Marighella contado em monólogo

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Marighella contado em monólogo

Nascido em Santa Catarina e residindo em Caicó, na região de Seridó/RN, o grupo teatral Vermelho Núcleo Cênico apresenta pelo país o espetáculo Carlos Marighella e o Chamado de Cangoma, trazendo a público os ideais de um dos maiores revolucionários brasileiros. O espetáculo mostra a pessoa Marighella, seu gosto pela poesia, música e pela liberdade. Sua luta contra o regime militar e a favor da emancipação do povo, tornando-se um dos heróis da história brasileira, mas desconhecido em muitas escolas e universidades.

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— Nós, os integrantes do Vermelho Núcleo Cênico, temos uma relação antiga com o teatro. Participamos de vários grupos teatrais, principalmente do ‘Acontecendo Por Aí’, de Santa Catarina, em atividade, do qual fizemos parte por doze anos. Fui diretor de lá e trabalhei todos esses anos com o mesmo elenco. Mas chegou um momento que decidimos que estava na hora de cada um seguir um caminho próprio, isso em 2006, e então nasceu o Vermelho — conta Lourival Andrade, diretor do grupo.

— Somos até agora em três integrantes, todos saídos do ‘Acontecendo Por Aí’, e temos como proposta fundamental montar espetáculos de autores nacionais ou não, dependendo do caso, que tenham um apelo político muito claro, defendendo ideias políticas de transformação relacionada aos trabalhadores — explica.

— O primeiro espetáculo do grupo, em cartaz há três anos, é um monólogo sobre Carlos Marighella.

O espetáculo passa-se em várias épocas, intercalando episódios vividos por Marighella, mostrando para o público a dimensão de suas atitudes, seu espírito revolucionário, e sua luta incansável pela libertação dos trabalhadores — continua Lourival, que representa o revolucionário brasileiro no monólogo.

Para realizar esse trabalho, o Vermelho Núcleo Cênico entrevistou vários integrantes da ALN — Ação Libertadora Nacional, e pessoas de todo tipo ligadas a ele, incluindo Clara Charf, sua companheira.

— Visitamos as antigas sedes do Dops, em São Paulo, e do presídio de Ilha Grande, no Rio de Janeiro, locais em que Marighella esteve preso, e a Alameda Casa Branca, em São Paulo, onde foi brutalmente assassinado pelas forças repressivas do regime militar — relata.

Lourival diz que a pesquisa para a realização do espetáculo continua acontecendo a cada apresentação.

— Acredito que a pesquisa teatral nunca acaba, quer dizer, um espetáculo nunca está pronto, ele continua sempre em processo. Se considerarmos que um espetáculo está acabado completamente, ele deixa de ser teatro e passa a ser uma peça visual apenas, mas teatro é processo — expõe.

— Ao longo desses três anos acrescentamos elementos vindos de pessoas que conviveram com Marighella, e que não havíamos tido condição de entrevistar no momento da montagem. Tiveram algumas coisas que foram excluídas também, a partir de debates com essas pessoas e com outras que conheceram bem a situação política do período. Cada vez que conversamos com alguém que tem elementos para contribuir, ficamos atentos em ouvir — afirma.

No final de cada apresentação o Vermelho Núcleo Cênico promove um debate com o povo.

— Isso é independente de onde estivermos: se festival, universidade, ou qualquer comunidade. As contribuições desses debates são extremamente importantes para a nossa reflexão, e para a reflexão do próprio espetáculo. Na verdade o debate é mais um momento do espetáculo, faz parte — diz Lourival.

— Acredito que o motivo de estarmos todo esse tempo em cartaz com essa peça é principalmente por uma temática bastante instigante. Ela leva a uma reflexão política sobre o Marighella, esse personagem real tão interessante. Além disso, é um espetáculo que tem um apelo teatral muito forte — fala.

Ao longo desses três anos o Vermelho já circulou pelas regiões Sul e Centro-Oeste, segundo Lourival, se apresentando nas mais variadas comunidades.

— Na verdade, na ocasião da primeira montagem nós tínhamos uma intenção muito específica que era apresentá-lo principalmente em universidades onde tivesse curso de história. Isso porque, além de ator, sou historiador, e passei boa parte da minha vida acadêmica, tanto graduação como mestrado e o doutorado, sem ouvir falar do Marighella. Não se trabalhava com esse personagem na universidade — explica.

— Por conta disso resolvi: ‘quero levar o assunto para as universidades e discutir com os alunos de história. Basicamente visualizar esse personagem e trazer para um debate’. Mas em pouco tempo começaram outros grupos de pessoas interessadas no espetáculo, principalmente sindicatos de trabalhadores e movimentos diversos — conta.

— Ganhamos mais campo do que planejamos, contudo, como historiador continuo trabalhando para levar o espetáculo até  os alunos que estudam história e promover um debate sobre Marighella, avivando esse período tão importante da nossa história brasileira, ignorado nos livros e nas aulas de histórias do nosso país. Ele foi varrido da história do Brasil — constata.

Lourival Andrade é formado em História pela UNI-Vale, em Itajaí, SC. Tem mestrado em História Cultural, pela Universidade Federal de Santa Catarina, e doutorado em Sociedade pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente atua como professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Caicó, no semiárido potiguar.

— Somos catarinenses. Viemos para cá porque passei no concurso da UFRN. Por enquanto ainda não temos a estrutura que tínhamos em Santa Catarina, como uma sede e outras coisas mais, porque desde que mudamos, obviamente que a estrutura ficou lá. Mas estamos gostando do novo lugar e já pensando em projetos para os próximos anos — conta.

— Um que já estou namorando há bastante tempo é o espetáculo Essa propriedade está condenada, do Tennesse Williams. Quero transportar a realidade que ele apresenta, de problemas de terra e trabalhadores explorados, para o Brasil, exatamente para cá, a região de Seridó — finaliza Lourival.

Para entrar em contato com o Vermelho Núcleo Cênico: [email protected] ou pelos telefones (84) 9635-9644/3417-3659

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