Nilson Chaves, o ‘violeiro amazônico’

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Nilson Chaves, o ‘violeiro amazônico’

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Cantor, compositor e violonista, Nilson Chaves é um dos grandes representantes da música brasileira da região amazônica. Aos 50 anos de idade e dezessete discos gravados, ganhador de vários prêmios no Brasil e exterior, ele se orgulha de ser um ‘cantador’ fiel da legítima música popular brasileira.

Quando criança, seu pai trabalhava fazendo bailes na região, o que mantinha a família envolvida com música. Já aos 7 anos de idade começou a ouvir Dolores Duran, Maysa, Tito Madi, João Gilberto, Nara Leão, entre outros. Aos 12 passou a aprender violão e tentar compor.

— Conheci Vital Lima nessa época e crescemos musicalmente juntos, compondo, fazendo música para teatro e atuando como ator. Isso tudo em Belém — conta.

Mais tarde mudou-se para o Rio, levando consigo cartas de apresentação do maestro Waldemar Henrique, e as entregando, entre outros, a Sebastião Tapajós e ao maestro Guerra Peixe.

— Tornei-me amigo e irmão de Sebastião Tapajós, e passamos a tocar e compor juntos. O Maestro Guerra Peixe me atendeu carinhosamente e, durante seis meses, passei a estudar de graça com ele. Até 1980 considero minha vida musical um aprendizado — diz.

Nilson considera que sua carreira de músico profissional começou quando gravou seu primeiro vinil, em 1981, com a ajuda de Cristovan Araújo, um grande amigo.

— Ele é meu parceiro na canção Olho de Boto que é um hino até hoje em Belém. Foram muitos os que me inspiraram e também me apoiaram, como: Antonio Adolfo, Taiguara, Toninho Horta, Flavio Venturini, Lenine, Leci Brandão, João do Vale, Celso Viáfora e Gonzaguinha, de quem fiquei bem próximo — enumera.

— Tive o privilégio de viver sempre de música. De 1980 até 86 fiz muitos festivais, sendo que em 1984 com o lançamento do meu segundo vinil, em parceria com Vital Lima, comecei a direcionar minha carreira em shows e viagens pelo Brasil, sempre participando do programa de televisão Som Brasil, apresentado na época por Rolando Boldrin, uma pessoa que admiro muito — elogia.

Longe da sua região, Nilson sentia muita saudade e para aliviar criava canções falando desse sentimento, mencionando nas letras tudo o que o levava até lá: os sabores, as lendas, os hábitos, o sotaque, cheiro de rios, florestas e tudo que estava nele e permanece até hoje.

— Assumi a música amazônica mesmo sabendo que o mercado brasileiro não tinha interesse em tocá-la. Sabia que era difícil, mas acreditava que um dia poderia ser respeitado, apesar de ter recebido propostas de gravadoras para mudar meu estilo e passar a cantar algo dentro do mercado, o que sempre recusei — declara.

Parcerias, viagens e resistências

Nilson já fez parcerias, entre outros, com artistas da região amazônica, como Zé Miguel do Amapá, Bado de Roraima, Graça Gomes e Sérgio Souto do Acre, Eliana da Amazonas e muitos outros.

— Sempre gostei de dividir palco com companheiros. Esses encontros renderam-me experiência, admiração, aprendizado, tudo que é positivo em um encontro de pessoas. Sempre que vou a uma cidade, procuro ouvir e conhecer os companheiros. Isso me enriquece.

Há mais de dez anos Nilson tem levado as tradições amazônicas para o exterior, através de muitas turnês, principalmente a países da Europa. Já teve, inclusive, dois CDs, Tudo Índio e Amazônia Brasileira, gravados por um selo alemão.

— Essas viagens são exatamente por eu cantar a música brasileira amazônica que tem nome muito forte lá fora. O que fazemos na verdade é a música brasileira, mas com uma cara amazônica. Costumo dizer que se eu fizesse um samba, ele seria um samba amazônico e não carioca, porém continuaria a ser brasileiro — fala.

— Por aqui temos ritmos populares como carimbó, lundu, marujada, retumbão, síria no Pará, batuque e caribenho/indígeno, boi-bumbá, os cantos ribeirinhos do Amazonas, enfim, uma variedade de ritmos brasileiros de qualidade.

Nilson tem recebido os títulos de ‘violeiro amazônico’ e ‘cantador paraense’, ao longo de sua carreira, o que lhe faz sentir-se honrado.

— Meu instrumento é o violão. O título de violeiro é mais por cantar uma música nativa falando de seus hábitos e raízes. Não temos viola por aqui e nem essa cultura violeira, e sim tambores, violão, e outros instrumentos naturais. Imagino que esses títulos vieram de minha postura insistente de cantar a região. E o povo daqui ama sua cultura e tem orgulho disso.

Segundo Nilson o artista sempre foi e continuará sendo uma força de resistência.

— Grandes movimentos musicais brasileiros aconteceram dentro de uma situação caótica do país, a ditadura militar. O artista tem na sua arte o seu motivo de vida, e quanto mais sofre mais cria força de superação. Em geral, a arte verdadeira é resistente, questionadora, audaciosa, apaixonante e duradoura — declara.

— E essa arte sofre opressão. Por exemplo, hoje não temos chance de aparecer na grande mídia, porque vamos provocar reflexões no povo. Vivemos em uma democracia que tem o comportamento de: ‘tudo pode ser dito e falado, tudo é livre, você pode dizer o que quiser, mas o poder também tem direito ‘democrático’ de publicar, divulgar ou não’. E é muito prática essa democracia vestida de uma liberdade silenciosa e demagoga— acrescenta.

Nilson questiona o fato das músicas descartáveis, como axés, pagodes, funks, sertanejos e outros, serem consideradas populares.

— A música popular no meu entender é aquela que se identifica com seu povo. Que retrata suas angústias, seus amores, seu hábito, seu cotidiano, sua história — declara.

— É muito fácil ser popular quando se tem por traz rádios, televisões e jornais massificando-as. Popular para mim é Geraldo Azevedo, Paulinho Pedra Azul, Chico César, Chico Buarque, Xangai, Zeca Baleiro e tantos outros, e o povo canta suas músicas mesmo sem essas tocarem nas grandes rádios e Tvs abertas — acrescenta.

Ele se considera um cantador que construiu uma base para o seu trabalho durante muitos anos, sempre considerando sua raíz, juntamente com outros artistas que fazem um trabalho dentro da música brasileira.

— Nós resistimos, porque fazemos parte da história e não dos descartáveis. O público torce pelo nosso trabalho e compra nossos CDs. Os artistas da noite cantam nossas canções e assim nos mantém vivos — fala.

Nilson Chaves lançou em maio o DVD Gente da mesma floresta, com um show que considerou ‘forte e inesquecível’, e no momento está preparando outro DVD, com Vital Lima e um CD/DVD com o Trio Manari e o percussionista Mapyu.

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