Desde o dia 5 de julho sucedem-se manifestações e greves em todo o país. Os manifestantes são contra o Tratado de Livre Comércio — assinado com o USA. Também protestam contra a elevação dos preços, a corrupção e a contaminação advinda da mineração nos rios peruanos.
Após a prisão do Dr. Abimael Guzmán, presidente do Partido Comunista do Peru — que a repressão chama de Sendero Luminoso para ocultar o nome do P.C.P. —, muitos acreditaram que os movimentos populares em geral, inclusive a guerra popular, tinham fracassado inteiramente. Não poucas vezes, o governo anunciou que havia exterminado os últimos focos da guerrilha. Mas os guerrilheiros ressurgiam. Assim como outros movimentos populares nos mais diversos pontos do país.
Desde 1992, quando o governo semicolonial no Peru montou a farsa dos julgamentos de revolucionários, liberou as primeiras imagens do Presidente Gonzalo (nome com que o Dr. Abimael Guzmám foi consagrado pelo seu partido), também a camarilha revisionista se apressou a afirmar que era necessário renunciar às armas. Toda a América Latina se colocou em guarda sem saber ao certo o que se passava no Peru.
Esta situação ainda permanece, agravada pela subida ao poder de Alan García (em julho de 2006) que no primeiro mandato na década de 80, combateu incessantemente a guerra popular, torturando e assassinando guerrilheiros e também militantes pacíficos dos mais diversos movimentos populares.
As grandes manifestações de massas ressurgiram no país e, seis meses após a chegada do governo García, a resistência popular retomou de vez o plano superior.
Abrem o caminho
Os camponeses peruanos da serra sul do Peru decretaram uma grande greve camponesa no dia cinco de julho. Eles foram convocados pela Frente de Defesa dos Trabalhadores de Apurímac e se concentraram na cidade de Andahuaylas, impedindo qualquer atividade contra-revolucionária na região. Além das reivindicações no plano da questão agrária, os camponeses exigem o subsídio ao adubo, a pavimentação da estrada que liga o departamento de Apurímac a Ayacucho e o aumento de verbas para a Universidade Nacional Agroe-cológica José María Arguedas. Também protestam contra o tratado de traição nacional de “livre comércio” com o USA.
No terceiro dia de mobilização, os camponeses tomaram a Praça das Armas por algumas horas e bloquearam a estrada que liga a cidade ao departamento de Cuzco.
Os camponeses, armados com paus, marcharam pela cidade. A polícia respondeu à manifestação com bombas de gás lacrimogênio, cerco desesperado de um posto policial e detenção de dois camponeses.
Povo contra Fujimori
Alberto Fujimori presidiu o Peru nos anos 90. Ele fugiu para o Chile, após assassinar milhares de camponeses, com a desculpa de combater o terrorismo e roubar os cofres do país.
Milhares de peruanos, liderados pelos familiares das matanças de La Cantuta e Barrios Altos, ocorridas em Lima por ordem de Fujimori, marcharam até a embaixada chilena no dia 17 de julho. Eles foram apoiados pelos professores que estão em greve em todo o país.
O povo peruano protesta contra a recusa do pedido de extradição feito pela justiça peruana à justiça chilena e contra a possibilidade de Fujimori candidatar-se ao senado japonês.
Greve geral
O dia 11 de julho foi escolhido pelo povo peruano como um dia de greve geral em todo o país. Mineiros, estudantes, camponeses e professores deflagraram a greve, convocada por melhores condições de vida para o povo peruano e contra a gerência de Alan García.
Estradas foram bloqueadas e manifestações ocorreram simultaneamente em todo o país. Os professores, em greve por tempo indeterminado desde o dia cinco de julho, tomaram o aeroporto de Puno, no sul do país. Eles se opõem a nova Lei Pública Magisterial, que demite o professor se ele não for aprovado nos exames do governo, acabando com a estabilidade. Também na região, os professores expropriaram o interior do aeroporto de Juliaca e ocorreram cancelamentos de vôos em vários aeroportos. A polícia deixou vários feridos nos confrontos.
Os protestos se multiplicaram pelo norte do Peru. Na cidade de Piura, mais de 15 mil pessoas saíram às ruas. A adesão popular também foi massiva em Tarma, no centro do país. Em Lima, capital do Peru, várias manifestações ocorreram ao mesmo tempo. No centro, cercados pela polícia, os manifestantes leram um comunicado público, explicando as razões da greve.
Em Cuzco, as manifestações impediram vôos e o serviço de trem que liga a região de Puno à Arequipa foi cancelado. Em Iquitos, região amazônica peruana, uma estrada foi bloqueada pelos camponeses, como também a rodovia Pan-americana, que corta todo o país. Uma menina de doze anos foi assassinada pela polícia em uma das manifestações, na cidade de Abancay. Uma professora também foi assassinada pela policia.
No dia 12 de julho, segundo dia de greve nacional, 60 pessoas foram presas em Lima. Na cidade de Cerro de Pasço, 68 manifestantes foram presos ao bloquear a estrada central do município.
A ação dos mestres
A greve geral dos professores peruanos reivindica melhores salários e a derrubada da nova lei para o magistério. Alan García já anunciou que não pagará os salários e poderá demitir os professores em greve, que já são quase meio milhão.
