Nepal: a traição completa dos revisionistas

Nepal: a traição completa dos revisionistas

Direção do PCN-U (M) entrega as armas ao velho Estado

Da guerra popular à capitulação

Após 10 anos de heroica Guerra Popular, dirigida pelo Partido Comunista do Nepal (Maoísta), no ano de 2006 posições capitulacionistas que já vinham sendo defendidas por alguns dirigentes do PCN (M) foram tornadas públicas com o anúncio de um “cessar fogo” e o fim da luta armada.

Isso se deu após um gigantesco levantamento de massas em todas as cidades e vilas do Nepal, sobretudo na capital Katmandu, quando as massas em armas, dirigidas pelo PCN (M) já haviam estabelecido órgãos do novo poder na maior parte do país.

O rei Gyanendra, acossado pelo avanço das forças revolucionárias, se viu forçado a suspender o estado de emergência que vigorava no país e a restabelecer o parlamento.

O que os dirigentes do PCN (M) anunciaram como avanço da democracia no país foi revelado, posteriormente, não só por suas palavras, mas também pelos fatos, na completa traição e capitulação da Guerra Popular.

O cessar-fogo entre o Exército Popular de Libertação EPL e o Exército Real do Nepal foi sucedido por uma série de negociações envolvendo os partidos políticos legais do país e uma assembleia constituinte conduziu à formação, em 2008, de um governo interino com Pushpa Kamal Dahal (Prachanda), principal liderança do PCN (M), ocupando o cargo de primeiro-ministro.

Foi posto em marcha o plano de integração do EPL ao Exército do Nepal (antigo Exército Real). Os combatentes do EPL entregaram suas armas que foram trancafiadas em contêineres sob custódia do governo nepalês e supervisão da ONU.

Em janeiro de 2009, após a fusão com o Partido Comunista do Nepal (Centro-Mashal), muda-se o nome do PCN(M) para Partido Comunista do Nepal Unificado (Maoísta)  PCN-U (M), que posteriormente teve também a incorporação do Partido Comunista do Nepal (Marxista-Leninista).

A partir de então, abriu-se uma séria polêmica no seio do partido desde as suas bases até os altos postos de direção. Alguns dirigentes acusaram o partido de estar tomado da enfermidade do negociacionismo, reclamando uma tática que leve a revolução à frente e às suas metas programáticas. Outros dirigentes renunciaram aos mandatos na Assembleia Constituinte ou em altas funções de Estado. Porém, essas críticas se limitavam a estas questões, sem tocar no problema de como levar a revolução de Nova Democracia a termo, tergiversavam sobre a situação do EPL desarmado e acantonado em péssimas condições e seguiam defendendo o chamado “Caminho Prachanda”, cuja essência expressa graves revisões do marxismo-leninismo-maoísmo.

A Conferência Nacional do partido realizada em dezembro de 2008, que contou com a presença de 800 quadros, terminou, apesar da existência de manifestações contrárias de alguns dirigentes, em uma ampla composição em torno da linha revisionista e capitulacionista.

Capítulos recentes da grande traição

Com informações de: agência de notícias AFP, dazibaorojo08.blogspot.com, democracyandclassstruggle.blogspot.com, , nepalnews.com, odiodeclase.blogspot.com e do artigo “Para compreender como foi traída a revolução” de Ramesh Sharma, no periódigo The Next Front.

