Na Europa a crise ameaça o euro

Na Europa a crise ameaça o euro

A crise geral de superprodução relativa segue decompondo rapidamente as estruturas do capitalismo, provocando uma erosão que já se encontra em um estágio tão avançado que os sustentáculos de algumas das maiores potências imperialistas vão desmanchando-se mês a mês, vide o fato de até a França ter anunciando um “plano de ajuste” para evitar a própria bancarrota. É a crise estrutural seguindo o curso previsto: em 2008 os Estados salvaram os bancos e grandes monopólios; agora chegou a vez da quebradeira dos próprios Estados.

Remediando o moribundo apenas para prolongar sua agonia, as potências promovem gigantescas transferências de riquezas geradas pelo trabalho do povo para evitar um efeito dominó entre os monopólios e os bancos, em um monumental esforço para evitar um cenário que os poderosos do mundo e o monopólio internacional dos meios de comunicação burgueses chamam genericamente de “contágio” da crise da Grécia – esmagada pelo FMI e pelo Banco Central Europeu a fim de que uma dúzia de banqueiros alemães e franceses minimizem seus prejuízos.

É importante lembrar que a entrada de vários países na zona do euro foi uma espécie de rendição de grande parte dessas economias, Grécia incluída, à França e à Alemanha. Trata-se de uma “integração” de economias deficitárias que ampliaram o fluxo de mercadorias dentro do bloco ao custo do crescimento descontrolado de suas dívidas. Agora chegou a conta para alguns desses países.

Só a economia capitalista grega precisa, para ter uma chance de se salvar, de mais dinheiro do que o Fundo de Resgate Europeu tem em caixa para socorrer todo o capitalismo na zona do euro, onde outros países mais castigados pela crise geral dos monopólios, como a Itália e a Espanha, também estão na iminência da ruína. Relatório recente do Banco Central grego dá como certa a exclusão do país da zona do euro caso as medidas de arrocho impostas pelos bancos franco-alemães não sejam implementadas rápido.

Por isso as semicolônias mais relevantes para a divisão internacional do trabalho, as ditas nações emergentes, foram novamente chamadas a comparecer com recursos dos seus próprios bolsos para ajudar a salvar a Europa. Acionada, Dilma se prontificou a dar US$ 10 milhões para os cofres do FMI, que saiu da reunião do G20 na cidade de Cannes, na França, ainda mais fortalecido, com poderes quase que ilimitados para promover draconianos planos antipovo ao redor do planeta.

A primeira providência do fundo reforçado foi requisitar a substituição de Geoges Papandreou na gerência da Grécia depois que o “socialista” inventou um referendo sobre o pacote de “austeridade” acertado com a União Europeia, referendo com o qual pretendia se livrar do ônus político de massacrar economicamente seu próprio povo.

Isto, obviamente, não será suficiente para frear o tal “contágio”. O desemprego na zona do euro não para de bater recordes, tendo ultrapassado a barreira dos 10% há seis meses, e subindo. Todo mês cerca de 200 mil pessoas engrossam as estatísticas dos sem trabalho nos países que adotam a moeda única europeia.

Na Espanha os desempregados já são 22% da chamada população ativa, sendo que entre os jovens a taxa é de cerca de 50%. Na Grécia o índice de pessoas procurando emprego é de 17% (o maior em 50 anos, sendo que há suspeitas de que a gerência grega está manipulando os números). O desemprego vem subindo também na França e até na Alemanha, onde a taxa permanecia estável há dois anos.

Desemprego corrói as estruturas do euro

O epicentro desta crise geral de superprodução relativa é o USA, maior economia capitalista do planeta e maior potência imperialista, mas como a crise vai se espalhando feito um rastilho de pólvora entre paiois, é na Europa que ora sua manifestação na forma de “crise da dívida” leva os monopólios e os Estados a colocarem maior pressão sobre os trabalhadores do até recentemente chamado “mundo rico”.

Há hoje na zona do euro nada menos do que 17 milhões de pessoas sem trabalho (cinco milhões só na Espanha) e, numa tentativa desesperada para tentar salvar a si própria, a Europa do capital monopolista em ruína ameaça retaliar os países que apresentarem taxas de desemprego acima dos 10% com uma multa de 0,1% do produto interno bruto.

Além disso, a Comissão Europeia quer atribuir a si própria poderes para intervir diretamente na legislação trabalhista dos países-membros da União Europeia no sentido de “flexibilizá-las” a fórceps para favorecer os monopólios, caso as gerências locais dos elos mais fracos da UE hesitem quando chamadas a assumir o ônus político do arrocho ao povo.