No dia 12 de julho, foram presos 50 professores de escolas públicas quando gritavam palavras de ordem contra a gerência de Alan Garcia, em protesto contra a promulgação, na quarta-feira, da lei de carreira pública do magistério. Foram acusados de bloquear o trânsito na Avenida Arequipa e de agredir policiais. E para evitar que se reunissem, policiais lançaram bombas de gás lacrimogêneo contra os professores que,todavia, prosseguiram com suas manifestações no dia 13.
Contra as “doações”
O povo do departamento peruano de Ucayali declarou greve geral no dia 26 de junho contra a decisão do governo em isentar a cobrança de impostos às empresas na floresta amazônica.
No dia quatro de julho, 60 mil pessoas participaram de uma manifestação na cidade de Pucallpa, capital do departamento de Ucayali, contra a presença do primeiro ministro peruano Jorge del Castillo. O comércio, os centros educativos, o transporte terrestre, fluvial e aéreo, entre outras atividades, foram completamente paralisadas na capital de Ucayali.
O bloqueio às estradas também chegou aos municípios de Azangáro — em que foi decretada greve por tempo indeterminado — e Melgar.
Bastou um rastilho
Regiões como Puno, Huancavelica, Ayacucho, Ucayali, do centro andino, o sul e a região da selva amazônica, concentram o maior número de manifestações populares contrárias ao governo de García.
Em Puno, cidade do altiplano andino na fronteira com a Bolívia, a situação ficou tensa devido ao bloqueio de rodovias em vários locais e ameaças de ampliação do conflito para Cuzco e Moquegua.
Nas regiões de Ayacucho e Huancavelica, onde a pobreza é extrema, a população participa de protestos regionais contra o governo, enquanto em Cajamarca, cidade mineradora, continuam sendo anunciadas manifestações.
Em Arequipa, a segunda maior cidade do Peru, foi anunciada uma paralisação regional a partir de 25 de julho, enquanto se preanunciavam conflitos da federação que agrupa os trabalhadores mineiros. Em Lima e em outras cidades continua a greve de aproximadamente 5.000 docentes das universidades públicas e trabalhadores administrativos da área de saúde.
Alan Garcia e o presidente do Conselho de Ministros, Jorge del Castillo, afirmam que por trás dos protestos e das manifestações estão grupos “radicais” e o Partido Comunista do Peru. Esta afirmação pode ser verdadeira, uma vez que estas regiões foram muitas ativas na guerra popular e, apesar de muitos ainda acreditarem que o P.C.P. está destruído, a guerra popular tem ressurgido em diversos distritos e, não raro, bandeiras vermelhas foram vistas nas diversas manifestações que se espalharam pelo país.
Desde o dia quatro de julho, Alan García, autorizou as Forças Armadas do país a atuar ferozmente na repressão ao povo, juntamente com a Polícia Nacional.
Impossível sufocar a revolução quando as massas a desejam
A onda de protestos populares certamente sofrerá um refluxo. Mas retomará muitas vezes e de maneira sempre mais avassaladora. Essa é a expectativa — dos movimentos populares e também da contra-revolução. Tanto mais aumenta a repressão, maiores se tornam as explosões de massa, cedo ou tarde. As contradições vêm se acirrando porque as classes exploradoras internas do Peru e o imperialismo não podem voltar atrás nas suas agressões ao povo, no saque e na pirataria.
O nível de consciência do povo peruano não sofreu os reveses esperados pelo imperialismo ao deter o Presidente Gonzalo e o Comitê Central do P.C.P.. Na realidade, foi um setor do P.C.P. que caiu nas mãos do oportunismo, enquanto que seus quadros intermediários pacientemente reorganizaram as redes do movimento revolucionário, sabendo que cedo ou tarde o povo responderia satisfatoriamente.
A reação imperialista volta à carga contra o Partido Comunista do Peru (se recusa a chamá-lo pelo nome, referindo-se apenas ao Sendero Luminoso), desencadeando uma terrível propaganda, denominando os revolucionários de terroristas e traficantes, quando é o imperialismo quem utiliza o tráfico e o terror.
O próprio governo ianque confessou várias vezes ter inundado a Nicarágua com cocaína e armas destinadas aos antigos bandos assassinos da Guarda Nacional somozista para deter a revolução antiimperialista, em 1981. E segue com essa prática por toda a América Latina.
A dupla de bandidos Fujimori-Montesinos responsabilizava o P.C.P. (que sempre negou o terrorismo e o tráfico por serem essas práticas antipovo) pelas atividades criminosas no Peru. No entanto, entre tantos crimes cometidos pelos dois bandidos estava o tráfico de cocaína. É natural que os fascistas atribuam aos outros os crimes que exatamente eles cometem, porque não podem deixar de reproduzir a exploração e a miséria, a pirataria, o saqueio e a transformação dos países em colônias.
A outra artimanha imperialista é a de usar uma falsa esquerda, de quadros formados no oportunismo, que tenta persuadir os trabalhadores a seguir o caminho da direita, enquanto tece terríveis calúnias a tudo o que de mais consequente tenha os movimentos de libertação nacional e de emancipação das classes oprimidas.