O descrédito, por parte da população, das eleições presidenciais na Argentina apontou para uma crise na chamada democracia daquele país. Depois de mais um longo período sofrendo os efeitos da crise que se agravou em 2001, durante o governo de Fernando de la Rua, a população, que ainda acreditava nas eleições, queria mudanças, mas deparou-se com as mesmas e surradas caras de sempre, que não se preocuparam nem mesmo em vestir novas fantasias.
O número de candidatos, mais de 20, foi o maior de todos os tempos. Novidade mesmo, somente a fragmentação da esquerda eleitoreira argentina, que decidiu, ao invés de se candidatar em um bloco único, lançar candidatos "independentes" ao governo do país, o que não chegou a ameaçar a velha oligarquia que se mantém no poder há várias décadas.
O Partido Justicialista (peronista) lançou, por sua vez, dois candidatos aparentemente concorrentes: o ex-presidente Carlos Menem – que esteve recentemente preso por envolvimento com tráfico internacional de armas – e o ex-governador da província de Santa Cruz (região da Patagônia), Nestor Kirchner.
Apenas alguns dias do primeiro turno da eleição, as pesquisas não apontavam com certeza nem sequer quem iria disputar o segundo turno.
Abertas as urnas, apurou-se um grande número de votos brancos e nulos, além das abstenções verificadas nas seções eleitorais. Os dois primeiros foram Menem, com 24,45% dos votos, seguido por Kirchner, com 22,24%. O segundo turno, disputado em 18 de maio, decidiria qual dos dois peronistas governaria o país que mergulhou 60% da população na pobreza, além do altíssimo índice de 25% de desemprego.
Apesar de ter conseguido a maior votação no primeiro turno, Menem sofria uma grande rejeição, que apontava uma vitória de Kirchner com mais de 70% dos votos no segundo turno. Num ato teatral, Menem (que, assim como FHC, no Brasil, aplicou o mesmo programa ditado pelo FMI à Argentina, que incluiu a dolarização da economia e as privatizações de empresas públicas) renuncia à candidatura, deixando a Kirchner a faixa presidencial e a ilegitimidade de ter sido eleito com apenas 22,24 % dos votos.