Um crescente protesto popular colocou milhões de massas em movimento no Norte da África e Oriente Médio. Rebeliões estremeceram velhos regimes, derrubaram gerenciamentos de turno e se espalharam por diversos países. Os protestos não foram interrompidos após a queda de velhos títeres e das reestruturações dos velhos Estados, prosseguem em diversos países, ganhando força e adesão, mantêm altas as bandeiras democráticas.
A rebelião desses povos demonstra que o imperialismo, principalmente o ianque, sofreu um rude golpe e revelou que ele não possui o controle absoluto da situação, como arrogantemente tenta fazer parecer para todo o mundo. E mais, o caráter das rebeliões demonstra que, apesar da grita histérica contra o “terrorismo” e das loas ao assassinato de Osama Bin Laden tecidas pelos ianques, aqueles levantamentos não possuem qualquer conexão com Al Qaeda, Bin Laden ou quaisquer origens no “eixo do mal” tão propalado pelo USA.
Egito
O “governo provisório” do Egito vem promovendo uma colossal perseguição contra lideranças e participantes dos protestos do início do ano que culminaram com a saída de Hosni Mubarak e contra populares que seguiram em protesto por uma democracia popular no país após a reestruturação do Estado egípcio sob o patrocínio do USA.
Desde a queda de Mubarak, nada menos do que sete mil pessoas foram condenadas em tribunais do Egito por crimes tipificados como “saque” e “intimidação” e por criticarem o Conselho Supremo das Forças Armadas. Organizações de defesa dos “direitos humanos” denunciam aberrações nos trâmites dos processos, como a imposição de inúmeras dificuldades para a composição da defesa dos acusados. Enquanto isso, representantes do velho, apesar de reestruturado, Estado egípcio, bem como da Tunísia sob nova direção mas sob as velhas forças reacionárias e entreguistas, participaram da reunião das potências do G8 para acertar detalhes da reedição dos seus acordos com o imperialismo, que já lhes prometeu bilhões de dólares em “ajuda”.
Tunísia
Na Tunísia, os ministérios da Defesa e do Interior do Estado reestruturado em torno das velhas forças reacionárias, que lá se empoleiraram com a saída de Zine El Abidine Ben Ali, decretaram toque de recolher no dia 7 de maio a pretexto de “conter saques e violência”, mas de fato para tentar sufocar os protestos nas ruas, dados por encerrados pelo monopólio dos meios de comunicação após a queda de Ben Ali, mas que na verdade jamais cessaram desde que foram desencadeados com vigor no final do ano passado, ainda que sem uma liderança mais consequente.
O povo local segue em luta por uma democracia verdadeiramente popular, que por certo não é a do mesmo Estado burocrático tunisiano de sempre, apenas com nova máscara, já de acordos renovados com o imperialismo. Só entre os dias 5 e 9 de maio mais de 600 pessoas foram presas pela polícia política desse regime, incluindo lideranças dos protestos, e manifestações têm sido duramente reprimidas. Um jovem de 25 anos foi morto pelo exército no dia 8 de maio. Greves operárias têm sido levadas a cabo reivindicando empregos e melhores salários.
Líbia
Na Líbia, acirra-se o impasse no enfrentamento entre a Otan e os “rebeldes” contra as forças leais a Muammar Khadafi. Acirra-se também a disputa interimperialista pelo petróleo líbio. No dia 23 de maio o ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, anunciou a abertura de uma representação diplomática do seu país na cidade de Benghazi, a segunda maior da Líbia, controlada pelos “rebeldes”, apenas um dia depois de a União Europeia estabelecer contatos diplomáticos oficiais com a “oposição” líbia encarnada no Conselho Nacional de Transição da Líbia, entidade financiada pelo próprio imperialismo europeu.
