12 mil trabalhadores de uma mina de ouro entraram em greve
Menos de um mês depois da chacina de 34 mineiros de uma transnacional britânica na África do Sul, crime que aconteceu no último dia 16 de agosto, o país voltou a ser palco de ações radicalizadas por parte dos operários da extração mineral. No dia 5 de setembro, cerca de dois mil trabalhadores rebelados e armados com pedaços de pau ameaçaram queimar a mina de Marikana, onde aconteceu o massacre, e matar os gerentes da companhia proprietária da mina, a Lonmin.
A ameaça de atear fogo à mina teve como objetivo forçar a paralisação das atividades no local, uma vez que a retumbante greve dos mineiros resistiu à matança de dezenas de seus combativos protagonistas. Terceira maior produtora mundial de platina, a transnacional Lonmin vem, desde a chacina, se esmerando na mais barata demagogia a fim de tentar eximir-se da culpa por açular a polícia contra seus funcionários. A mais recente patuscada foi o anúncio de que a empresa vai financiar a educação de todos os filhos dos funcionários que foram mortos – mortos justamente no momento em que se mobilizavam para exigir melhores condições para sustentarem suas famílias.
A “justiça” da África do Sul chegou a indiciar 270 trabalhadores da mina de Marikana pela morte dos seus próprios companheiros, mas teve que voltar atrás na infâmia depois que a notícia causou profunda indignação entre o povo sul-africano.
No início de setembro nada menos do que 12 mil trabalhadores de uma mina de ouro explorada pelo grupo Gold Fields iniciaram uma gigantesca greve que prontamente foi declarada “ilegal” pela “justiça” sul-africana, que, como os judiciários de várias partes do mundo, costuma pavimentar com sentenças o caminho para sangrentas repressões.
Na Espanha, a combatividade mineira voltou à cena principal da luta proletária menos de dois meses após a retumbante marcha de 19 dias que culminou com gigantescos protestos realizados em Madri com a solidariedade de classe de milhares de trabalhadores urbanos da capital espanhola. No fim de agosto trabalhadores da empresa Unión Minera del Norte (Uminsa), que integra o maior grupo espanhol de mineração, o conglomerado Victorino Alonso, iniciaram uma greve contra cortes de direitos e agravamento dos regimes de exploração no setor.
Protesto radicalizado também na Itália
Como reza a cartilha da direita, os patrões da Unión Minera del Norte logo desencadearam uma campanha de contra-informação calcada em mentiras e no divisionismo, e contando com os sempre prestimosos serviços do monopólio da imprensa, dizendo em nota divulgada no dia 5 de setembro que “um grupo minoritário de apenas 200 mineiros” estavam impedindo o acesso à mina de Santa Cruz de mais de 600 operários “que querem trabalhar”.
E não foi só na Espanha que nas últimas semanas os trabalhadores mineiros insurgiram-se contra o agravamento da opressão patronal no contexto da crise geral do capitalismo, com reduções de salários e cortes de direitos requisitados junto às administrações dos Estados burgueses. Foi particularmente radicalizada a ação de um grupo de 120 trabalhadores da mina de Nuraxi Figus, na ilha da Sardenha, na Itália, que se entrincheiraram a 400 metros de profundidade em protesto contra a intenção da empresa Carbosulcis, que administra a mina, de encerrar as atividades no local.
Os manifestantes exigem a liberação de uma verba de 1,6 bilhão de euros (cerca de R$ 4,1 bilhões) destinada a fazer uma nova central elétrica de carvão integrada com Nuraxi Figus, o que impediria o fechamento da mina. O projeto foi bloqueado pelo governo italiano no âmbito dos cortes de gastos exigidos pela União Europeia e pelo FMI. A “autoridade” de Roma escalada para comentar a demanda dos mineiros se limitou a dizer que o projeto “custa demais”.
A ação dos mineiros italianos teve seu momento mais dramático quando o trabalhador Stefano Melett, de 49 anos de idade, um dos entrincheirados da mina de Nuraxi Figus, sacou uma faca e cortou o próprio pulso diante dos abutres do monopólio da imprensa, durante uma entrevista coletiva, aos gritos de “querem que façamos isso para solucionar o problema?”, tendo sido impedido por seus companheiros de fazer mais cortes, que talvez fossem mortais.