  • Nos últimos três meses, as divergências se agravaram na direção do PCN-U (M). Prachanda e Baburam Bhattarai anunciaram que, conforme os acordos do “plano de paz” firmados entre o partido e o governo nepalês, o PCN-U (M) deveria entregar as chaves dos contêineres com as armas do EPL para conclusão do processo de incorporação do EPL ao exército do Nepal.
  • Mohan Baidya (Kiran), alto dirigente do PCN-U (M), em entrevista concedida ao Nepal News em 6 de agosto, qualificou o plano da direção revisionista do partido como “um ato de capitulação ante as forças de repressão”. Dezenas de milhares de trabalhadores e a juventude saíram às ruas de Katimandu com tochas nas mãos em repúdio â entrega das armas do EPL.
  • Em 28 de agosto, Baburam Bhattarai, vice-presidente do PCN-U (M), foi eleito primeiro-ministro do Nepal contando com o apoio de 340 dos 594 membros do parlamento. Com esse resultado, o PCN-U (M) volta ao posto mais elevado do poder no Estado nepalês após um hiato de 27 meses. Bhattarai foi o nome escolhido num consenso entre todos os partidos, incluindo o ultrarreacionário partido do Congresso Nepalês, para concluir o processo de ‘paz’ e desarmamento cabal do Exército Popular.
  • Com a eleição de Bhattarai, a direção do PCN-U (M) coroou o processo de traição à revolução. No dia 31 de agosto, em uma reunião do Comitê Especial de Integração do Exército com o governo nepalês, foi efetuada a entrega das chaves dos contêineres com as armas da Terceira Divisão do EPL acantonada em Shaktikhor Chitwan e da Segunda Divisão acantonada em Dudhauli Sindhuli.
  • No dia 1º de setembro, Kiran emitiu um comunicado exigindo a revogação da entrega das chaves e denunciou que esta medida é contrária à posição da maioria no partido e no comitê central:
    “O partido concordou com o reagrupamento dos membros do EPL apenas depois de cumprida uma série de questões relativas ao modo como as armas e unidades serão redistribuídos, a decisão repentina de Prachanda e Baburam nos surpreendeu. Isso é contrário à decisão do comitê permanente do partido e do comitê central. Esta decisão é um golpe para dissolver e liquidar o Exército Popular de Libertação, de desarmá-lo. Condenamos fortemente este tipo de decisão e também apelamos a todos os interessados para que seja rescindida essa decisão suicida”.
    Como se vê, a crítica de Kiran se limita ao modo como é conduzido o desarmamento, não contra o próprio desarmamento do EPL:
    “O nosso partido tem se comprometido com o cumprimento da constituição e com a integração do exército, em conformidade com o Acordo Global de Paz. Temos claro que ambas as responsabilidades têm de ser cumpridas simultaneamente. Não pode haver divisão de opiniões sobre a integração do exército, que é uma parte importante do processo de paz.”
  • Em 11 de setembro, o periódico nepalês Nepal News noticiou que o primeiro-ministro Baburam Bhattarai realizaria sua primeira missão internacional assistindo a 66ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York USA e, no seu retorno, faria a primeira visita oficial à Índia, atendendo ao convite do ministro Manmohan Singh, para tratar do estreitamento das relações diplomáticas, comerciais e multilaterais com o velho Estado indiano.
  • No dia 18 de setembro surgem novas críticas de Kiran à direção do PCN-U (M), ele afirma que a direção do partido caminha “para a rendição e que compromete o caminho da revolução”. Em entrevista concedida ao Nepal News, Kiran acusa Bhattarai e Prachanda de terem abandonado o caminho da Guerra Popular e de ignorar a difícil situação das famílias dos mártires e dos feridos.
    “A posição do primeiro-ministro não é a de todo o partido. Ele tem que seguir a decisão do partido. Nosso partido não tomou tal resolução. Nosso partido nunca decidiu a entrega das chaves” afirmou Kiran que também respondeu sobre as ameaças de sanção a ele e outros dirigentes do PCN-U (M) por criticarem a direção do partido “Não somos nós que estamos violando a disciplina partidária, mas Prachanda e Baburam, portanto, eles têm de enfrentar uma ação disciplinar e não nós”.
  • No dia 24 de setembro Kiran se reuniu com Prachanda para reafirmar suas discordâncias com o desarmamento do EPL. A reunião se deu na residência de Prachanda e durou cerca de 10 minutos. Kiran foi sozinho até esse encontro e manteve sua posição contrária à de Prachanda e do primeiro-ministro. Ao terminar essa reunião ele declarou que prosseguirá se opondo a essa linha na luta ideológica no seio do partido.
  • Ao retornar de sua excursão internacional ao USA e à Índia, Bhattarai se reuniu com Prachanda para combinar forças e combater a oposição de Kiran e outros dirigentes contrários ao “acordo de paz” e desarmamento do EPL. Prachanda e Bhattarai vêm se empenhando no adiamento da reunião do CC do partido para tentar retardar o desfecho dessa questão.
Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: