1001 formas de desrespeitar o povo
Nos últimos anos empresa 1001 tem expandido sua atividade na região norte do Estado do Rio de Janeiro e uma leva enorme de trabalhadores viaja diariamente para cidades como Macaé e Campos, sem falar nas cidades de Cabo Frio, Rio das Ostras, Arraial do Cabo, Barra de São João, Araruama e Saquarema, que servem como cidade dormitório da industria do petróleo ou mesmo desenvolve um turismo crescente nas belas praias da região.
Sou funcionário da Petrobras e trabalho embarcado. Em minha viagem até Macaé ou Farol de São Tomé, em Campos, de onde partem os vôos para as Plataformas de Petróleo da Bacia de Campos, tenho sido vítima e testemunha das conseqüências desse monopólio absurdo dos transportes no Norte-Fluminense.
São inúmeros absurdos cometidos por esse Cartel:
1É necessário comprar passagens com ao menos umas 4 horas de antecedência, pois os lugares acabam no ônibus.
2O transporte alternativo está impedido de circular entre o Rio de Janeiro e Campos, ao menos. O governador proibiu as Vans que faziam os trechos Rio-Macaé, Rio-Cabo Frio, etc.
3Em frente aos guichês da 1001 se forma uma fila de dar inveja aos banqueiros em dia de pagamento. Em geral tem-se que esperar até 40 minutos em uma fila enorme para comprar uma passagem a preços exorbitantes.
4A maioria dos ônibus que vão para Macaé param em outras cidades (para que aproveitem os lugares ao máximo). De carro, para Macaé, são pouco mais de 2 horas de viagem, de ônibus demora-se muitas vezes 4 horas ou mais.
5Existe também a prática do Non-Stop (não fazer paradas) proibida pelo Decreto Lei 2521/1998, nos seus artigos 62 e 63 para trechos maiores que 4 horas, como acontece de fato no trecho Rio-Campos. Embora parem para que as pessoas embarquem em outras cidades, nem os passageiros, nem os motoristas saem do carro. Existem notícias, ainda, de escalas de trabalhos exorbitantes e exploração dos motoristas.
Tentativa de agressão na rodoviária
Em uma sexta-feira, 06/11, me deparei com mais uma fila enorme na rodoviária. Eram aproximadamente 14hs30m . Resolvi, ao entrar na fila, tirar umas fotos daquele absurdo a fim de denunciar. Tão logo tirei a primeira fotografia, um grupo de seguranças, não sei ao certo se da 1001 ou da própria rodoviária, me abordaram e afirmaram que eu estava proibido de tirar fotos da “empresa”. Afirmei que eu estava em meu direito e não podia ser impedido de utilizar o meu equipamento.
Foram me cercando, esconderam os crachás e outro me interpelou afirmando que eu deveria sair da fila imediatamente, me puxando pelo braço e afirmando que eu deveria ir a uma sala “conversar com eles”. Ao meu redor já estavam pelo menos 5 seguranças de maneira intimidadora, inclusive fazendo contato pelo rádio afirmando que havia um “elemento” criando problemas em frente ao guichê da 1001.
Um dos seguranças me empurrou e um outro segurou a minha câmera fotográfica com truculência chegando a deslocar a lente do equipamento. Segurei firme e não cedi. A população começou a gritar, alguns senhores vieram em minha defesa e os seguranças, com medo da população, foram obrigados a me soltar e soltar a câmera fotográfica.
Felizmente a população carioca é muito solidária e reage a esse tipo de agressão, muitas pessoas se solidarizaram comigo, vigiaram os movimentos dos seguranças e me protegeram até que eu pude comprar a passagem e embarcar para Cabo Frio. Devido a essa solidariedade, estes seguranças não puderam me agredir de fato e minha câmera somente teve a alça partida.
Essa é a democracia em que nós vivemos: democracia para os poderosos e pancada e ditadura em quem for trabalhador e pensar em discordar!
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*Felipe Deveza é mestre em História pela UFRJ e Petroleiro.