milhares delas.

Tudo é feito com a participação ativa ou passiva de órgãos públicos e entidades privadas do sistema financeiro a nível local ou global, e sob a certeza de que, em caso de bancarrota, o milagre salvador chegará na forma de dinheiro do povo entregue de bandeja para os grandes capitalistas.

É exatamente isso o que está acontecendo agora. A banca internacional cresceu o olho sobre a bolha especulativa que se formava em torno do mercado de habitação do USA, apostou bilhões de dólares nos chamados "títulos tóxicos" atrelados às hipotecas, e quando deu com os burros n’água os seus representantes nas gerências dos Estados burgueses trataram de garantir-lhes as costas quentes. Como? Usando a riqueza produzida com o suor do povo trabalhador. Um esquema mafioso, que funciona à revelia do emaranhado normativo burguês onde ele é apenas pontualmente restritivo à livre ação predatória do poder econômico, o que não chega a comprometer sua função de facilitador do livre trânsito de capitais dos tipos financeiro e monopolista.

Até quando as elites corruptas continuarão a jogar botes salva-vidas aos piratas das finanças? Até as massas se levantarem e impedi-las, destruindo as bases do capitalismo criminoso que administram com criminosa desfaçatez, colocando a riqueza produzida pelos trabalhadores a serviço dos trabalhadores, e não mais dos criminosos, sejam eles marginais ou oficiais.

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