Motoristas de vans seguem na luta

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Motoristas de vans seguem na luta

No Rio de Janeiro, passageiros que, há anos, dependem do serviço oferecido pelas vans, assim como os trabalhadores que operam o transporte, continuam sendo atacados pela gerência estadual, em prol da expansão desenfreada das máfias que monopolizam os transportes públicos — importantes patrocinadoras das campanhas eleitorais dos sucessivos gerentes do Estado.

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Trabalhadores do transporte alternativo protestam
contra as medidas de Sérgio Cabral, em frente à Assembléia Legislativa

Há muito que a afinidade de Sérgio Cabral Filho com a máfia dos transportes no Rio tem tomado proporções devastadoras para milhões de trabalhadores. Desde junho, a prioridade desses declarados algozes dos trabalhadores tem sido o ataque geral ao transporte coletivo realizado por vans na ligação entre o Rio de Janeiro e municípios vizinhos. Para isso, o número de veículos autorizados a circular foi reduzido de 1.608 para 462, através de autoritário processo licitatório, elaborado e concluído dia 23 de junho pelo DETRO (Departamento de Transportes Rodoviários), sem a participação da categoria.

Mesmo assim, os poucos motoristas que tiveram o seu direito mantido, foram forçados a mudar o ponto final das vans, da Central, de onde partem trens, ônibus e o metrô, para a região conhecida como Leopoldina, uma das partes mais abandonadas da cidade, cerca de 10 km distante do Centro, sem segurança, sanitários, ou qualquer outro tipo de serviço.

Principais prejudicados pela medida, motoristas de vans chegaram a interditar a Rua Pinheiro Machado no final de junho, às portas do Palácio Guanabara (sede do governo do estado), para exigir satisfações de Cabral e do presidente do DETRO, Rogério Onofre. Na ocasião, a tropa de choque da PM foi enviada para reprimir os trabalhadores que resistiram bravamente com paus e pedras e, por isso, foram marginalizados pelo monopólio dos meios de comunicação.

— Vai fazer o quê? A mídia vai dizer que a gente está praticando violência. Quer violência maior do que o cara [Cabral] tirar o nosso emprego, deixar nossa família passando fome? Quero ver se alguém fizesse isso com a família dele. Vai perguntar se um cara desses já andou de ônibus ou de van. Enquanto mantiverem essa violência contra a categoria, nós vamos nos defender. A gente já está conquistando algumas vitórias, como a permissão para os companheiros da cooperativa de São Gonçalo [Santa Isabel] voltarem a rodar. Mas nossa meta é não arredar pé enquanto o governo não voltar atrás. Se preciso a gente vai parar o Rio de Janeiro — afirmou o motorista Tino Ferreira da Silva, de 46 anos, que realizava o trajeto Nova Campina / Central do Brasil. Em entrevista exclusiva à reportagem de AND ele conta um pouco da tristeza de ter o direito ao trabalho roubado por setores comprometidos apenas com o ataque aos direitos do povo.

— Nós estamos com ação coletiva no Ministério Público e no Supremo Tribunal Federal, além das ações individuais que os companheiros estão movendo. A maioria de nós já está com o nome sujo por conta das prestações das vans que compramos para trabalhar. Sem contar com esses meninos que trabalhavam de trocador. A maioria, como os dois que rodavam comigo, eu tirei da vida do crime, pra chegar esse governador e colocar de volta. A pior coisa do mundo é ficar desempregado, com um monte de filho dependendo de você. Seu filho te pedindo uma coisa para comer e você não poder dar. È um sentimento de impotência que dá na gente. Esse governo é louco. Acabar com a categoria assim, sem dar nenhum suporte? lamenta o trabalhador.

De acordo com o presidente do Sindicato de Transporte Alternativo da Baixada Fluminense, Antônio Ribeiro Neto, cerca de 15 mil trabalhadores foram prejudicados pelas novas regras, entre motoristas, cobradores e outros profissionais, sem contar com centenas de milhares de passageiros. Antônio estima um prejuízo diário por veículo de 300 reais, em contraste com o lucro após a licitação obtido pelas empresas de ônibus, que terão sua frota de 6,5 mil carros aumentada em 15%. A máfia dos transportes agradece.

Em outro esforço para criminalizar a luta da categoria, o monopólio dos meios de comunicação rapidamente insinuou uma relação entre os trabalhadores e os conhecidos grupos paramilitares formados por policiais, bombeiros e outros agentes de repressão que dominam comunidades da Baixada Fluminense e Jacarepaguá.

— Como pode, falar que a gente pertence a essas quadrilhas? Você acha que se algum de nós fosse bandido iríamos estar passando esse sofrimento? Você viu a revolta do povo, brigando para trabalhar. Bandido luta para trabalhar? É muita conivência da mídia com o Sérgio Cabralquestiona o motorista.

Outros prejudicados são os trabalhadores que moram em municípios dormitórios, como São Gonçalo e outras cidades da Baixada Fluminense, agora à mercê da defasada frota de ônibus.

Hoje, para chegar ao trabalho, preciso sair mais de 40 minutos antes e me dirigir a um bairro próximo. Pago uma condução do meu bolso para tentar vir sentada, pois os trajetos têm engarrafamentos diários e, mesmo assim, chego atrasada no trabalho. E enquanto o RioCard [o vale-transporte não é mais fornecido em papel] não for implantado nas vans? Andamos desde a Central do Brasil até o Castelo? Pagamos uma passagem do nosso bolso? Ou simplesmente perdemos o emprego? Isto foi pesado na hora de acabar com as vans? Tem vizinho meu saindo de casa 3:30h da madrugada para chegar a tempo no trabalho — afirmou a moradora de São Gonçalo, Roberta Bruno, que trabalha como operadora de telemarketing no Centro do Rio.

Mesmo assim, motoristas de vans prometem não fugir à luta e intensificar ações judiciais e manifestações públicas, como a realizada dia 14 de setembro em frente a Assembléia Legislativa durante uma audiência pública reunindo a FETRANSPOR (Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Rio de Janeiro), representantes de montadoras e financeiras para debater os impactos econômicos das novas regras, evento para o qual os trabalhadores — principais prejudicados — mais uma vez não foram convidados.

Demolição de casas pobres, muros nas favelas, chacinas em bairros proletários, repressão a trabalhadores pobres e ataques violentos aos profissionais da educação, Qual será o próximo crime dos gerenciamentos de turno contra o povo e suas poucas alternativas de sobrevivência?

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