Mais de 1000 desabrigados lutam em Osasco

Mais de 1000 desabrigados lutam em Osasco

Desde o final de julho, mais de 1000 desabrigados estão lutando para garantir uma área ocupada na Grande São Paulo, na região sul de Osasco, no Jardim Umuarama. Esse contingente representa uma pequena parte de milhões de famílias que em todo o país lutam pelo direito à moradia.

Logo que as famílias entraram na área, começaram as pressões, e a juíza da 3.ª vara cível concedeu liminar favorável à desocupação, ação movida pela Companhia Industrial e Agrícola Grama, que alega ser proprietária da área. No pedido, a Companhia anexou um projeto habitacional que nunca foi realizado e há muito tinha o prazo de conclusão da obra vencido.

Baseado nessa liminar o poder público se mobilizou sem presteza e sem demora – não para providenciar moradia para as famílias – mas para fazer valer a decisão da justiça, sequer considerando que alí habitam crianças, idosos e gestantes.

Operação de guerra

Na sexta feira, dia 2 de agosto, a Polícia Militar montou uma operação de guerra para a retirada das famílias. Mais de 500 soldados da tropa de choque e do policiamento da cidade foram mobilizados, corpo de bombeiros, ambulâncias, cavalaria e um grande número de viaturas.

Horas de muita tensão marcaram principalmente a disposição de grande parte das famílias em resistir à ação da polícia. Foram construidas barricadas, com todos os materiais disponíveis, enquanto grande número dos trabalhadores se concentrava nos principais acessos da área, armados de paus, facões e pedras.

A desempregada Maria S. Braga, declarava: “se a polícia invadir, tem muito companheiro que quer partir pra cima”. Ananias Pereira, que antes de entrar na área era morador de uma favela próxima, defendia o direito de tomar a terra: “a gente tá aqui porque precisa!”.

O deputado federal Luiz Eduardo Greenhalg (PT) apresentou-se imediatamente para intermediar junto à Polícia Militar uma saída negociada. Diante de uma tropa policial armada até os dentes, disposta a reprimir as centenas de famílias ali presentes, o deputado procurou demonstrar toda a sua solicitude e preocupação cívica, se empenhando em contribuir para uma saída que preserve as bases do poder burguês latifundiário, que se assenta na repressão ao movimento popular, declarando solenemente que “a Polícia Militar é a única instituição que está tratando essas pessoas com sensibilidade e equilíbrio, disposta a negociar e achar uma saída”.

Nas conversas com o comando da tropa, o deputado usava insistentemente o argumento que, na verdade, ocupa a cabeça dos defensores das “instituições democráticas”, adeptos ardorosos do processo eleitoral: “O senhor deve se lembrar que este é um ano eleitoral, que estamos a três meses da eleição”. E por mais que, voltando à condição de “candidato popular”, declarasse: “As pessoas estão sendo tratadas como gado”, dizia isso em relação aos seus adversários eleitorais da Prefeitura e não à condição daquele momento, ou seja, que o povo estava sim, prestes a se transformar em gado na porta do matadouro, diante do aparato montado pela Polícia Militar de São Paulo, cuja historia de “equilíbrio e sensibilidade”, é tão conhecida da população pobre do estado.

Povo reagiu e venceu

Por volta das 13 horas, foi anunciada a derrubada da liminar que autorizava a desocupação, através de um “Agravo de Instrumento” movido pelos advogados das famílias e do MTST. Essa vitória, no entanto, havia sido parcial, adiando por uns dias uma nova decisão da Justiça sobre a “comprovação de posse” do terreno. A disposição de defender, custe o que custar, a sua moradia, ficou demonstrada mais uma vez pelas pessoas do povo, cansadas de esperar o atendimento dos seus mínimos direitos.

Segundo outro participante da luta, que não quis se identificar, operário metalúrgico desempregado: “A Justiça deveria julgar em primeiro lugar, o direito de todas essas famílias de ter onde morar, mas o que acontece é o contrario”.

Até a data em que fizemos essa matéria, as famílias se preparavam e se organizavam para enfrentar as novas dificuldades que surgiriam, mas com a clara disposição de defender seus direitos. Como o mesmo operário afirmava: “Nós só conseguiremos defender nossos direitos é… com luta”.

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