Militarização de favelas no Rio:
Mãe de vítima de militares é agredida por PMs
No dia 13 de fevereiro, policiais da Unidade de Polícia Pacificadora do morro da Providência, no Centro do Rio de Janeiro, mais uma vez mostraram suas garras aos trabalhadores pobres que vivem nessa que é considerada a primeira favela do Brasil. Na ocasião, PMs ameaçaram e agrediram familiares do jovem Wellington Gonzaga — sequestrado com dois amigos por soldados do exército em 2008 e entregue a traficantes de uma favela dominada pela facção criminosa que, na época, era a maior inimiga da quadrilha do morro da Providência. Os três rapazes foram torturados por horas e executados em seguida. O episódio gerou revolta dos moradores da Providência, que quase invadiram o quartel central do exército a poucos metros do morro, hoje militarizado pela UPP.
Na quarta-feira de cinzas, a mãe de Wellington, Lílian Gonzaga da Costa, discutia com o marido, quando, por volta de meio-dia, um grupo de PMs da UPP interferiram na discussão. Já exaltada, Lílian respondeu aos policiais e foi ameaçada de morte por eles. Um dos irmãos do falecido Wellington saiu em defesa da mãe e foi agredido e preso pelos PMs sob a acusação de desacato à autoridade.
A dor de Lilian por conta do assassinato do filho Wellington em 2008 se soma, desde 2010, à presença intimidadora da PM no morro da Providência, levando a cabo agressões, torturas, prisões arbitrárias e toques de recolher. Como se não fosse o bastante, cinco anos depois do sequestro de Wellington por soldados do exército, nenhum dos nove militares que integravam a guarnição que cometeu o crime foram devidamente punidos.
Incêndio criminoso na Aldeia Maracanã

No momento do incêndio não havia ninguém dormindo na oca
No dia 9 de fevereiro, a luta dos índios da Aldeia Maracanã, no Rio de Janeiro, teve mais um triste capítulo. No meio da noite, uma das ocas construídas no entorno do prédio foi incendiada criminosamente, preocupando as lideranças do movimento.
— Foi uma confusão danada durante a madrugada, com todo mundo dormindo — relata Afonso Apurinã, um dos líderes da Aldeia.
A Aldeia Maracanã está localizada na zona Norte da cidade, em um prédio construído em 1848 e, anos depois, trasformado em um dos maiores centros de referência de políticas indigenistas, de preservação da cultura e da memória dos povos ancestrais. O espaço abrigou a sede da Funai e o primeiro Museu do Índio do Brasil, fundado pelo antropólogo Darcy Ribeiro.
Desde 2006, a Aldeia encontra-se ocupada por índios de mais de 20 etnias, ameaçados pelos tratores do Estado reacionário por conta das obras de reforma do entorno do estádio Maracanã para a Copa do Mundo de 2014. No início do mês de janeiro, PMs da tropa de choque cercaram o local para levar a cabo uma ordem de reintegração de posse, mais tarde, revogada devido à grande mobilização popular em defesa da Aldeia. A partir de então, várias ameaças e intimidações foram feitas contra as lideranças indígenas. Entre elas, está o cacique Carlos Tukano, que segundo informações, estaria sendo ameaçado de morte.
O incêndio do último dia 9, segundo o observador social da OAB-RJ, Rafael Gonçalves, foi criminoso e deve servir para deixar os índios da Aldeia em alerta para novas investidas dos inimigos do povo.
— Alguém entrou aqui de madrugada e colocou fogo. A sorte é que, no momento, não havia ninguém dormindo na oca, nem crianças circulando. Orientamos o grupo a procurar a polícia e fazer um registro, para que o caso seja investigado — diz Rafael.
Daniel Macedo, defensor público da União, também defende a tese de que o incêndio não foi fruto de um acidente.
— Pelo que soube, cortaram a luz e, em seguida, incendiaram a oca da aldeia. Vai ser difícil investigar isso nos próximos dias, mas vamos nos reunir com as lideranças indígenas para decidir o que fazer — conta.
A dura rotina dos camelôs no carnaval do Rio
Como acontece todo carnaval, esse ano as ruas do Rio de Janeiro foram tomadas por milhares de guardas municipais com a função de reprimir camelôs, moradores de rua e pessoas urinando nas ruas. Mesmo antes do carnaval começar, ainda durante o cadastramento dos trabalhadores na Vila Olímpica da Gamboa, região central da cidade, camelôs chegaram a dormir durante mais de dez dias na fila para conseguir um kit com colete, chapéu e credencial — todas as peças estampadas com o logotipo da cerveja Antarctica.
No dia 22 de janeiro, a PM e a tropa de choque da guarda municipal foram chamadas ao local com o suposto objetivo de controlar a fila. No entanto, ao primeiro sinal de tumulto, os guardas atacaram os trabalhadores com spray de pimenta. Um homem passou mal e teve que ser levado em uma ambulância para o hospital Souza Aguiar, no Centro da cidade. Mesmo com uma média de doze horas de funcionamento diárias, o posto de cadastramento fez apenas 1,5 mil cadastros por dia.
Durante o carnaval, a rotina dos vendedores ambulantes não foi diferente. Muitos que não conseguiram se cadastrar tiveram que trabalhar sem o kit. Grande parte desses trabalhadores foi atacada pela guarda municipal e perdeu a mercadoria, na maioria das vezes, comprada com muito esforço. Somente no bloco Bola Preta — que arrastou 1,8 milhões de pessoas no sábado de carnaval — foram roubados dos camelôs 3.208 latas de cerveja, 120 sacolés de cachaça, 835 latas de refrigerante e 431 garrafas d’água, além de fantasias, artesanatos e outros objetos que estavam sendo vendidos. Além disso, apesar da escassez de banheiros químicos, 672 pessoas foram detidas durante o carnaval do Rio fazendo xixi na rua.
Fantasia de “Gang Gulabi” dá o que falar

Grupo de foliões levam mensagem contra o machismo
Nesse carnaval, como acontece todos os anos, as ruas de várias regiões do país são tomadas por foliões fantasiados com as mais criativas alegorias. No Rio de Janeiro, chamou a atenção um grupo de foliãs vestidas de “Gang Gulabi” no bloco Cordão do Boitatá. Elas carregavam cartazes com mensagens de protesto muito bem humoradas contra o machismo.
O “Gang Gulabi” (ou o exército de sari rosa) é um grupo de mulheres da empobrecida cidade de Banda, no norte da Índia. O Gulabi intervém em casos de violência doméstica, atacando os maridos abusadores com “laathis”, como são chamadas as varas de bambu usadas pelo grupo. Atualmente elas lutam para combater o casamento infantil, eliminar o sistema de dote e derrubar o analfabetismo feminino. Além disso, por diversas ocasiões, o “Gang Gulabi” foi acusado pelo governo indiano de ligação com os guerrilheiros do EGPL e com o PCI (Maoísta), que dirige a guerra popular na Índia.