Em uma verdadeira expedição punitiva contra os moradores, travestida como operação contra o “tráfico de drogas”, mais de 100 policiais mataram pelo menos 30 pessoas na operação que teve início às 3h da madrugada de 24 de maio. Militares reacionários da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PM-RJ) levaram terror aos moradores da Penha.
Banco de dados AND
Terrorismo de Estado praticado impunemente
Amigos e familiares das vítimas foram espancados, amarrados e torturados pelos militares. Mototaxistas tiveram suas motos destruídas por veículo blindado (caveirão) e seus pertences roubados. No hospital, onde os familiares recebiam os corpos, a polícia abriu fogo contra os moradores.
O saldo da operação assassina de Cláudio Castro (PL) e Jair Bolsonaro foi de 25 mortos e 6 feridos. Muitos tinham marcas de tortura, com esfaqueamentos, braços e pernas amarrados, além de cabeças dilaceradas por golpes de faca e tiros de fuzil.
A equipe de reportagem do AND esteve presente na favela e realizou a apuração dos fatos e a cobertura dos protestos dos moradores ao longo do dia.
Terrorismo de Estado
Logo nas primeiras horas do dia 24/05, nos primeiros momentos da operação, a cabeleireira Gabrielle Ferreira da Cunha (41 anos) foi atingida por um disparo e morreu na porta de sua casa. Moradores foram acordados pelos tiros e tiveram que se abrigar em becos e debaixo de suas camas. Durante o dia, 19 escolas municipais não funcionaram e cinco Clínicas da Família foram fechadas.
Após o intenso tiroteio da madrugada, os familiares das vítimas e demais moradores se mobilizaram desde o início da manhã, indo até o alto do morro para garantir que os corpos fossem retirados das matas. Ao fazê-lo, perceberam que muitos foram assassinados a sangue frio pelos agentes, indo contra a versão de que houve um enorme confronto entre bandidos e policiais.
Os moradores foram interceptados por policiais que estavam no alto do morro e que passaram a perseguir as motocicletas com veículos blindados (camburão). Os moradores foram obrigados a se jogar no chão e deixar as motos, que ficaram destruídas pelo choque. Em seguida, os policiais torturaram os moradores (mototaxistas e familiares, entre eles uma mulher grávida) amarrando seus braços, arrastando seus rostos na terra e jogando spray de pimenta neles.
Protestos e revolta
Muitos mototaxistas e moradores se reuniram em um supermercado na entrada da Vila Cruzeiro, local da chacina, para protestar contra a matança. Mais de 200 motocicletas saíram em passeata até o alto do morro, no objetivo de ajudar na identificação dos mortos e carregá-los até o Hospital Getúlio Vargas, onde durante toda a tarde e noite de 24/05 não pararam de chegar corpos amontoados em caminhonetes dos próprios moradores. No alto do morro, muitos se amontoaram para procurar corpos entre poças de sangue, carros e motocicletas destruídos e abandonados pela estrada de terra.
Reunidos, os moradores dividiam-se entre os diferentes pontos da mata e iam em grupos para recolher os mortos. Deste modo, identificaram o local exato onde os policiais do Bope e da PRF passaram a noite, que estava marcado por cobertores e mantas utilizados pelos policiais, garrafas de suco e alimentos, além de muitas cápsulas de munição deflagradas.
Denúncia da macabra chacina
Moradores denunciaram que entre os mortos estava um rapaz que foi torturado até a morte pelos policiais, que o obrigaram a comer pó de cocaína até morrer de overdose. Outros mortos também foram barbaramente torturados, levados até um ponto alto da estrada de terra e, do alto de uma pedra, foram jogados vivos pelos policiais.
“Nós, moradores da Penha só queremos paz, justiça. Eles vêm, matam, e não carregam o corpo. É sempre o morador que tem que carregar”, disse uma moradora em entrevista ao AND. “Passaram com o blindado em cima da minha moto. Na covardia. E agora? Como eu vou pagar? Ainda pago a prestação da minha moto. Tem uma menina que eles amassaram a cara da garota na terra”, denunciou um trabalhador à reportagem.
Os crimes de guerra dos militares prosseguiram até mesmo no momento fúnebre. Os agentes da PRF, Bope e da Tropa de Choque tentaram intimidar as famílias que recebiam os corpos em frente ao Hospital Getúlio Vargas, ameaçando atacá-las e debochando. As massas não se intimidaram e entoaram combativas consignas Chega de chacina! Polícia assassina!
Quando parte dos moradores retornava à Vila Cruzeiro, próximo ao local em que Gabrielle foi morta, novo crime de guerra das forças de repressão: os militares abriram fogo, simplesmente para punir a massa por ali residirem. Disparos de fuzis e bombas de “efeito moral” foram utilizados pelos criminosos contra os moradores. As massas, no entanto, não se intimidaram e lançaram seus gritos de protestos.
Castro e Bolsonaro: assassinos e terroristas
No total de um ano, a PM de Cláudio Castro, atual governador do RJ, realizou 39 chacinas, totalizando 180 mortes. O Massacre da Penha se assemelha ao Massacre do Jacarezinho, ocorrido em maio de 2021, com 28 jovens pretos mortos. No Jacarezinho, naquela ocasião, a polícia também procedeu a uma furiosa chacina, com pessoas sendo assassinadas quando já estavam desarmadas e totalmente entregues aos militares.
As forças militares do RJ são responsáveis por 84% dos assassinatos no estado. Somente neste ano, foram mais de 80 mortes. Os dados são do Grupo de Estudo dos Novos Ilegalismos (Geni) e apontam para a continuidade do terrorismo de Estado contra o povo preto e pobre que mora nas favelas cariocas.
O presidente terrorista Jair Bolsonaro celebrou a chacina em suas redes sociais. A PRF, força militar que realizou a operação ao lado do Bope, foi beneficiada diretamente pelo genocida com aumento salarial de mais de 5%.
O genocídio do povo preto e pobre segue sendo praticado sem qualquer punição. Apoiados diretamente pelo governador assassino e terrorista do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, e pelo governo militar genocida de Bolsonaro e generais, tudo indica que a tradição terrorista do velho Estado para com seus próprios crimes de guerra vingará novamente, sem sequer investigar os militares, tanto menos condená-los.