Nações indígenas reclamam todos os seus direitos

Nações indígenas reclamam todos os seus direitos

A ONU, representante e cúmplice do capital, acaba de divulgar um relatório apontando que as nações indígenas são as mais pobres do mundo. Embora feito para inglês ver, como todos os documentos do órgão, a situação é verdadeira. E muito mais grave do que a ONU afirma.

Mesmo assim, vamos a ele.

Disse o levantamento que a pobreza dos índios ocorre também em países “desenvolvidos” (isto é, países capitalistas ricos, exploradores da riqueza alheia) como o Canadá, o USA, a Austrália e a Nova Zelândia. Lá, a população indígena tem “indicadores sociais” baixos e é vítima do avanço da obesidade e do diabetes tipo 2, além de uma reduzida expectativa de vida. Na Austrália, por exemplo, um aborígene vive em média 20 anos menos do que os demais habitantes.

A falta de apoio para a utilização de conhecimentos tribais tradicionais e para a instalação de sistemas que atendam de maneira diferenciada aos grupos indígenas, além da discriminação e falta de perspectivas de uma sobrevivência digna, refletem-se em problemas de saúde tais como o alcoolismo, que pode levar ao diabetes (que já atinge mais da metade dos índios do mundo).

“Em algumas comunidades, o diabetes alcançou níveis de epidemia e é um risco à existência dos índios”, afirmou o relatório, que também destacou o crescimento da Aids e da tuberculose. “Por causa da pobreza, a tuberculose afeta desproporcionalmente os indígenas”.

Outro problema identificado foi o suicídio. O documento informou, por exemplo, que nas últimas duas décadas centenas de jovens guaranis-kaiowás do Mato Grosso do Sul, se mataram. Dados do Ministério da Saúde, coletados entre 2000 e 2005, mostraram que em duas comunidades a taxa de suicídio foi 19 vezes maior que a taxa nacional.

“A situação dos Kaiowá resume os principais problemas indígenas do Brasil. Desnutrição, suicídio, alcoolismo, desemprego, falta de terras e violência”, comentou Marcos Terena, articulador do Comitê Intertribal – Memória e Ciência Indígena (ITC). E complementou: “O Mato Grosso do Sul é considerado o estado do país mais violento para os índios, onde os poderes pecuaristas e políticos avançaram demais”.

O baixo acesso a mecanismos que garantam condições de sobrevivência a essas comunidades como terra, saúde, educação e participação nas decisões políticas e econômicas em seus países têm explicações históricas, disse a ONU simplificando a realidade. E como se não tivesse também culpa no cartório, o órgão concluiu também de modo simplista, que a colonização e a expropriação fundiária são os responsáveis por esses indicadores.

Chega de deturpar: é retomada, não invasão

Indignado com os termos usados de forma capciosa pelo monopólio da imprensa, um índio publicou em dezembro o seguinte texto na internet:

“Quando é mostrada nos meios de comunicação, a recuperação da terra indígena, feita pelo próprio índio, exemplo RETOMADA, eles dizem: ‘ Índios da tribo… INVADIRAM a fazenda de…’ A palavra invasão não é correta, vou esclarecer porque.

As terras brasileiras são indígenas, e pertencem a várias tribos existentes e outras que foram exterminadas, mas o poder dos grandes latifundiários tomou nossas terras de nós.

Isso no passado, com ajuda de pistoleiros que atacavam as aldeias e matavam os índios com a pior crueldade, os que iam resistir eram expulsos e encurralados em pequenos pedaços de terra. Essas terras que nos foram roubadas receberam títulos falsos de posse, onde colocaram os assassinos como donos delas, muitas áreas foram demarcadas pelo governo para manter o pouco de nosso povo, mas isso não durou muito, limitaram pequenas áreas de terra para a nossa sobrevivência, mas foi uma fachada, os invasores tornaram a atacar e expulsaram os índios das terras demarcadas.

Os índios que resistiram tiveram de sobreviver no mundo dos não-índios, trabalhando em troca do pão. O nosso povo passou a conhecer nossos direitos e com eles vimos há muito tempo reivindicando essas terras, mas a justiça não tem dado atenção à nossa causa. E se tornando omissa ao nosso sofrimento. No Brasil, atualmente a nossa população indígena representa menos de 1% da população nacional, mesmo assim não somos respeitados nos nossos direitos.

A palavra correta quando reocupamos as nossas terras é retomada e não invasão. Por que? Essas duas palavras ‘invasão’ e ‘retomada’ são distintas, ou seja uma se refere a que não somos donos e a outra demonstra que estamos tomando o que nos pertence.

Os índios não invadem, os índios Retomam as suas terras. Segundo relatam as lideranças Pataxó Hãhãhãe, que há muito tempo vem lutando por nossa terra, “a justiça nunca deu terra para nós, se hoje estamos morando em parte de nossa terra é porque resolvemos fazer retomada, os novos governos herdaram a culpa de ter dado as nossas terras para os latifundiários no passado… e não querem julgar…

Isso significa que os índios em nosso país vivem sofrendo, até mesmo são tiradas suas vidas e o poder judiciário não liga para nós. Termino com a frase do compositor indígena Edesio Pataxó, “É terra sim, violência não / bandidagem tão inimiga / índio queimado / morto vivo!*”

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*Parte da letra da canção se refere ao assassinato do pataxó Galdino, queimado vivo por rapazes de famílias ricas num abrigo de ônibus em Brasília, em 1997.

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