Um dos grupos de choro mais antigos de Belo Horizonte, o Naquele Tempo, depois de um longo período parado, voltou com toda força a suas atividades. Fazendo um trabalho minucioso de pesquisa, onde estudam o choro, e buscam fazer composições e arranjos inovadores, diferenciados do tradicional, o grupo projeta gravar seu primeiro disco.
— Nosso nome veio da música Naquele Tempo, do Pixinguinha. É uma homenagem a ele, um dos grandes compositores do país. Tocamos muitas obras suas, assim como do Jacob do Bandolim, Ernesto Nazareth, Abel Ferreira, e todos os outros grandes compositores do choro. E também as nossas próprias composições — explica o saxofonista Marco Antonio Brandão, o Bigô, um dos integrantes do grupo.
O Naquele Tempo nasceu em 1974, quando um grupo de estudantes, de um colégio de Belo Horizonte se reuniu para tocar choro, ainda de forma informal.
— A primeira apresentação foi no próprio teatro da escola. Mas a partir daí começou a se expandir para vários locais da cidade, tocando tanto em teatros como ao ar livre. Ainda na década de 70 participamos de dois festivais nacionais de choro muito importantes, o que nos deu um grande impulso e notoriedade. E tudo isso ficou registrado em discos dos próprios festivais — conta Bigô.
— Em função desses eventos e do relacionamento com amigos músicos do Rio de Janeiro, acabamos acompanhando artistas de fora que viam se apresentar em Belo Horizonte. Assim, tocamos com muita gente importante, como Paulinho da Viola, MPB4 e até o Cartola, nas duas únicas temporadas que fez aqui, em 1977 e 1978 — relata.
— Consideramos como uma experiência muito marcante para nós, pela figura do Cartola, sua expressão na música e também pela pessoa que era. Tivemos uma convivência muito especial. Ele era bem alegre e simples, uma pessoa muito fácil de se relacionar. Apesar de temos tido pouco tempo de contato, foi um período muito intenso em função do trabalho de preparação e ensaios para as apresentações — continua.
O Naquele Tempo também se apresentou com Altamiro Carrilho, acompanhando-o em uma apresentação na Praça da Liberdade, região bem movimentada de Belo Horizonte.
— Foi um evento que teve um público de mais de dez mil pessoas. Nos apresentamos muito também pelo interior do estado, e estivemos ativos até 1980. Depois ficamos alguns anos sem nos apresentar, voltando a nos reunir há uns três anos. Mas é difícil afirmar porque tivemos que parar. Evidentemente que a música instrumental, de uma maneira geral no Brasil, sempre foi muito difícil, principalmente pela questão financeira, já que o instrumentista é pouco valorizado. Ainda mais aqui, fora do eixo Rio/São Paulo, onde os músicos têm mais oportunidades — explica.
— Eram poucos os grupos de choro em Belo Horizonte, e quando a coisa ficou muito ruim, os que existiam, tanto aqui como em outras partes, dispersaram ou reduziram muito suas atividades. No entanto, essa não é a realidade atual aqui na cidade, e creio que em outras partes do país também. Nos últimos anos o choro tomou uma força muito grande, e foram surgindo as oportunidades, uma série de bares e encontros de chorões — conta Bigô.
Choro por toda a cidade
— Um evento importantíssimo que aconteceu aqui há uns três anos, foi um grupo de amigos que começou a se reunir em um bar no bairro da Serra, o Bar do Salomão. Ele é muito antigo e tradicional no futebol, mas não tinha tradição na música. Esse movimento começou com um grupo pequeno e acabou se expandindo, hoje tem um público muito grande que frequenta toda semana — comenta.
— E também começaram a participar jovens músicos, inclusive vindos de outros estilos musicais. Esses foram se interessando pelo choro, por sua riqueza enquanto música instrumental, e a partir disso têm surgido novos grupos de choro. Enfim, o choro voltou com muita força — continua.
Atualmente o Naquele Tempo conta com sete componentes, sendo quatro deles jovens.
— Da formação original ficamos somente eu e o Flávio Fontenelle, que tem um talento todo especial no bandolim e no violão de 7 cordas. É ele também nosso principal compositor. Todos compomos, mas a maioria é dele — explica Bigô.
— Nos juntamos com um amigo, o Hermínio de Almeida, que é Oboísta (músico que toca oboé, um instrumento de sopro) e professor da Escola de Música da UFMG. E vieram mais quatro integrantes: Thiago Balbino, no bandolim, Rodrigo Rift, no cavaquinho, Luiz Lobo, no pandeiro, e Marcelo Issa, no violão de 7 cordas. Todos abaixo dos 30 anos de idade, o que está sendo um encontro muito feliz — declara.
Bigô diz que o grupo tem uma característica muito particular desde o seu princípio, em função do projeto antigo de fazer uma música com uma construção harmônica bem trabalhada e fora dos padrões tradicionais.
— Normalmente nossos choros são bastante ricos em termos de harmonia, e trabalhamos muito com os arranjos, em função das opções que temos de solistas, e de sopros, com os saxofones, o oboé. Isso faz um som um pouco diferente, e parece que tem agradado bastante. Além disso, com essa nova formação, interpretamos também grandes compositores eruditos, como Bach e Villa-Lobos, e nomes da MPB como Tom Jobim e Edu Lobo — expõe.
— Este ano já tocamos no conservatório da UFMG, Espaço Cultural CentroeQuatro, e Museu e Artes e Ofício. Todas as apresentações foram muito especiais, com um público bastante grande. E estamos nos preparando para tentar viabilizar a gravação do nosso primeiro CD — avisa.
— Na verdade, temos participações em outros discos, mas, ainda não conseguimos fazer o nosso. Porém, músicas é que não faltam, até porque fazemos um trabalho de laboratório, de estudo do choro, composição, e temos nos reunido bastante para estudar e compor — finaliza Bigô.
Para contatar o Naquele Tempo: (31) 9876-6656 ou [email protected]