Fotos de herois do povo foram exibidas na manifestação.
No fim da tarde de 22 de outubro, ativistas da Frente Independente pela Memória Verdade e Justiça de Minas Gerais — FIMVJ-MG, membros de diversos movimentos populares de Belo Horizonte e região, ex-presos políticos, familiares e amigos de mortos e desaparecidos durante o regime militar, realizaram um combativo protesto diante do Círculo Militar de Belo Horizonte.
Organizações de militares da reserva e da ativa pretendiam homenagear o Tenente-coronel Lício Augusto Ribeiro Maciel com uma “palestra e debate” com objetivo de escarnecer da memória dos heroicos guerrilheiros do Araguaia militantes do Partido Comunista do Brasil, dos militantes e ex-presos políticos, dos familiares dos perseguidos, torturados, mortos e desaparecidos políticos.
Assassino confesso
— Este coronel também esteve na região do Araguaia, vestido à paisana e se apresentando ora como engenheiro da Embratel, ora como policial federal, sob o codinome de Dr. Asdrúbal e servindo no Escalão Avançado, em Brasília, como oficial adjunto do Centro de Informações do Exército. É um assassino confesso de pelo menos cinco guerrilheiros no Araguaia: André Grabois, o ‘Zé Carlos’, comandante do Destacamento A e filho de Maurício Grabois; o estudante João Gualberto Calatroni, o ‘Zebão’; o estudante Divino Ferreira de Souza, o ‘Nunes’, que foi ferido, feito prisioneiro e posteriormente morto e desaparecido; e o camponês Antônio Alfredo Lima. Posteriormente, a guerrilheira Maria Lúcia de Souza, a ‘Sônia’, que mesmo ferida atirou no coronel Lício e no major Curió e em seguida foi executada, sendo também desaparecida” — afirmou Criméia Schmidt, também combatente do Araguaia e à época companheira de André Grabois, em nota enviada ao Instituto Helena Greco de Direitos Humanos — IHG e à Frente Independente pela Memória, Verdade e Justiça.
Em nota de protesto, o Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro destacou que: “em março de 2012, o Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra Sebastião Curió, e logo em julho de 2012 contra Lício Maciel, sendo estas acatadas pela juíza federal Nair Pimenta de Castro. Concretizando um marco histórico pela realização de justiça no país. Desta forma, o tenente-coronel responde ao processo criminal pelos crimes de: tortura, homicídio, desaparecimentos forçado e ocultamento de cadáveres. Por conta da referida ação, o militar nega-se a receber as intimações de comparecimento perante a Justiça de Marabá/PA”.
Os familiares de Maria Lucia Petit, Lucio Petit e Jaime Petit, também desaparecidos no Araguaia, enviaram saudações ao IHG e a FIMVJ-MG apoiando a manifestação.
“Não passará”
Entre as 18h e 20h30min, os ativistas, portando estandartes com as fotos dos guerrilheiros do Araguaia, exigiam punição para os militares e civis mandantes e executores de torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados do regime militar.
Os poucos militares oficiais da reserva que compareceram à palestra tiveram que passar por um corredor de manifestantes sob vaias e palavras de ordem.
Na chegada do coronel Lício, redobrou-se o tom das palavras de ordem e vários ativistas entraram no Círculo Militar seguindo-o, erguendo os cartazes com as fotos dos guerrilheiros, rechaçando sua presença.
“Vitória, vitória, tarda mas não falha, e viva a gloriosa Guerrilha do Araguaia”, gritaram os manifestantes.
Os nomes dos guerrilheiros foram lidos um a um por Heloisa Bizoca do IHG e, a cada nome, uma firme resposta em uníssono: PRESENTE NA LUTA!
Uma ativista do Movimento Feminino Popular (MFP) leu o nome dos presos políticos no Rio de Janeiro, encarcerados desde o protesto de 7 de outubro e denunciou os ataques de repressão e do judiciário em BH. Nomes de ativistas processados por crime de “formação de quadrilha” foram lidos e saudados pelos ativistas que gritaram: “Liberdade já para nossos companheiros!”.
No encerramento do ato, tinta vermelha foi lançada na calçada do Círculo Militar representando o sangue derramado pelos combatentes do Araguaia.