Percussionista brasileiro conhecido em todo o mundo, o pernambucano Juvenal de Holanda Vasconcelos, o Naná Vasconcelos, aos 68 anos, está sempre surpreendendo com novas criações, expressando sua arte. Tocando com músicos renomados ou realizando concertos com crianças, Naná mostra a riqueza da música brasileira, nunca perdendo sua identidade mesmo depois de ter morado três décadas fora do país.
— Comecei a tocar profissionalmente com 12 anos, acompanhando meu pai, que era músico das noites, em cabarés do Porto de Recife. Como eram lugares proibidos para menores, precisei de uma autorização para poder tocar lá, e na hora que parava o som e o pessoal descia para beber, eu não podia sair do palco — lembra Naná.
— E também tocava instrumentos de percussão na Banda da Cidade do Recife. As bandas são uma escola de música muito importante. A minha gravava oficialmente os frevos do carnaval da cidade. Dela saíram outros músicos profissionais, por exemplo, o maestro Ademir Araújo, o Formiga, que tocava na mesma época, era meu companheiro de banda — continua.
Mais tarde, no Rio de Janeiro, Naná trabalhou com Milton Nascimento.
— Isso foi antes do Milton ter o grupo O Imaginário. Na verdade, eu era o grupo do Milton. Com isso gravei os seus três primeiros discos. Em 1969 passou pelo Rio o compositor e saxofonista argentino Gato Barbieri, que é autor da música O último tango em Paris do filme bastante conhecido, e me convidou para fazer uma série de concertos com ele na Argentina — diz.
— Enquanto fazíamos esses concertos apareceu um convite para o Gato gravar seu primeiro disco nos Estados Unidos, e fui com ele. Passei um ano em Nova Iorque trabalhando com o Gato e morando com o Gláuber Rocha — continua.
— E foi aí que descobri que tinha alguma coisa minha, que carregava e não podia perder: a riqueza da miscigenação do meu país. Um pouco da riqueza cultural, folclórica e musical do Brasil — acrescenta Naná.
Depois disso, Naná Vasconcelos foi para Paris, onde morou por cinco anos. De volta aos Estados Unidos, morou lá por 24 anos.
— Fiquei muito conhecido e requisitado no meio dos músicos de jazz. Não só eu, mas outros percussionistas brasileiros, como Airto Moreira e Hermeto Pascoal. Éramos novidade por lá, todo mundo do jazz queria um percussionista brasileiro. Como um músico autodidata, acredito que minha grande escola foi a minha vida, toquei com músicos de diferentes estilos — expõe.
— Mas a coisa mais importante de toda a minha trajetória é que na verdade nunca saí do meu país, muito pelo contrário, levei o meu Brasil para lá. Sempre senti que só estava morando fora, só isso. Então se fiz sucesso lá fora foi exatamente porque não quis ser eles — constata.
Naná diz que o tempo no exterior foi importante em sua carreira, entre outras, por ter conseguido se tornar solista.
— Provavelmente se tivesse ficado aqui no Brasil estaria até hoje somente acompanhando cantores, porque os movimentos musicais que existiram aqui foram, de certa forma, muito mais poéticos do que musicais: a bossa nova, os afro-sambas, o tropicalismo — fala.
— Assim a música instrumental no Brasil sempre foi e ainda é colocada de lado. Hoje viajo pelo mundo todo como solista e tenho discos gravados. Mas meu disco mais recente, de 2011, Sinfonia e batuques, foi feito aqui no Recife. Na verdade, voltei para o Recife, entre outras, para mostrar o trabalho solo que desenvolvi, e também trabalhar com as crianças — declara.
— Fui uma criança muito pobre, e de repente estava no mundo, de certa forma famoso, fazendo um trabalho com crianças de lá. Então senti a necessidade de trabalhar com as crianças da minha terra — explica.
Entre outras coisas, em 2010 Naná realizou o ABC Musical, com crianças de 7 a 10 anos de idade.
— Na África peguei 30 crianças, em Portugal peguei mais 30 e as trouxe para o Brasil, juntando com 60 crianças de Brasília. Com essas 120 fiz um concerto no Teatro Nacional de Brasília para comemorar os 50 anos da cidade — conta.
— Dei o nome de Língua Mãe a esse projeto: três continentes que falam a língua portuguesa. O repertório é música folclórica brasileira, aprendendo sobre o Brasil através do folclore — continua.
Naná mantém uma agenda cheia de muitos projetos no Brasil e exterior. Em setembro passado participou do FITO — Festival Internacional de Teatro de Objetos, tocando um armário.
— Todo mundo tem que fazer música com um objeto qualquer. Participei no ano passado tocando um instrumento que chamei de Pinipan, construído com penicos, caçarolas, bacias, panelas. Esse ano foi um guarda-roupa, e dei o nome de Guarda-Som ao projeto — diz.
— Depois estive em Portugal participando do Ano do Brasil em Portugal. Me considero um cidadão do mundo, mas que tem sua bagagem e leva para onde vai — finaliza Naná Vasconcelos.
O site www.nanavasconcelos.com.br é o seu contato.