Nem as odes à farsa legitimam sufrágios burgueses

Nem as odes à farsa legitimam sufrágios burgueses

Às vésperas de mais um farsesco processo eleitoreiro na Venezuela, por meio do qual o demagogo Hugo Chávez se manteve na gerência do capitalismo burocrático daquele país, o ex-chefe do imperialismo ianque Jimmy Carter fez rasgados elogios ao sufrágio venezuelano, classificado por Carter como “o melhor do mundo” em função de o sistema de votação local incluir duas formas de contagem, o que, diz ele, dificulta qualquer tipo de tentativa de fraude, como se os processos eleitorais burgueses não fossem uma fraude em si. Afirmou ainda que “os sistemas de financiamento de campanha nos países latino-americanos melhorou significativamente” – mostrando que para o imperialismo a gerência de Chávez afinal não é tão má assim, ao contrário…

Patranhas como esta de Jimmy Carter têm sido comuns, cada vez mais comuns enquanto esforço para tentar dar alguma legitimidade às farsas eleitorais patrocinadas pelos monopólios internacionais e pelas burguesias locais ao passo que os povos oprimidos do mundo tomam consciência da real natureza dos processos eleitoreiros – uma natureza funcional ao sistema de exploração do homem pelo homem – e do quanto participar do sufrágio burguês é na verdade contraproducente para as autênticas lutas dos povos por uma democracia popular.

As odes aos sufrágios enganosos semicolônias afora, proferidas pelos chefes imperialistas soam ainda mais demagógicas quando observadas de forma pregressa. Vejam, por exemplo, o que disse Bush em 2004, quando ainda encabeçava o imperialismo ianque, acerca da primeira farsa eleitoral organizada pela ocupação estrangeira no Afeganistão depois que as potências lá se instalaram, em 2001:

“Enquanto nos reunimos aqui, nesta manhã, algo realmente grandioso está acontecendo no Afeganistão. As pessoas desse país, que há apenas três anos sofriam sob o brutal regime dos talibãs, estão indo às urnas para votar em um presidente. Pensem nisso. Há apenas três anos, as afegãs eram executadas em estádios. Hoje, estão elegendo o líder de um país livre”.

Hoje, oito anos depois daquele “algo grandioso”, a resistência afegã à ocupação imperialista acaba de chegar à marca de duas mil baixas aos ianques, sem contar os mortos entre as fileiras do imperialismo europeu, um número que constitui uma retumbante e incontestável resposta à toda truculência, demagogia e provocação, a uma agressão que conta com 160 mil mercenários (“funcionários de segurança privada”) enviados ao Afeganistão para garantir o “país livre”, segundo estimativa referente ao ano de 2011 do pesquisador estadunidense Jeremy Scahill.

Abstenção recorde no Brasil

Na semicolônia Brasil, desde as vésperas do dia das eleições as emissoras de TV do monopólio dos meios de comunicação fizeram repetir infinitas vezes ao longo da programação expressões como “festa da democracia” e “exercício da cidadania” na hora de se referir à farsa eleitoral, em desesperadas tentativas de tentar manter de pé toda a mistificação em torno da ideia do voto como a única “arma” que o povo teria para transformar sua própria realidade.

No dia 4 de outubro o Tribunal Superior Eleitoral autorizou o envio de militares para “garantir eleições limpas” em mais 127 municípios da nação. Ao todo, são quase 400 cidades em que o exército foi, com fuzis, tentar garantir que as urnas fossem abertas e fechadas sob a normalidade da enganação geral da convocatória eleitoral, para que depois a polícia militar, também com fuzis, seguisse garantindo a “normalidade” do velho Estado de manter o povo vigiado e oprimido.

E particularmente no Brasil a corja que pede o voto do povo está apavorada com a rejeição cada vez maior das massas à farsa eleitoral, porque eleição após eleição o embuste fica mais evidente. O sufrágio burguês municipal deste ano já é o mais caro da história no Brasil. Os 480 mil candidatos gastaram mais dinheiro do que nunca para tentar emplacar suas patranhas. O gasto total já passou de R$ 1 bilhão. Só com papel de contra-propaganda eleitoreira o gasto já chegou a R$ 300 milhões. E o segundo turno vem aí. Paga a conta do circo sufragista quem realmente tem algo a ganhar com ele: o poder econômico.

Findo o primeiro turno da farsa eleitoral de 2012, a “ministra-presidente” do TSE, apareceu para dizer que as eleições foram um sucesso. “O clima foi de absoluta normalidade, tranquilidade. Sem intercorrência”, disse ela. Não obstante a clara podridão generalizada, os sistemáticos desrespeitos de candidatos e cabos eleitorais à quase totalidade das regras estipuladas pelo próprio TSE e o fracasso absoluto da mais corneteada tentativa dos últimos tempos para fazer fumaça à natureza fraudulenta dos processos eleitorais no Brasil: a chamada “Lei da Ficha Limpa”.

Sucesso mesmo ao fim de mais uma eleição no Brasil foram as 22 milhões de pessoas, ou 16,41% do “eleitorado”, que não apareceram para votar, conscientizados pelas corajosas campanhas de denúncia da farsa eleitoral. Em São Paulo, por exemplo, quase 13% dos eleitores votaram em branco ou nulo para prefeito. Nas duas últimas eleições municipais, o índice não chegou a 7%. São as massas cada vez mais convictas de que sua arma não é o voto, como os poderosos tentam a todo custo fazer crer, mas sim a luta radicalizada, de natureza revolucionária, das classes populares contra seus opressores.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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