A luta pela terra avança, entre a repressão, ameaças e demagogias. A instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o MST, na Câmara dos Deputados, busca intimidar a eclosão de novas tomadas, através de emparedar a direção de vários movimentos camponeses. A tentativa, no entanto, só comprova a importância da questão agrário-camponesa, que está, novamente, na ordem do dia da política nacional. Por seu turno, o governo mostra o que tem a oferecer aos camponeses: demagogia combinada com repressão.
Fato é que a luta pela terra só tem crescido, pelo influxo das grandiosas batalhas camponesas ocorridas em 2020 e 2021, em Rondônia, nas Áreas Tiago Campin dos Santos (município de Nova Mutum-Paraná) e Manoel Ribeiro (Chupinguaia). No primeiro caso, as massas enxotaram mais de mil tropas militares, resguardando a posse da terra até hoje. O ano de 2023 mal começou e já milhares de famílias tomaram terras em São Paulo, Pernambuco, Bahia, Mato Grosso do Sul e outros estados, o que prenuncia um grande auge do movimento camponês.
Entre demagogia e repressão
Durante audiência pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, no Senado federal, no dia 4 de maio, os ministros de Luiz Inácio, Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) se posicionaram entre demagogia e condenações com respeito à luta camponesa.
Carlos Fávaro, representante nato do latifúndio (agronegócio), não tem “papas na língua”: “Invasão de terras não é legítimo. Não devemos apoiar. Não é concebível apoiar invasão de terra. Da minha parte nunca o farei”, asseverou. Se bem que o patético ministro foi mais comedido do que em outras oportunidades, quando afirmou que os camponeses são “marginais” e comparou sua luta, de terra para quem nela vive e trabalha, com a segunda bolsonarada de 8 de janeiro, que clamava por um golpe militar, chamando ambas de “terrorismo”.
Paulo Teixeira, supostamente “o homem da reforma agrária” do atual governo, também tomou posição contra a luta camponesa: “Isso é uma exigência do governo: com áreas ocupadas, não negociamos. Não há desse governo qualquer leniência com esse tipo de problema”.
Mas não só de condenações vive o governo. Houve também demagogia. Carlos Fávaro fez-se de comovido pelo fato de que “há seis anos nenhum centímetro de terra é entregue ao povo brasileiro”, referindo-se à morte da desde sempre falida “reforma agrária”. Caberia corrigir sua formulação: a reforma agrária morreu oficialmente ainda no governo Dilma, entre 2011 e 2015, quando somente 133,6 mil famílias foram assentadas – número que inclui mero recadastramento e, portanto, ainda que pífio, está maquiado –, o que lhe rendeu o título de ser o governo que menos fez reforma agrária desde o regime militar-fascista (perdendo para todos os presidentes dali em diante).
Já o ministro do Desenvolvimento Agrário anunciou, com pompa e circunstância, que o governo “pretende anunciar em maio um programa de reforma agrária para 2023”. Tom e conteúdo bem distinto daquele usado em abril, quando afirmou, em reunião com o MST e a Suzano, que o governo dispunha só de R$ 2,43 milhões para “reforma agrária”, enquanto o governo encheu as burras do agronegócio.
Talvez, a dubiedade entre demagogia e condenação se explique pela intervenção de um insignificante senador de Rondônia, na mesma audiência: “Nós podemos ter um conflito muito grande. Se isso não tiver uma providência urgente, podemos ter conflitos. Podemos ter uma revolução no campo”. É isso o que assombra o governo e toda a reação.