Em diversos lugares do mundo trabalhadores, estudantes intelectuais e democratas, juntamente com a comunidade árabe internacional, reuniram-se em grandes protestos para condenar mais uma agressão israelense contra o povo palestino e exigir a desocupação dos territórios, além da criação de um Estado palestino.
Já nos primeiros dias do ataque as manifestações foram explodindo em todo o mundo, a começar pelos povos árabes da Jordânia, Líbano, Síria, Egito, Irã, Iraque e outros que apesar da capitulação e submissão de seus governantes aos interesses imperialistas de USA/Israel, não exitaram em ir às ruas em defesa do povo palestino covardemente agredido. Uma gigantesca manifestação na Turquia reuniu cerca de 700 mil pessoas.
Na Europa, em todas as capitais as massas foram às ruas. Protestos de dezenas de milhares de pessoas tomaram as ruas de Londres, Paris, Madrid, Lisboa, Berlim, Estocolmo e outras cidades, anunciando a solidariedade dos povos europeus aos palestinos.
Houve protestos ainda na Austrália, Indonésia, Mauritânia e Senegal.
Na América Latina, grandes manifestações aconteceram na Venezuela, Bolívia, Colômbia, Argentina, Chile e outros, além do Brasil, que assistiu em diversas cidades a população exigir o fim dos ataques à Faixa de Gaza.
No Brasil, aumentam os protestos e a solidariedade
Como era de se esperar, no Brasil o movimento popular organizado demonstrou todo o seu repúdio aos covardes ataques de Israel à Faixa de Gaza.
No Rio de Janeiro, na quinta-feira (8) mais de mil pessoas se reuniram na Candelária, Centro da cidade, para uma grande caminhada até a porta do consulado do USA, onde sapatos foram atirados contra o prédio e bandeiras de Israel e USA foram queimadas. O ato, convocado pela Federação das Entidades Árabes (FEARAB), teve participação de diversas entidades além de forte presença do movimento estudantil.
No domingo (11) mais de 5 mil pessoas foram ao Centro de São Paulo para exigir o fim imediato dos ataques de Israel à Faixa de Gaza. A passeata percorreu a Avenida Paulista, do Museu de Arte de São Paulo até o Parque do Ibirapuera e foi organizada pela UNI (União Nacional das Entidades Islâmicas) e contou com a participação de estudantes e trabalhadores de diversas entidades.
Em honra do sangue derramado
No dia 9 de janeiro, uma combativa manifestação convocada pela Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo – FRDDP, que contou com a participação de mais de 200 pessoas ocupou a Praça Sete, no centro da capital mineira, erguendo a consigna de "Israel fascista, fora de Gaza e toda Palestina". Com muitas faixas, bandeiras e cartazes de denúncia, os manifestantes protestaram contra os ataques genocidas de Israel e manifestaram solidariedade à resistência do povo palestino.
No dia 15 de janeiro um protesto ainda maior tomou as ruas. Mais de 600 pessoas compuseram a manifestação, entre elas trabalhadores, estudantes, camponeses e diversas organizações como a Liga Operária, Federação das Entidades Árabes – FEARAB MG, representantes da Mesquita Muçulmana, Centro de estudos Islâmicos de BH, o Sindicato dos Trabalhadores da Construção de BH e Região, Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de BH e Região, Movimento Feminino Popular – MFP, Movimento Estudantil Popular Revolucionário – MEPR, Sindicato dos Trabalhadores dos Correios, Partido da Causa Operária – PCO, Oposição Sindical dos Jornalistas de Minas Gerais, Comitê Mineiro de Solidariedade ao Povo Palestino, entre outros.
Durante a passeata, mulheres com o rosto coberto carregavam bonecos tingidos de vermelho, representando as centenas de crianças assassinadas pelos bombardeios de Israel, salvas de foguetes saudaram a resistência palestina.
Em um dado momento do protesto, uma coluna de manifestantes com os rostos cobertos atiraram tinta vermelha em frente à Federação Israelita simbolizando o sangue derramado pelo povo palestino em 20 dias de agressão. E após várias intervenções das organizações que participaram do ato, os manifestantes queimaram as bandeiras de Israel e dos Estados Unidos.
Houve ainda grandes manifestações em Foz do Iguaçu, Curitiba, Porto Alegre, Goiânia e várias outras cidades.
