A quatrocentona capital paulista é o centro de todas as atenções já a partir do mês de janeiro, quando alcança real maioridade ao fazer 450 anos de fundação. Foi Anchieta, o padre jesuíta, quem deu o ponto de partida para o progresso e confusões dessa cidade multifacetada ao fazer erguer a sua primeira construção — o pátio do colégio — cinquenta e poucos anos após o descobrimento do Brasil pelo português Álvares Cabral.
São Paulo, a maior cidade do hemisfério Sul e a terceira em gente, problemas e dimensões do mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Pode ser definida de várias formas: terra da garoa — hoje nem tanto —, floresta de concreto armado, selva de pedra, túmulo do samba, locomotiva do Brasil, a cidade que não dorme, que não pára, que só trabalha diuturnamente; o eldorado brasileiro, etc., etc., etc. São Paulo é um país dentro de outro. Sabemos. É a cidade das quatro estações em um mesmo dia; a capital dos nordestinos, dos bandeirantes, etc., etc. É a cidade da poluição, de todas as poluições; do Tietê fétido, doente, quase morto. Mas também das oportunidades. É a paulicéia generosa e contraditória de Mário de Andrade. Do Metrô, do Trem das onze, de Adoniran; do Ibirapuera, do Pacaembu, do Morumbi, do Espigão, da Avenida Paulista, do Martineli, do Corinthias velho de guerra, do Copan, dos mendigos e prostitutas; dos camelôs, do rapa e do rap; a babel de mil e uma línguas e das malocas imortalizadas pelo grupo musical mais antigo do mundo em atividade, o Demônios da Garoa. Numa palavra e em boa tradução: Sampa.
Um pouco da história dessa monumental cidade é contada, e bem contada, pela arquiteta e inspirada artista plástica formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie Teresa Saraiva, num livro belíssimo que está sendo lançado com o aval de uma das mais dinâmicas empresas de engenharia e tecnologia de São Paulo, a Trends, que a cada dia mais se firma na sua área de atividade, valorizando de tabela, e de forma incomum, a cultura popular nacional e a memória paulista. Palmas para a Trends Engenharia. O livro Traços Urbanos, assinado por Tereza é exemplo de respeito ao passado, aos monumentos, aos logradouros centenários da capital paulista. Ao contrário de outras empresas, a Trends não só privilegia seus amigos e fornecedores presenteando o livro, mas pondo-o no mercado para alcance de todos aqueles a quem a história interessa. Acha-se nas boas livrarias, com a tradicional e respeitável chancela da Editora Ibrasa.
O livro traz breves textos explicativos de Paulo Benites, diretor da Trends; de Ítalo Calvini e Mac Fadden. Com pouco mais de 150 páginas, Traços Urbanos reúne cerca de 70 pranchas reproduzidas sobre papel Ingres e Croquis 90 gramas e impressas sobre couche fosco. “De altíssimo nível”, como muito acertadamente define o poeta e engenheiro formado em, Paris Peter Alouche, ex-professor do Mackenzie. O livro se inicia com belíssimo bico de pena mostrando em visão panorâmica o Pátio do Colégio. O texto resume a história: “A colina era perfeita. Um sítio seguro e bem localizado, protegido pelos barrancos do Anhangabaú. Nesse planalto de Piratininga os jesuítas construíram um colégio e a primeira capela da vila quinhentista, marco da fundação da cidade, em 1554”. Em seguida é retratado o Solar da Marquesa em traços sutis, leves, bonitos; e tudo logo ali no centro velho, ou histórico, da capital que mais cresce no mundo, São Paulo. O texto é didático: “A casa nº 1 da antiga rua do Carmo (à esquerda, no desenho) foi edificada no local onde existia uma casa de taipa, erguida nos tempos da fundação da Vila de São Paulo. Não se sabe a data de construção do sobrado, mas ele já aparecia em fotos de 1890. O Beco do Pinto ou Beco do Colégio, caminho para a Várzea do Tamanduateí, separa o Solar da Marquesa. Exemplar da arquitetura residencial urbana do século XVIII, o Palacete do Carmo, de Maria Domitila de Castro Canto e Mello — a marquesa de Santos —, foi uma das residências mais aristocráticas da cidade, com festas frequentadas pela elite paulista do século XIX”. E por aí seguem-se as páginas que acolhem os belíssimos desenhos de Teresa Saraiva.
Traços Urbanos traz desenhos e informações sobre o Mosteiro de São Bento, do histórico Largo de São Francisco por onde transitaram personagens ilustres, como Carlos Gomes e Castro Alves; a Igreja do Carmo, a Praça da Sé, a estação Sé do Metrô de São Paulo, a Praça João Mendes, as ruas Direita, Quinze de Novembro e Líbero Badaró; as esquinas famosas das avenidas São João e Ipiranga, referências musicais de mestre Paulo Vanzolini no seu clássico samba-canção Ronda, lançado em disco de 78 rpm em 1953 por Inezita Barroso; a Ladeira Porto Geral, o Mercado Municipal, o Palácio das Indústrias, o Parque D. Pedro II, o convento e o quartel da Luz, detalhe da estação do Brás. O texto: “A ferrovia impulsionou o crescimento da cidade. A Parada do Brás, de 1867, ganhou nova edificação trinta anos depois, quando o próprio bairro do Brás começava a se caracterizar como centro operário e industrial e as estações ferroviárias seguiam o padrão arquitetônico das fábricas inglesas da época. Integrava a linha Santos-Jundiaí”. Hoje tem outra denominação: estação Brás da CPTM. Perfeito.
*Assis Angelo é jornalista, autor de vários livros sobre música e folclore e produtor e apresentador do programa “São Paulo Capital Nordeste”(Rádio Capital, AM 1040/SP), no ar nas noites de sábados, entre as 21 e 23:30.
Novo disco de Socorro Lira
A cantora, compositora e instrumentista paraibana Socorro Lira está com novo CD na praça. Feito e lançado de forma independente, Cantigas de bem-querer reúne 16 músicas, 13 da própria Socorro, duas parcerias e uma inédita de Zé Marcolino, o poeta autor de Sala de reboco , imortalizada pelo rei do baião Luiz Gonzaga. O CD tem a participação do repentista Oliveira de Panelas, do menestrel Vital Farias, do sanfoneiro Targino Gondim, das cantoras Cátia de França, Irah Caldeira e das fabulosas cirandeiras de Caiana, além deste escrevinhador que, provocado, solta a voz no poema O passarinho e eu, junto com Socorro e o violão amestrado de J. Ribbas.
Socorro é uma artista nascida e criada no sertão paraibano, íntima da enxada, dos roçados e das coisas belas e tristes da natureza, entre as quais as chuvas e as secas. O seu trabalho musical é dos mais bonitos, e ela, como Vital Farias, não nega o seu engajamento político em favor das pessoas mais simples e sem voz nas mídias. Esse é o seu terceiro disco, que pode ser adquirido através de contato telefônico: (83) 341-7793 ou (83) 9307-1506.