Quanto ao impasse militar (nem os “rebeldes” avançam, nem Khadafi retrocede), o chefe francês Nicolas Sarkozy já pede que a intervenção da Otan na Líbia passe a se dar também pela via terrestre. A França foi o primeiro país imperialista a fazer acordos com o Conselho Nacional de Transição da Líbia e agora parece querer definir de uma vez a situação para não correr o risco de Khadafi fechar um acordo com o USA, vendendo sua saída (ou mesmo sua permanência) para o imperialismo ianque. O USA resistiu a reconhecer diplomaticamente o Conselho Nacional de Transição da Líbia, esperando que a permanência de Khadafi pudesse ser a saída mais vantajosa para seus monopólios do setor de energia, mas no dia 24 de maio o subsecretário de Estado ianque para o Médio Oriente, Jeffrey Feltman, anunciou ter convidado oficialmente, “em nome do presidente Barack Obama”, os “rebeldes” a abrirem uma representação diplomática em Washington.
No dia 23 de maio, a Otan desencadeou um dos mais ferozes ataques desde o início das agressões imperialistas à Líbia, com um intenso bombardeio sobre a capital, Trípoli, que deixou um saldo inicial de três mortos e 150 feridos.
Iêmen
Números oficiais dão conta de que os enfrentamentos entre os manifestantes e polícia iemenita fortemente armada de Ali Abdullah Saleh já mataram cerca de 240 pessoas no país em meio à repressão aos protestos populares e outras ações das massas levadas a cabo nas ruas da capital Sanaa e de outras cidades do país desde janeiro deste ano. Só na noite do dia 26 de maio 28 pessoas morreram em combates na capital. Outras 28 mortes foram registrados na explosão de um depósito de munição (segundo a versão oficial).
Como em outras nações da região, no Iêmen o imperialismo também tenta organizar uma transição de poder satisfatória para os interesses dos monopólios, mantendo forças retrógradas no poder e promovendo um mero realinhamento para manter as velhas estruturas do capitalismo burocrático local, mas Ali Abdullah Saleh, empoleirado na gerência do Estado iemenita desde 1978, recusa-se a deixar seu posto.
Foi no Iêmen que, quatro dias depois da operação ilegal no Paquistão que resultou na morte de Osama Bin Laden, o USA promoveu um segundo ataque violando o chamado “Direito Internacional”, desta vez visando matar o clérigo Anwar al-Awlaki, apresentado como um dos principais lideres da organização Al Qaeda depois do próprio Bin Laden. Os ianques dispararam um míssil contra o lugar onde supunham que Anwar al-Awlaki estivesse, mas erraram o alvo.
No final de maio o monopólio da imprensa fez circular a notícia de que a secretária de Estado ianque, Hillary Clinton, “exigiu o fim imediato da violência no Iêmen”, sinalizando uma vez mais que o USA está à espreita para conduzir a reestruturação das forças reacionárias e entreguistas na gerência do Estado iemenita. A curiosidade fica por conta do fato de que a “exigência” de Hillary foi expressada apenas um dia depois de ela ter feito uma visita surpresa ao Paquistão, nação que vive um estado de violência generalizada devido à ocupação do imperialismo.
Síria
Na Síria o número de mortos pela repressão às manifestações chega a mil
A Síria é outro país do Oriente Médio onde o imperialismo tenta reestruturar o Estado para manter a dominação, mas encontra resistência do gerente de turno do capitalismo burocrático. No caso, o “presidente” Bashar al Assad.
A União Europeia e o USA impuseram sanções ao país para pressionar pela transição que lhes satisfaz. Lá, a repressão aos protestos populares tem sido especialmente brutal. Informações dão conta de que o número de mortos pelas forças de repressão na Síria esteja beirando os mil desde que as manifestações nas ruas contra o regime se agigantaram, há cerca de três meses.
Policiais atiram até contra funerais e tanques de guerra são jogados contra as massas.
Inquebrantável, o povo consegue organizar greves mesmo com cidades inteiras cercadas pelos militares.
Marrocos
No Marrocos, mesmo com a proibição de manifestações, as massas saíram às ruas nas cidades de Rabat, Casablanca, Tanger e Agadir no domingo dia 22 de maio. Houve espancamentos e perseguição de manifestantes. A polícia política do regime cercou lideranças dos protestos que se refugiaram na sede da União Marroquina dos Trabalhadores. Agentes dispararam contra a multidão. Dezenas de pessoas ficaram feridas por causa da forte repressão.
