Nas ruas contra o PAN

Nas ruas contra o PAN

Durante a abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio, cerca de mil e quinhentas pessoas saíram às ruas num protesto devido a uma série de agressões cometidas contra o povo sob o pretexto da realização do PAN. Foram lembrados os contratos superfaturados, as reformas neoliberais e a violência policial nas favelas.

A concentração começou às 11h e até às 14h foi juntando gente. Vinham de todos os lados: camponeses sem-terra; desabrigados; sindicalistas; professores; estudantes; servidores públicos em geral e até palhaços.

Marcelo Braga, da Rede Contra a Violência, ressaltou a importância dessa manifestação popular:

— O ato mostra que nem todo mundo se cala diante dos abusos dos donos do poder, que a cada dia massacram mais a sociedade, as classes mais exploradas e que, de tempos em tempos, utilizam argumentos como o Pan para aumentar a violência — disse.

Camponeses ergueram cruzes de madeira com o nome de companheiros assassinados pela repressão no campo, geralmente a mando de especuladores rurais. Um manifestante negro trazia escrito em sua camisa: “Senzala ontem, favela hoje. A resistência continua”.

Por volta das 14h, os manifestantes se dividiram. Numa manobra autoritária, Cyro Garcia, líder do PSTU, disse que “em uma reunião rápida, a direção decidiu seguir para a Cinelândia”. Foi vaiado. O povo queria seguir para o Maracanã, onde seria realizada a cerimônia de abertura.

No caminho até a Cinelândia, a massa percebeu a cilada dos oportunistas. A Polícia Militar fechava uma pista da Avenida Presidente Vargas para o carro de som passar.

Quanto ao fato de não seguir para o Maracanã, isso não foi uma decisão coletiva. O povo, lá embaixo, gritava:

— Se esse ato é contra o PAN, a gente tem que ir pro Maracanã.

Num piscar de olhos, pancadaria. Os dois grupos distribuíram socos e pontapés, uns contra os outros. A manifestação estava dividida. Entre os partidos da esquerda reformista e grupos revolucionários, entre anarquistas, camponeses pobres e moradores de favelas.

Enquanto a maioria seguia com o carro de som para a Cinelândia, cerca de 300 pessoas rumaram, sozinhas, em direção ao Maracanã. Se antes era grande o receio da repressão com que a polícia os receberia, agora o temor era latente. Mesmo assim, o reduzido grupo decidiu arriscar sua integridade física em nome de um verdadeiro protesto. Porque era lá, em frente ao Maracanã, onde estavam os turistas, os atletas, o público pagante e a imprensa estrangeira, gente que jamais ficaria sabendo das violências cometidas em nome dos Jogos Pan-Americanos por outros meios.

Agora, com as palavras de ordem “Pra gente rica o PAN é esporte, pra favelado é porrada e morte”, os manifestantes distribuíram panfletos e conversaram com as pessoas nas ruas.

Para a surpresa de todos, povos originários também estavam no entorno do Maracanã protestando contra prisões e assassinatos de suas lideranças. O ato terminou em frente à Ocupação Tamoio dos Povos Originários e conseguiu lograr algum êxito, na medida em que constrangeu internacionalmente os organizadores dessa farra promovida com dinheiro público.

As entidades envolvidas na organização da manifestação preparam uma reunião de avaliação do ato. No encontro, discussões que vão desde a análise da manifestação até considerações sobre a vaia ao presidente da República.

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