Yeda é uma maranhense determinada e talentosa, filha de um amo de bumba-meu-boi, que juntou a sua cultura de origem com o samba, depois de mais de 40 anos radicada na cidade. De infância extremamente pobre, ao trabalho de doméstica no Rio, passando por uma aprovação em concurso público, Yeda chegou ao mundo do disco e atualmente, além de compositora e ‘puxadora’ de samba enredo do Salgueiro, apresenta um programa de samba autêntico em rádio FM.
— Com aproximadamente nove anos de idade, já saía escondida dos meus pais para cantar nas festas populares do bairro de Macaúba, em São Luís. Pegava as saias da minha mãe e ia dançar tambor de crioula nessas festas. E ganhava prêmios como óleos, sabonetes e cortes de fazenda, que levava para ajudar em casa. Dessas fazendas minha mãe fazia roupinhas para mim e para o resto da família — lembra Yeda Maranhão, como é conhecida.
— Nossa vida era muito dura. Ainda menina, ajudei minha família a construir nossa casa, apanhando cipó, amassando o barro com os pés, ajudando a cobrir com palha. As nossas portas e janelas eram esteiras amarradas com cipó. Minha mãe trabalhava em uma fábrica de tecido e meu pai trabalhava na Rede Ferroviária do Maranhão, mas o dinheiro não dava — conta.
— Mesmo com tanta pobreza, a arte estava sempre presente, e não só em mim: meu pai, Luís Costa, era repentista e amo conhecido de bumba-meu-boi, que é algo muito importante em São Luís do Maranhão. Ele era do Boi da Maioba e meu primo Humberto, do Boi do Maracanã, que inclusive ainda continua por lá, e também é compositor. Costumava ir correndo atrás do meu pai quando saía para as festas do boi, e ficava a noite tocando matraca e tudo mais que aprendi por lá — continua.
Depois de um casamento que durou pouco e alguns filhos, aos 23 anos Yeda migrou para o Sudeste, com a intenção de melhorar de vida.
— Quando cheguei ao Rio, em 1964, em meio ao caos do golpe militar, achei tudo ‘gigantesco’. Ficava olhando para os prédios, não sabia como conseguiria sobreviver. São Luís, apesar de capital, é muito diferente, uma vida bem pacata. E ao invés de procurar logo pela música, tive que ir trabalhar em casa de família, e acabei casando com uma pessoa que prometeu mandar trazer meus filhos do Maranhão, porque eles eram tudo de mais importante para mim — conta.
— Realmente trouxe as crianças e foi maravilhoso, mas com o tempo me dei conta que não poderia cantar, porque ele não deixava de modo algum. O meu ex-marido, lá de São Luís, também não deixava. E fui trabalhando como doméstica e estudando à noite. Em 1970 consegui passar num concurso para o IBGE, o que ajudou a melhorar um pouco minha vida e ‘encaminhar’ meus filhos. Mas o desejo de cantar era grande, e vivia sofrendo por isso nos 28 anos de casamento — diz.
— Sempre tive que conviver com a opressão que não me deixava cantar. Primeiro meu pai, depois o marido maranhense, depois o carioca, até que, em 1992, ele faleceu, e decidi me casar com a música — continua.
Do bumba meu boi para a escola a samba
Assim que Yeda Maranhão decidiu se casar com a música, começaram a surgir oportunidades nesse sentido. Depois de um tempo trabalhando na noite, cantando em bares, fazendo serestas, ela conseguiu ingressar no mundo do samba, que apreciava há muito tempo.
— Entrei no Salgueiro pelas mãos da Tia Ciça, que era diretora da ala das baianas. Desfilei dois anos nesta ala. Depois fui convidada para entrar no time de compositores da escola, passando a ter o privilégio de participar da confecção de sambas enredo, o que tenho muito orgulho. E assim, envolvi-me por completo com a escola, que desde que cheguei ao Rio é a do meu coração, e acabei sendo convidada para ser sua divulgadora junto às rádios, e dessa forma passando a conhecer comunicadores de toda parte do Rio e outros estados — comenta.
— Radialistas como Adelzon Alves, Luiz Vieira e muitos outros, me receberam de braços aberto, porque ainda tem gente que quer tocar música brasileira em seus programas, pela responsabilidade com a cultura do país. E sempre que levava a divulgação do Salgueiro, também tinha um ‘disquinho’ meu também junto (risos), até porque foi assim a proposta que o pessoal da escola me fez: ‘você vai juntar o útil ao agradável, ganhar seu dinheirinho e ainda divulgar seu trabalho’, e para mim foi muito bom — acrescenta.
— Desta forma, por seis anos, fui diretora de divulgação do Salgueiro, e paralelamente fazia parte do grupo Velha Guarda Show do Salgueiro, como compositora. Fomos indicados para o prêmio Grammy Latino, tendo tido o Tengo-Tengo, do Zuzuca, lá no USA, com o pessoal de lá aplaudindo e muito. Simplesmente maravilhoso — continua.
Atualmente Yeda atua como uma das compositoras de samba enredo do Salgueiro e ‘puxadora’ de samba na quadra da escola. Além disso, lançou seu quarto disco solo, Do Rio a São Luís, com composições próprias e de parceiros como Arlindo Cruz e Almir Guineto.
— O disco tem samba e música tradicional maranhense, além de um forró que ganhei com Os Cabras. Consegui gravar tantos discos até agora, em um país com tantas dificuldades para os artistas, porque tive a sorte de ter pessoas dispostas a investir no meu sonho. Só o terceiro disco, que entre outras, tem uma música que canto com Dona Ivone Lara, usei minhas próprias economias para fazer — declara.
— A distribuição também é feita através dos amigos: tem alguns discos com o mestre Dionísio, na Apoteose, outros na Rua da Alfândega, 172, no Centro do Rio. É um grupo de amigos da música brasileira, porque é muito difícil alguém furar esse bloqueio da mídia e entrar em uma gravadora. Já procurei por muitas, e todas dizem que não estão recebendo. É uma coisa louca — conta Yeda, acrescentando que também vende após seus shows.
Finalmente vivendo música todo o dia, Yeda faz shows pelo Rio e outros estados, e se apresenta ao lado do atual esposo, Carlito, que desta vez também é envolvido no universo musical, um programa de samba chamado Samba na caixa, pela Rádio RJ FM, 90.5, todos os sábados e domingos, de 12 às 15hs.
— Quando me casei com Carlito, já estava casada com a música (risos). Trabalhamos na mesma direção e ele me ajuda muito. O programa é um espaço para tocarmos só samba de raiz, e está muito bom, com muita música boa e gente pra escutar — comenta.
— Hoje sou sambista, mas ligada a São Luís do Maranhão, que é o meu berço, até porque isso é fácil para uma filha de amo de bumba-meu-boi, que é nossa festa tradicional em São Luís. Não esqueço jamais o tambor de crioula, o cacuriá, e muito mais que está lá na minha terra, para quem tiver o prazer de conhecer — explica Yeda, acrescentando que para contratar seus shows, basta ligar para (21) 9674-340/9461-2005 ou mandar um correio eletrônico para [email protected]