Depois de quase um mês do assassinato da jovem Ana Cristina Macedo, em Heliópolis, pela Guarda Civil Municipal de São Caetano do Sul, a reportagem de AND esteve no local conversando com moradores e pôde perceber a revolta e indignação da comunidade com relação ao Estado, seu braço armado e o monopólio de comunicação.
Segundo José João dos Santos, conhecido como Miltom, presidente da AOS — Associação Organizadora e Social Cidade do Sol de Heliópolis, o que foi veiculado pelo monopólio da comunicação foi, na maioria dos casos, um amontoado de inverdades que só serviram para criminalizar os moradores, relacionando-os ao tráfico de drogas e descaracterizando as justas rebeliões populares contra o Estado genocida e fascista.
De acordo com Miltom, a perícia realizada nas armas dos guardas da GCM constatou que o disparo que assassinou Ana Cristina foi mesmo do guarda civil Vicente Pereira Passos, que já havia sido expulso da PM de SP e, até o momento, nenhuma punição efetiva foi aplicada contra o assassino. Isso reforça ainda mais a convicção de que as forças de repressão tem salvo conduto para agredir e matar a população pobre das favelas e bairros periféricos sem que nada lhes aconteça.
Ainda circulou no monopólio da imprensa que teria ocorrido troca de tiros entre os guardas e "bandidos" que teriam roubado um carro em São Caetano e fugido para Heliópolis, fato refutado por Miltom, que mora próximo ao local do assassinato e contesta a versão policial, afirmando que os guardas chegaram atirando, mesmo com uma grande quantidade de moradores próximo ao local.
— Não houve troca de tiros na rua Cônego Xavier. Estão passando uma imagem falsa e isso causou a indignação do povo — disse Miltom.
Outro fator que indignou os moradores foi a notícia de que havia um bilhete "produzido pelo tráfico" convocando os moradores a se manifestarem em troca de uma suposta cesta básica.
— Isso jamais ocorreu. Eu não sei quem disse e nem de onde veio essa história de distribuição de cestas, ela não é verdadeira. Isso e inadmissível e uma inverdade — indignou.
Outros moradores que não quiseram se identificar afirmaram que já presenciaram vários casos de violência policial contra a comunidade.
Um deles já presenciou a polícia abordando jovens de forma truculenta, submetendo-os a afogamentos — relatou um dos moradores entrevistados que disse também ter visto, em outra situação, policiais da Forca Tática invadindo uma residência, calçando as luvas e em seguida ouviu disparos e logo policiais saindo com um corpo e colocando no camburão.
Durante a reportagem, os moradores de Heliópolis fizeram uma série de denúncias e protestaram veementemente contra a constante presença e violência policial. Todos disseram conviver diariamente com desmandos e represálias, não tolerando mais incursões assassinas como as que resultaram no assassinato de Ana Cristina. O povo de Heliópolis exige justiça, não confia no Estado e seus agentes, e provou que sabe se defender.