Dois dias de relatos desde Israel
Há décadas o jornalista britânico Robert Fisk acompanha de perto a atuação do imperialismo no Oriente Médio, denunciando-a. São dele os melhores relatos também dos assassinatos cometidos e das mentiras contadas por Israel, com a autoridade de quem está lá e se mostra disposto a reportar os fatos com honestidade. Suas reportagens são publicadas pelo jornal The Independent, da Inglaterra. A Nova Democracia traduziu alguns trechos de duas das suas reportagens sobre a atual ofensiva sionista na Faixa de Gaza. Veja abaixo trechos de sua correspondência nos dias 7 e 8 de janeiro.
07.01.2009
Mais uma vez Israel abriu as portas do inferno para os palestinos. Quarenta civis refugiados mortos em uma escola das Nações Unidas, mais três em outra. Nada mau para uma noite de trabalho em Gaza de um exército que acredita na "pureza das armas". Mas por que estaríamos surpresos?
Por acaso nos esquecemos dos 17.500 mortos em 1982 na invasão de Israel ao Líbano; dos 1.700 civis palestinos mortos nos massacres de Sabra e Chatila; do massacre de 106 refugiados civis libaneses em uma base da ONU em Qana, em 1996, sendo mais da metade deles crianças; do massacre em 2006 dos refugiados da aldeia libanesa de Marwahin, que foram expulsos de suas casas por Israel e, em seguida, abatidos por atiradores a bordo de um helicóptero israelense; dos mil mortos na guerra movida por Israel contra o Líbano também em 2006, quase todos eles civis?
No passado, já relatei as desculpas de que se serviu o exército israelense para justificar estes ultrajes. Tendo em vista que elas podem muito ser requentadas nas próximas horas, aqui estão algumas delas: que os palestinos mataram seus próprios refugiados, que os palestinos desenterraram corpos de cemitérios e os colocaram nas ruínas, e que, em última instância, os palestinos são os culpados, porque eles apoiaram uma facção armada, ou porque palestinos armados deliberadamente utilizaram refugiados inocentes como escudos humanos.
Sem dúvida ouviremos todas estas mentiras novamente. Nossos dirigentes irão se exasperar e bufar e dirão ao mundo que o Hamas rompeu o cessar-fogo. Pois não foi isto o que aconteceu. Foi Israel que o fez, no dia 4 de novembro do ano passado, quando um bombardeio seu matou seis palestinos em Gaza, e novamente em 17 de novembro, quando outro bombardeio matou mais quatro palestinos.
08.01.2009
Como é fácil esconder a história dos palestinos, falsear a narrativa da sua tragédia, a fim de evitar uma grotesca ironia sobre Gaza, sobre a qual, em qualquer outro conflito, os jornalistas estariam escrevendo em seus primeiros informes sobre a guerra: que os donos originais, legais da terra israelense sobre a qual caem os foguetes do Hamas vivem na verdade em Gaza. Por isto existe Gaza: Porque os palestinos que viviam em Ashkelon e em seus arredores – Ashalaan, em árabe – foram desapropriados de suas terras em 1948, quando Israel foi criado e eles foram confinados nas praias de Gaza.
Eles – ou seus filhos, netos e bisnetos – estão entre o milhão e meio de refugiados palestinos que abarrotam Gaza, 80% dos quais vêm de famílias que um dia viveram onde hoje é Israel. Esta é a verdadeira história: a maioria dos habitantes de Gaza não é de Gaza.
Mas, ao ver o noticiário, pode-se pensar que a história começou ontem, que um grupo de barbudos islâmicos, lunáticos e antissemitas, surgiram de repente nos bairros pobres de Gaza e começaram a lançar mísseis contra o pacífico, democrático Estado de Israel, só para provocar uma vingança justa da força aérea israelense. O fato de que cinco irmãs mortas no campo de Jabalya tinham avós que vinham da mesma terra cujos mais recentes proprietários agora as tinham bombardeado até a morte simplesmente não aparece na história.
Tanto Yitzhak Rabin como Shimon Peres disseram, lá pela década de 1990, que desejavam que Gaza simplesmente desaparecesse, e podemos ver por quê. A existência de Gaza é uma lembrança permanente daquelas centenas de milhares de palestinos que perderam suas casas pela mão de Israel, que há 60 anos fugiram ou foram expulsos, por medo ou em razão da limpeza ética empreendida pelos israelenses, quando ondas de refugiados ainda vagueavam pela Europa depois da II Guerra Mundial e quando árabes escorraçados aos montes de suas propriedades não preocupavam o mundo.