No dia 17 de maio, dezenas de presos – apresentados pelo monopólio da imprensa como “radicais islâmicos” – confrontaram a polícia em uma penitenciária em Salé, perto de Rabat. Resistiram enquanto puderam aos tiros e ao gás lacrimogêneo para protestar contras suas péssimas condições de cárcere.
Estudantes revolucionários são prisioneiros políticos no Marrocos
Organizações internacionais de luta pelos direitos dos povos denunciam que vários estudantes marroquinos são mantidos, desde 2008, como prisioneiros políticos do velho Estado e que novas perseguições e prisões estão em curso.
Em 14 de maio de 2008, ocorreu uma histórica revolta dos estudantes na Universidade Cadi Ayyad de Marrakesh, pela educação gratuita e contra a privatização do ensino. Milhares de pessoas se juntaram ao protesto em todo o país somando as palavras de ordem contra os altos impostos, contra a carestia de vida, por uma democracia popular, entre outras. Inúmeras pessoas foram mortas e centenas de pessoas foram presas e detidas pelas forças de repressão durante as manifestações.
Os estudantes da União Nacional dos Estudantes de Marrocos – UNEM, liderados pela Via Democrática de Base – VDB, organizaram protestos pela libertação dos presos políticos e em defesa das mais sentidas reivindicações do povo marroquino, contra a criminalização e pelo fim da ocupação policial no campus da universidade. No dia 15 de maio as forças policiais do Marrocos desataram brutal repressão contra os estudantes, detendo outros 11 ativistas do VDB.
Durante dois anos os estudantes e todo o povo marroquino lutaram sem cessar, denunciando a criminalização dos lutadores populares, em defesa dos seus direitos.
Em 10 de outubro de 2010 as forças repressivas sequestraram outro militante, Youssef El Basist Hamdia, em sua casa em Marrakesh (ele foi condenado a dois anos de prisão pelo tribunal da primeira instância e a mais um ano e meio pelo Tribunal de Recurso por causa de sua participação na luta em defesa dos prisioneiros políticos).
Em 13 de outubro de 2010, as forças de repressão sequestraram uma militante, Ilham El Hasnouni, na sua casa em Essaouira, acusada de participar dos protestos de maio de 2008.
Em 18 e 24 de novembro de 2010 as forças de repressão sequestraram dois outros ativistas: Abderrahem Abouhani em sua casa e Mohamed Chichaoua El Mouaddine em um terminal rodoviário de Marrakesh. Ambos foram condenados sob as mesmas acusações.
Os estudantes prosseguiram com as mobilizações e, em 20 de fevereiro de 2011, ocorreram novos protestos. Em 23 de fevereiro, próximo ao campus da universidade Cadi Ayyad, foram detidos: Loubna Afriat, Fátima Zahra Faiz e Adbelhak Eltalhaoui Jalal Koutbi, enquando distribuíam panfletos. No dia 24, Mohamed El Baar Jedda foi preso no centro da cidade e Hessain Nasser foi detido no dia 25. Em 9 de março, Hicham El Maskin também foi detido, e a ativista Safa Issam no dia 16.
O VDB denuncia que há uma extensa lista de acusações contra outros estudantes que podem ser presos a qualquer momento e que o velho Estado se recusa a reconhecer a existência de presos políticos no Marrocos e vem condenando os estudantes como criminosos comuns.
“Apesar das pressões, apesar das prisões, o movimento estudantil sempre permanecerá ativo enquanto houver exigências populares a serem cumpridas, enquanto o regime continuar com as desigualdades e as violações dos direitos do povo, o movimento estudantil irá sempre lutar por dignidade ao lado do povo marroquino ao qual ele pertence” – afirma a VDB em seu comunicado.
Os estudantes da União Nacional dos Estudantes de Marrocos divulgaram o correio eletrônico [email protected] para que os movimentos democráticos e revolucionários de todo o mundo se engajem na campanha pela libertação dos prisioneiros políticos no país.