Mais números da devastação capitalista na China

Mais números da devastação capitalista na China

A situação das classes trabalhadoras na China se agrava à medida que a grande burguesia local e os monopólios internacionais acirram ainda mais a superexploração imposta ao proletariado para, em tempos de aprofundamento da crise geral do capitalismo, tentar manter seu status de “fábrica do mundo”.


Operárias protestam na fábrica Hi-P após demissão de 650 trabalhadores

Como o povo sabe muito bem, é da natureza dos seus inimigos de classe tentar manejar as massas para atender às conjunturas do mercado. Na China atual — a China administrada por fascistas que se apoderaram daquele que um dia, sob a liderança do presidente Mao Tsetung, já foi de fato um Partido Comunista de vanguarda —, como em outras nações ditas “emergentes”, esta premissa capitalista aliada à conjuntura do agravamento da crise vem aprofundando dramaticamente as contradições entre a cidade e o campo. Os números sobre o campo chinês estão aí para comprovar: somente na última década, segundo o próprio governo chinês, entre 100 e 150 milhões de pessoas deixaram o campo em direção às cidades.

O senso chinês de 2006 constatou que 36,1% da população vivia nas cidades. No ano passado, o percentual calculado pelo senso foi de 49,9%. E não para por aí. Com o aumento de sua população, as cidades tiveram que crescer e, com isso, 6,47 milhões de hectares do campo foram engolidos pela acelerada expansão urbana.

Além disso, os camponeses que, todos os dias, deixam suas vilas para buscar uma oportunidade nas cidades são tratados como “cidadões de 2ª classe”, como disse em 2006, o então primeiro ministro chinês, Wen Jiabao. Muitos desses camponeses vivem nas cidades sem acesso às escolas e à moradias dignas. Nas fábricas, além do difícil acesso aos postos de trabalho, muitos desses camponeses migrantes são tratados como escravos. Segundo pesquisa realizada pela Universidade de Chongqing, um operário migrante chinês ganha, em média, mil yuan — ou 270 reais — por ano.

A destruição da economia familiar rural por uma administração fascista incumbida de garantir exército de reserva para o grande capital industrial resultará na migração de nada menos do que 300 milhões de pessoas do campo para a cidade na China nos próximos 30 anos, segundo estimativa de um órgão oficial do país de nome risível: Comissão Nacional de Planejamento Populacional e Familiar.

Indústria capitalista produz ‘vilas de câncer’

Ainda no início da década de 2000, estudos revelaram a existência de 459 “vilas de câncer” na China. Tratam-se de pequenos vilarejos localizados nas proximidades de zonas fabris de superexploração de trabalhadores e do meio ambiente, onde a terra e a água são envenenadas, bem como as relações humanas. Devido à intensa poluição lançada ao ar pela indústria capitalista, o câncer de pulmão é a doença que mais mata no país mais populoso do mundo. Hoje, dez anos mais tarde, estima-se que o número de “vilas de câncer” seja muito maior. Um relatório do Banco Mundial em cooperação com o governo chinês revelou que, em média, 750 mil pessoas morrem por ano na China por problemas pulmonares.

Quando os migrantes — os que conseguem emprego — não vão para as fábricas, vão para as perigosas e insalubres minas de carvão chinesas, que garantem a produção de 67% da energia do país. Responsável por 1/3 da produção mundial de carvão, as minas chinesas também são as que mais matam no mundo — 80% de todas as mortes em minas no planeta.

Mas nem por isso, nem mesmo diante de toda esta selvageria promovida pelo capital e por seus lacaios empoleirados em Pequim, nem assim toda essa massa deixa de honrar sua tradição de combatividade e luta contra a opressão.

No dia 14 de dezembro do ano passado, depois do assassinato de um líder político da província de Guangdong, vilarejo de Wukan, ao sul da china, camponeses se rebelaram em um combativo protesto que desafiou as forças de repressão chinesas. Xue Jinbo, de 42 anos, foi morto quando estava sob custódia da polícia sendo interrogado há dois dias, o que aumentou ainda mais a revolta dos camponeses. A polícia atacou a manifestação e foi respondida pelos trabalhadores com paus e pedras. Familiares de Jinbo disseram que seu corpo tinha sinais de tortura e rejeitaram a versão do governo chinês de que ele teve uma parada cardíaca durante um interrogatório. Os camponeses do vilarejo de Wukan denunciaram que autoridades do Estado capitalista chinês, aliadas às grandes indústrias, se apropriaram de centenas de hectares de terras da região de forma injusta e que Jinbo era uma das principais lideranças na luta contra os despejos forçados de agricultores na província de Guangdong.

Nas cidades, as péssimas condições de trabálho nas fábricas estão motivando cada vez mais greves por toda a China. Somente em dezembro último, cinco indústrias chinesas — nas províncias Anji Zhejiang, Shenzhen, Haikou Hainan, Guangxi e Xangai — tiveram suas atividades paralisadas depois que operários cruzaram os braços. Entre as categorias que entraram em greve no último mês, estavam motoristas de ônibus, operários das indústrias de informática, de eletrônicos e de móveis de madeira.

Na fábrica Hi-P International factory, no suburbio de Xangai, operários entraram em greve após a demissão de 650 trabalhadores. Como a maioria dos demitidos era mulheres, as operárias da Hi-P fizeram um protesto no dia 7 de dezmbro que bloqueou as entradas da indústria — responsável pela fabricação de produtos para as megaempresas Apple e BlackBerry.

No dia 9 de dezembro, trabalhadores da fábrica de móveis de bambu e madeira Anji, na província oriental de Zhejiang, em Xangai, fizeram um protesto exigindo o pagamento de salários que ficaram pendentes após a falência da empresa. A polícia atacou a manifestação com bombas de gás deixando 39 operários feridos.

Mesmo com o direito à greve, consagrado por Mao Tsetung, reduzido a algo para inglês ver pelos dirigentes fascistas chineses que se apresentam como “comunistas”, o proletariado do país, formado em grande parte por migrantes, não se furta à luta contra os industriais sanguessugas, sejam os locais, sejam os estrangeiros.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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