Na madrugada de 25 de dezembro de 2019, 70 indígenas munduruku resgataram 12 urnas funerárias do Museu de História Natural do município de Alta Floresta. Os artefatos de cerâmica, onde estão sepultados os restos mortais dos ancestrais do povo, haviam sido roubados dos lugares sagrados durante as obras da construção das barragens das hidrelétricas de São Manoel e Teles Pires, em 2010.
O resgate foi liderado pela Associação das Mulheres Munduruku e por pajés. No dia anterior o prédio do museu foi ocupado pelos indígenas que viajaram de barco durante seis dias, desde o Pará. As peças em cerâmica foram retiradas de cemitérios indígenas por arqueólogos contratados pelas empresas durante as obras de construção das usinas em 2010 e em 2014. As obras envolvidas são duas de quatro barragens que o velho Estado construiu no rio Teles Pires, formador da bacia do Tapajós que nasce no norte do Mato Grosso e deságua no sudoeste do Pará.
Os munduruku afirmam que nunca foram consultados e só souberam do paradeiro das urnas em 2016 depois de uma ocupação ao canteiro de obras da Usina São Manoel, que tem a estatal chinesa Three Gorges entres os principais acionistas. Além das urnas, outras 270 mil peças arqueológicas foram encontradas e levadas das margens do rio Teles Pires durante as obras.
Durante a ocupação, os indígenas afirmaram: “Para vocês, da empresa, e para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, as urnas são somente objeto ou vasilhames cerâmicos. Para nós, são os nossos ancestrais”. E complementou: “Solicitamos duas visitas por ano para os pajés munduruku, além do pedido de desculpas das empresas construtoras das hidrelétricas. Nada disso foi cumprido.”