Um domingo chuvoso de janeiro, tarde da noite, uma mensagem no meu celular: "Companheiro, passagem, amanhã cedo, pelas obras, R.Curitiba c/ Afonso Pena, 06h20. Até lá."
Na manhã seguinte, com cinco minutos de atraso, cheguei à Rua Curitiba. Nenhuma loja aberta e o trânsito anunciando congestionamento. Esfrego as mãos e aponto os dois companheiros do Marreta, nome pelo qual é conhecido o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção de BH e região. Um deles fala:
— Vamos companheiro, temos que chegar na obra às sete em ponto, para aproveitarmos melhor a reunião.
Rumo ao Belvedere (bairro nobre da cidade), uma obra com 150 operários nos esperava. Ao chegar, a primeira coisa que reparei foi a referência do sindicato junto aos trabalhadores. A hora da reunião não parecia ser um suplício para os operários, eles sorriam e vários "bom-dias" podiam ser escutados. Os sindicalistas se misturaram aos trabalhadores, a reunião seria em círculo, com todos de pé.
O companheiro do Marreta abriu a reunião com alguns informes, enquanto o outro companheiro distribuía o boletim. Venha estudar na nossa escola, era o chamado do panfleto.
— Camaradas, hoje a nossa reunião tem uma pauta especial. Trouxemos aqui o professor Rominho, que é da nossa escola popular, para tratar de um assunto do interesse de todos — disse o sindicalista.
Vários foram os olhares que se dirigiram a mim, alguns permaneceram de cabeça baixa. Nos próximos 30 minutos teria de me dirigir a eles, tarefa difícil, mas prazerosa. Não usei toda a meia-hora que tinha direito, mas falei o suficiente sobre a importância deles estudarem para conhecer melhor a realidade em que vivem. Disse que vivemos em um sistema opressor e injusto e que o acesso ao conhecimento é um dos instrumentos para superarmos essa situação.
Procurei levantar a auto-estima daqueles companheiros. Negar o que proclamam os dominantes: "papagaio velho não aprende a falar". Por fim, disse que só a luta muda a vida e que se o presente que vivemos é de lutas combativas, o futuro será nosso.
Depois da minha exposição, o companheiro que dirigia a reunião perguntou:
— Então, companheiros, vamos estudar na nossa escola? As inscrições podem ser feitas no sindicato e as aulas começam depois do carnaval.
Pude ouvir um "vamos" coletivo. Alguns operários pediram a fala, agradeceram a minha presença e disseram que a luta continua.
Às oito horas em ponto, toca o sinal, hora dos operários iniciarem os trabalhos. Aperto as mãos calejadas de diversos companheiros. É um aperto de mão diferente, é firme e vem sempre acompanhado de um sorriso tímido.
Logo na saída um companheiro me segura pelo braço e me fita:
— Professor, que dia mesmo que começam as aulas?
— Dia 14 de fevereiro, companheiro, te espero por lá — respondi.
— Vou sim, vocês têm muito a nos ensinar.
— E nós a aprender com vocês — completei.