O Haiti seis meses depois
O terremoto que devastou o Haiti há seis meses foi uma oportunidade para os opressores destilarem a demagogia de sempre, prometendo comida, trabalho e um país novinho em folha enquanto agenciavam, junto à gerência títere de Porto Príncipe, contratos vultosos para transnacionais que se alimentam da morte, como os abutres e as larvas. Os demagogos se foram, as empresas estrangeiras chegaram, e hoje a falta de comida ainda é uma realidade para a maioria dos haitianos, o que prova que os programas “Comida por Trabalho” e “Trabalho por Dinheiro”, criados pela ONU sob a “consultoria” do ex-chefe imperialista Bill Clinton, não tinham outro objetivo senão facilitar a exploração dos trabalhadores locais pelas empreiteiras estrangeiras às quais foi entregue o lucrativo trabalho de “reconstrução” do país. Dos 1,5 milhão de haitianos que perderam suas casas, apenas 28 mil já conseguiram outro teto para morar. Centenas de famílias vivem ao relento à beira de vias movimentadas, comendo poeira e respirando fumaça. Nos acampamentos gerenciados por Ongs estrangeiras, jovens meninas são obrigadas a se prostituir em troca de ter o que comer, em uma versão ainda mais infame, mas com a mesma lógica, do programa escravocrata idealizado por Clinton para o Haiti.
O morro do Bumba três meses depois
No Rio de Janeiro, instituiu-se a maquiagem urbana como política pública para gestão de crises, com o anúncio de um projeto de “revitalização” do morro do Bumba, em Niterói, local onde morreram mais de 40 pessoas, vítimas das chuvas de abril. A promessa do dia é estabilização do terreno, contenção de encosta e reflorestamento, além da construção de uma praça “em homenagem” às vítimas do deslizamento de terra. Homenagem ou escárnio para com as famílias de gente morta exatamente porque ali nunca havia chegado qualquer projeto sério de urbanização? Por certo o embelezamento do Bumba, a guaribada no terreno para que os pobres possam voltar para lá, acontece apenas porque o morro não fica na Zona Sul de Niterói, a área rica onde o prefeito Jorge Roberto Silveira não poupa dinheiro para atender às demandas dos moradores. Na capital fluminense, no outro lado da baía de Guanabara, há morros da Zona Sul onde não caiu uma casa sequer, mas que foram convenientemente considerados pela Defesa Civil impróprios para morar, laudo atrás do qual se esconde a grande ofensiva de expulsão do proletariado da paisagem vista pelas janelas das elites. Em meio à tragédia que se prolonga, surgiu a notícia de que uma ex-moradora do morro do Bumba, funcionária de uma loja de artigos religiosos, ganhou R$ 100 mil na loteria. Como dizia uma popular canção brasileira dos anos 1990, “só a acaso estende os braços a quem procura abrigo e proteção”.
Segue a campanha pela vida de Mumia Abu-Jamal
Luiz Carcerelli | Com informações do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo)
A campanha pela vida do jornalista Mumia Abu-Jamal foi reforçada no dia 20 de julho último com um ato político no Reino Unido realizada no Centro de Educação Karibu, em Brixton, Londres.
Segundo diretores do Centro Karibu, Mumia é um exemplo mundial da luta pela justiça e pelos direitos humanos.
O ato, marcado por um debate, foi aberto pelo ator William Francome. O ator, que nasceu no dia da prisão de Abu-Jamal, estrelou o documentário “Na prisão, minha vida inteira”, que narra o processo desde a prisão de Mumia, em um esforço para expor a verdade sobre a Justiça no USA para os ativistas negros.
Voz dos sem voz
Abu-Jamal, conhecido como “a voz dos sem voz” por sua incansável militância e luta em defesa dos direitos dos povos, particularmente dos negros e trabalhadores dos bairros pobres no USA, foi preso na madrugada de 09 de dezembro de 1981, na Filadélfia, acusado de ter matado um policial branco. Julgado em 1982 e condenado à pena de morte. Seu processo foi marcado pelo racismo, um juiz intolerante e preconceituoso, e devido ao fato do réu não ter condições de pagar, por uma representação legal inepta.
Abu-Jamal enfrenta há quase três décadas o corredor da morte ianque. No cárcere, ele prossegue combatendo. Seus escritos semanais e comentários transmitidos pelo rádio diretamente da prisão alcançam pessoas em muitos países.
A equipe de defensores de Mumia está empenhada em processos fundamentais no Tribunal de Apelações para o Terceiro Circuito, na Filadélfia. O que está em jogo é se Mumia será executado ou se lhe será concedido um novo julgamento sobre a questão da pena de morte e a petição inicial foi submetida ao Tribunal de Apelações, em 28 de julho de 2010.
5 anos do assassinato de Jean Charles
Com informações do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo)
“Não há justiça, não há paz!”
No dia 22 de julho último, na porta da estação de metrô Stokwell, Sul de Londres, familiares, amigos e membros da Campanha “Justice 4 Jean” (Justiça para Jean, em português) prestaram uma homenagem ao brasileiro Jean Charles de Menezes, assassinado pela SO19, unidade armada da Scotland Yard, há exatos cinco anos.
Jean foi morto, covardemente, com oito tiros disparados à queima-roupa, quando estava dentro de um vagão de trem, na estação de Stokwell, a caminho do seu trabalho. Ele tinha apenas 27 anos de idade. E teria sido então confundido com um suposto terrorista etíope. Sem qualquer justificativa, ele foi assassinado, friamente, naquela que ficou conhecida como uma das mais absurdas operações da polícia britânica.
Na época, autoridades policiais tentaram justificar seu erro fatal dizendo que o acidente havia ocorrido porque o brasileiro se recusara a obedecer às ordens de parar, dadas pelos policiais; o que foi totalmente desmentido no decorrer das investigações.
Apesar da barbaridade cometida, cinco anos depois, nenhum policial foi afastado nem punido pela morte do jovem trabalhador brasileiro, que foi para a Inglaterra em busca de uma vida melhor, como ainda fazem milhares de migrantes.
Ao contrário, a responsável pela operação policial que matou Jean Charles em 2005, a subcomissária Cressida Dick foi promovida e condecorada pelos serviços prestados. Mais uma vez, o Estado protege os que estão a seu serviço. E a polícia, no caso inglesa, agiu mais uma vez acima das leis que diz defender.
As diversas pessoas presentes à simples e emocionante cerimônia realizada na manhã do dia 22 de julho colocaram flores, cartazes exigindo justiça e velas acesas no memorial permanente em homenagem a Jean Charles, inaugurado em janeiro último, na entrada da estação de Stokwell.