Outra novidade de novembro foi a aprovação na cúpula do G-20 de uma lista de 29 “bancos globais grandes demais para quebrar”, aos quais em 2012 devem ser destinadas enormes somas de dinheiro em mais um esforço para prolongar a vida deste sistema de exploração e saqueios.

Na Grécia e na Itália, a UE requisitou que tecnocratas assumissem o poder e ordenou o adiamento de eleições a fim de que os gerentes “provisórios” tenham tempo de implementar um sem número de medidas antipovo sem a necessidade de submetê-las a acordos políticos com os vários grupos de poder locais. Na gerência da Grécia, assumiu Lucas Papademos, ex-vice-presidente do Banco Central Europeu e ex-funcionário do Federal Reserve, o banco central do USA. Na Itália quem assumiu foi o economista Mario Monti, ex-alto-funcionário da Comissão Europeia. Em seu primeiro pronunciamento como sucessor de Berlusconi, Monti se dirigiu não ao povo, mas ao mercado financeiro, fazendo promessas de arrocho total.

Na penúltima semana de novembro, entretanto, a cúpula entre Angela Merkel e Nicolas Sarkozy incluiu também Mario Monti, chamado a chancelar os planos do chamado núcleo duro do euro. Merkel se disse “impressionada” com os planos do novo primeiro ministro italiano, como se esses “planos” não tivessem emanado exatamente dos bancos franco-alemães.

Ah, a união…

Há, entretanto, uma preocupação grande entre os potentados do capital europeu, que condenam, sobretudo a atitude arrogante e irredutível dos alemães, que tem recusado através de Merkel um plano de transferência para o Banco Central Europeu das dívidas dos países membros da zona do euro. Uma espécie de federalização das dívidas.

Outra proposta é criar um grupo dos países que tem a dívida classificada como AAA pelas agências de classificação de risco, que inclui, além de Alemanha e França, Dinamarca, Luxemburgo, Finlândia e Holanda. Esse grupo poderia emitir títulos da “elite” econômica do bloco, evitando a queda na credibilidade no euro em geral.

Em qualquer dos casos, fica evidenciado em que termos se efetuou a “integração europeia”: enquanto as coisas vão bem, “estamos juntos”, mas quando ocorre qualquer problema os mais poderosos não pensam duas vezes em se livrar dos endividados, sem nem mesmo se lembrar que são eles mesmos responsáveis pelas dívidas dos chamados “periféricos”.

Engana-se, entretanto, também quem aposta na solidez destes países que hoje achacam os mais pobres da Europa. As agências de classificação de risco já espalharam que vão rebaixar a nota da dívida da França, sacando-a do seleto grupo das dívidas AAA. Embora essas agências do capital financeiro possam manipular à vontade dados, esse é o tipo de notícia que leva pânico aos especuladores.

A Alemanha, por sua vez, viu sua arrogância ir por terra quando tentou vender 6 bilhões de euros em títulos de sua dívida, no dia 23 de novembro. A arrecadação não passou de 3,9 bilhões de euros e acendeu a luz amarela para os magnatas do capital financeiro.

Cumulativamente, esse fator desencadeou nova queda das bolsas de valores, desvalorização do euro e valorização do dólar, que no Brasil chegou a ser vendido a R$ 1,90. Isso não chegou a apavorar o mega-especulador parasita George Soros, que declarou confiar na recuperação do euro, claro que livre dos problemas causados pelos países mais fracos da zona.

Em toda a Europa, o encolhimento do mercado de trabalho, o trabalho precário, os baixos salários, o aumento dos impostos sobre a renda e o dia-a-dia do povo, a dilapidação dos direitos do trabalhador, como a defumação do seguro-desemprego fazem com que o caminho entre a demissão e a pobreza seja cada vez mais curto, a uma distância que até pouco tempo só era vista em semicolônias como o Brasil.

Na Grécia, por exemplo, o que restou do seguro-desemprego foi uma garantia de 500 euros por mês ao longo de um ano. Entretanto, mais da metade dos desempregados da Grécia não consegue arranjar trabalho já há mais de 12 meses. Um estudo da Universidade Pateion mostra que se todas as medidas de arrocho previstas forem implementadas na Grécia, o nível de vida dos trabalhadores gregos que conseguirem se manter empregados será 40% inferior ao que era em 2008, às vésperas da crise.

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