Bem, o mundo deveria se preocupar agora. Amontoado nos quilômetros quadrados mais superlotados do mundo está um povo expropriado que está vivendo em meio ao lixo e ao esgoto e, nos últimos seis meses, com fome e no escuro, e que vem sendo penalizado por nós, o Ocidente. Gaza sempre foi um lugar de insurreição. Levou anos para que a sangrenta "pacificação" iniciada por Ariel Sharon terminasse, e Gaza não será domesticada agora.
Destruindo os mitos sionistas
Um dos livros mais vendidos em Israel no ano de 2008 e traduzido para seis idiomas, Quando e como o povo judeu foi inventado (sem edição em português), teve o efeito de uma verdadeira bomba de fragmentação sobre os mitos sionistas da existência milenar de um povo judeu, dos exílios e do reencontro deste mesmo povo após 20 séculos.
O autor do livro, o historiador Shlomo Sand, leciona História Contemporânea na Universidade de Tel-Aviv de 1985.
Em artigo assinado no Le Monde Diplomatique e em entrevista reproduzida no www.no-media.info o Prof. Shlomo Sand afirma que "No discurso israelita sobre as raízes existe uma dose de perversão. É um discurso etnocêntrico, biológico, genético". E que essa interpretação da história judaica, amplamente difundida "trata-se de uma obra do século 19, feita por talentosos reconstrutores do passado, cuja imaginação fértil inventou, sobre a base de pedaços da memória religiosa judaico-cristã, um encadeamento genealógico contínuo para o povo judeu. Claro, a abundante historiografia do judaísmo comporta abordagens plurais, mas as concepções essenciais elaboradas nesse período nunca foram questionadas".
Ao realizar a transmutação da religião em povo e posteriormente em nação, o sionismo não só atropela a história como a ciência de modo geral ao agrupar na categoria de povo judeu etnias tão díspares como judeus (nascidos na Judéia) casares e bérberes. Ou seja, através do processo de conversão em massa de povos submetidos o judaísmo foi se deslocando através do mediterrâneo, do norte da África, da Ásia central até o Cáucaso passando pelo território do, hoje considerado, curdistão. Daí, sob pressão dos mongóis, deslocou-se para a Europa do leste.
"Não reconheço um povo judeu internacional. Reconheço um povo yiddich que existia na Europa de Leste, que não é uma nação mas onde é possível ver uma civilização yiddish com uma cultura popular moderna. Penso que o nacionalismo judeu se desenvolveu a partir desta base yiddish" afirma o Professor.
A explicação para o surgimento de comunidades judaicas na península ibérica, também, se vincula, segundo Sand, a um processo de conversão e submissão dos povos bérberes do norte da África: "Interroguei-me por que razão comunidades judaicas tão importantes poderiam ter surgido na Espanha. Reparei então que Tariq Ibn-Ziyad, comandante supremo dos muçulmanos que invadiram a Espanha, era bérbere e que a maioria dos seus soldados era também bérbere. O reino bérbere judeu de Dahia Al-Kahina fora vencido apenas 15 anos antes. E a verdade é que há diversas fontes cristãs que declaram que muitos de entre os invasores de Espanha eram convertidos ao judaísmo. A origem da grande comunidade judaica da Espanha eram estes soldados bérberes convertidos ao judaísmo".
Baseando seus estudos em pesquisas antropológicas, nas descobertas da arqueologia e em estudos de historiadores da antiguidade o professor Sand chega à conclusão de que são os palestinos os verdadeiros herdeiros dos antigos habitantes da Judéia. Isto porque os romanos não exilaram nenhuma população da região e, portanto, os camponeses de então permaneceram em suas terras tendo se convertido parte ao cristianismo e parte ao islã.
A Bíblia e toda a mitologia sionista acreditada pela chamada civilização judaico-cristã vêm abaixo quando as pesquisas apontam que "Moisés não poderia ter feito os hebreus saírem do Egito, nem tê-los conduzido à terra prometida" — pelo simples fato de que, naquela época, a região estava nas mãos dos próprios egípcios! Aliás, não existe nenhum traço de revolta de escravos no reinado dos faraós, nem de uma conquista rápida de Canaã por estrangeiros. Tampouco há sinal ou lembrança do suntuoso reinado de Davi e Salomão.