Norte da áfrica e Oriente Médio – Impasse, repressão e nova rebelião popular

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Norte da áfrica e Oriente Médio – Impasse, repressão e nova rebelião popular

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Os povos rebeldes da Síria e do Iêmen que, como os líbios, corajosamente seguiram o exemplo de seus irmãos da Tunísia, do Marrocos e do Egito e levantaram-se em vigorosos protestos por uma democracia popular e contra a carestia, a exploração e a opressão, vêm sendo alvo de uma feroz repressão ordenada pelos chefes daqueles velhos Estados servis ao imperialismo que se recusam a deixar o poder – e, logo, as gordas comissões que os monopólios lhes pagam –, reagindo à insurreição com assassinatos e prisões em massa.

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Vala comum em Jisr-al-Shughour

Na Síria, o episódio mais marcante em meio à onda de repressão às massas insurretas foi a truculenta contraofensiva desencadeada pelo exército do “presidente” Bashar Assad (que está empoleirado na gerência do Estado sírio desde 1971) contra a cidade de Jisr al-Shughour, no noroeste do país, que chegou a ficar sob o controle dos manifestantes. Os militares usaram dezenas de helicópteros e tanques de guerra contra o povo.

A ação se deu após a morte de 120 agentes das forças de repressão. O governo de Assad atribuiu as mortes a “grupos armados”, mas moradores da cidade informaram que os soldados e os policiais foram mortos pelo regime depois de se recusarem a abrir fogo contra a sua própria gente.

Cerca de sete mil sírios abandonaram a região de  Jisr al-Shughour e se dirigiram para a Turquia, com medo de serem presos ou executados. Muitos ficaram aguardando o desenrolar dos acontecimentos na fronteira. Dezenas de pessoas foram mortas. Emigrados disseram ter visto cadáveres na beira das estradas.

Relatos dão conta de que todos os homens sírios na faixa etária dos 18 aos 40 anos de idade estão sendo presos. Ao todo, cerca de 1.300 civis morreram na Síria desde que os levantes populares começaram, segundo informações de organizações de defesa dos “direitos humanos”. Só no domingo, dia 6 de junho, foram mais de 40 execuções de manifestantes em todo o país. Mais de 300 soldados e policiais também tombaram mortos.

O USA, farejando a inevitabilidade da reestruturação do Estado sírio, financia a chegada ao poder de uma outra facção das elites locais, que já está devidamente acertada com os monopólios ianques.

No Iêmen, ‘guerra secreta’ do USA

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Soldado e policial mortos em Jisr-al-Shughour

No dia 4 de junho, um ataque a bomba contra a mesquita do palácio presidencial na capital do Iêmen, Sanaa, matou sete seguranças e deixou o presidente iemenita, Ali Abdullah Saleh, gravemente ferido. Saleh foi levado logo em seguida para um hospital militar em Riad, na Arábia Saudita.

No início de junho, o jornal ianque The New York Times noticiou que o USA vem levando a cabo uma “guerra secreta” no Iêmen, com ataques clandestinos de aviões não-tripulados contra alvos alegadamente “terroristas”.

Uma fonte do Pentágono citada pelo New York Times cacarejou que militantes da Al Qaeda se misturaram aos manifestantes, patranha que lança indagações sobre os reais alvos da “guerra secreta” no Iêmen e indicativa de que o USA parece disposto a intervir diretamente naquele país a fim de evitar que a “transição pacífica” do poder de facção para facção, uma requisição de Washington às elites locais, fuja do controle daqueles que querem manter o Iêmen entregue ao imperialismo.

No dia 13 de junho, o presidente em exercício do Iêmen, Abed Rabbo Mansour Hadi, anunciou que “situação e oposição” haviam chegado a um acordo para a saída de Saleh e a transferência de poder, a do tipo “pacífica” e mantenedora das velhas estruturas de rapina dos monopólios e opressão do povo, tudo do jeitinho que o USA quer.

Na Líbia, o cenário ainda é de negociações envolvendo o imperialismo europeu, o USA, a Rússia, o governo Khadafi e os “rebeldes” líbios. Depois da França, a Alemanha foi a segunda potência europeia a reconhecer os “rebeldes” como o governo oficial da Líbia, em uma situação complexa cuja imagem mais reveladora no mês de junho foi a de Muammar Khadafi aparecendo na TV jogando uma partida de xadrez com o presidente da Federação Internacional de Xadrez, o russo Kirsan N. Iliumzhínov, quase que ao mesmo tempo em que um enviado especial da Presidência da Federação da Rússia à Líbia se reunia com os “rebeldes” em Benghazi.

 

“Novos” gerentes, velho Estado, nova rebelião

Depois de meses de luta por uma democracia popular que resultou na queda de Hosni Mubarak, o povo egípcio prossegue em sua luta. O atual gerenciamento do velho Estado egípcio é encabeçado pelo antigo ministro da defesa de Mubarak, o presidente do Conselho Supremo das Forças Armadas, Mohammed Hussein Tantawi. No poder há quatro meses, ele é apontado por dossiês do portal Wikileaks como o “cachorrinho poodle” e “protegido” do seu antecessor deposto. O gerenciamento interino de Tantawi começou a ser visto com desconfiança pelo povo depois que o militar suspendeu a constituição e dissolveu o parlamento.

Milhares de pessoas ocuparam a conhecida Praça Tahrir na manhã do dia 27 de junho para exigir a saída de Tantawi. Os manifestantes também reivindicavam agilidade no processo penal contra Mubarak e seus ministros pelo assassinato de 850 pessoas durante os protestos que levaram à sua derrubada.

A tensão entre a polícia e os manifestantes começou durante o julgamento do antigo ministro do Interior do país, Habib el-Adli, no prédio do ministério. Familiares dos mártires tentavam assistir à possível condenação de um dos assassinos, mas foram impedidos pela polícia, o que causou grande revolta. Iniciado na Avenida Mohammed Mahmoud, um grande confronto entre a tropa de choque e manifestantes se estendeu até a praça Tahrir e deixou 48 policiais e 132 manifestantes feridos.

Atacadas com bombas de gás lacrimogêneo e disparos de armas de fogo as massas resistiram bravamente com paus, pedras e coquetéis molotov. Pelo menos oito carros de polícia foram destruídos.

No dia 28, o adiamento do julgamento de el-Adli aumentou ainda mais a revolta popular. Novos confrontos foram registrados em vários pontos do Cairo. Como fez durante a rebelião de janeiro e fevereiro desse ano, o monopólio dos meios de comunicação e suas principais agências de notícias uniram esforços para criminalizar o movimento, classificando-o como “oportunista” e “contrário à estabilidade do Egito”. Resta saber que estabilidade. Durante o gerenciamento de Tantawi, nada mudou no Egito, a não ser o aumento no índice de criminalidade e a crise financeira que, atualmente, assola o país.

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