Em tempo de copa, tentativa de reeleição e forte repressão policial nas ruas é fundamental discutir a lógica neoliberal que os governos petistas abraçaram. O governo Dilma e o PT em geral adotaram, sem grandes problemas ou questionamentos, o que Foucault chamou de “governo das populações”, ou seja, uma tecnologia do poder que entende como função do governo principalmente a gestão das liberdades por meio da intervenção social (e policial) necessária para garantir o livre fluxo do capital empresarial.
O neoliberalismo – entendido como técnica de governo e não apenas um conjunto de ideias – petista compreende dois lados, que são apenas aparentemente opostos: primeiro, as politicas sociais de inclusão e, segundo, a repressão violenta e antidemocrática da dissidência social (nas ruas e nas periferias). Ou seja: inclui no mercado, oprime nas ruas. Será que, hoje, os governos petistas não estão realizando o programa neoliberal e meritocrático que a velha (e horripilante) direita, em sua ganância de coronel, não soube realizar?
Assumindo o risco de ser fuzilado sob olhos petistas (embora já tenha sido atingido nas ruas mais de uma vez desde junho), fico com a sensação de que é fundamental sugerir que Dilma é, hoje, um grande achado neoliberal.
A copa e seu gigantesco aparato militar são, aliás, excelente demonstração disso: um Estado que move suas forças repressoras em massa contra a dissidência e em favor do lucro empresarial (e, portanto, político). Quem não vê a cada vez mais explícita mescla de nacionalismo futebolístico e lucro empresarial, ou, talvez, a corrosão do primeiro pelo segundo?
Se essa hipótese for correta, penso que uma das lutas mais importantes para a próxima eleição não será simplesmente mostrar que ela é uma farsa uma vez que não existem diferenças significativas entre os candidatos, pois essas diferenças, em certo sentido, existem sim – por exemplo, para aquele que foi contemplado por uma bolsa ou por uma vaga de estudo. Precisamos lutar na e contra a luta (re)eleitoral, expor o fascismo e o silêncio a que veem se entregando os militantes e os apoiadores de Dilma em nome de sua reeleição, em nome do medo “do retorno da direita”.
Na hora H, no dia D, os eleitores de Dilma vão, realmente, silenciar-se sobre o desejo de democracia que emergiu nas ruas em nome do “medo da volta da direita”, em nome da garantia do trono? Ou ainda, se a questão é medo, não temem o que será do estado de exceção atual, ao ser apoiado tão incondicionalmente por parte significativa da sociedade? Ou não se importam?
A luta não começa depois, começa agora (e já é tarde)!
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Notas:
*Por favor, não atire em mim!
**Davis M. Alvim. Professor Dr. do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) e Ativista.