Solidariedade internacional para deter "Caçada Verde"
Há várias edições, AND vem denunciando a operação "Caçada Verde", em curso nas regiões de selva na Índia. Esta operação, que conta com o patrocínio e apoio militar ianque, vem esbarrando na heróica resistência dos povos tribais e dos camponeses indianos e na mobilização internacional de democratas contra as atrocidades policiais.
O que restou do posto policial após ataque do EGLP
AND recebeu recentemente uma correspondência eletrônica apelando para uma mobilização internacional em defesa da luta "dos mais pobres e despossuídos da terra que ousaram desafiar o poder dos monopólios internacionais e corporações" na Índia.
Nela, são enumeradas duas questões fundamentais:
- A exigência do cessar imediato de todas as operações armadas contra o povo.
- A suspensão imediata do roubo de terras e expulsão das populações locais.
Baseando-se nesses eixos, foi convocada uma reunião em Londres para discutir e planejar as melhores maneiras de expressar o protesto dos democratas contra os ataques do Estado sobre o povo indiano. Os resultados dessa reunião haverão de ser anunciados em breve.
No dia 19 de fevereiro foi comunicado o lançamento da Campanha Internacional em Oposição à Guerra contra o Povo da Índia (ICAWPI — na sigla em inglês). A campanha visa coordenar o apoio internacional à resistência do povo indiano contra a ofensiva militar do Estado indiano desencadeada na operação "Caçada Verde".
O primeiro comunicado da organização da campanha diz que a "ICAWPI é uma extensão internacional das iniciativas contra essa guerra genocida que tem como finalidade esmagar a resistência heróica dos povos tribais da Índia e de entregar estas terras ricas em minerais e matérias-primas para empresas internacionais, como a Vedanta, a Rio Tinto , Posco e outros.
Inúmeros intelectuais, escritores, cineastas, acadêmicos e outros profissionais, como advogados e médicos que abominam as mentiras disseminadas pelo Estado indiano e o desrespeito aberto aos direitos do povo tem se unido às manifestações de massa, comícios e vários fóruns na Índia a fim de elevar suas vozes e juntar forças para se opor ao Estado e defender a causa justa do povo oprimido tribal na Índia."
O comunicado denuncia que mais de cem adivasis e outros membros de populações tribais foram mortos em Chhattisgarh, Orissa, Jharkhand e Bengala Ocidental, como parte desta guerra brutal, a operação "caçada verde" e milhares de pessoas foram torturadas, mutilados, e expulsas de suas aldeias, as mulheres violadas, casas queimadas e aldeias reduzidas a cinzas.
Um comitê de organização criou a página na internet www.icawpi.org para centralizar todo material relacionado à campanha e convocou "todas as organizações democráticas e progressistas para tomarem a iniciativa e se somarem aos esforços da ICAWPI enviando denúncias, relatórios de ações, reuniões e cartas de solidariedade que serão publicadas no site."
A lista dos protestos e eventos organizados pela campanha será publicada na página na internet assim como todas as atividades planejadas. O contato com a coordenação da campanha deve ser feito através do endereço eletrônico [email protected].
Naxalitas impõe grande baixa às forças de repressão
No último dia 15 de fevereiro a imprensa indiana noticiou uma estrondosa ação do Exército Guerrilheiro Popular de Libertação, dirigido pelo Partido Comunista da Índia (maoísta), que resultou na morte de pelo menos 24 militares das forças de repressão do Estado indiano. O ataque desferido pelo EGPL ocorreu a 170 km de Calcutá, na vila de Shilda, distrito de Midnapore (Bengala Ocidental).
Adivasis assassinados por Estado genocida
Os guerrilheiros detonaram minas terrestres em um posto policial causando a morte dos militares e deixando dezenas de outros feridos. A ousada ação contou com um efetivo de mais de cem guerrilheiros e foi o maior ataque contra forças policiais do Estado indiano.
— Nunca a polícia havia sofrido tantas perdas — declarou Surajit Kar Purkayastha, inspetor-geral de polícia à imprensa daquele país.
Adivasis resistem à operação "Caçada Verde"
A operação "Caçada Verde", ação criminosa do Estado genocida indiano contra as massas camponesas e militantes do PCI (maoísta), não tem alcançado seus objetivos nos distritos de Jharkhand e Jangalmahal (em Bengala Ocidental).
Os noticiários da Índia anunciam que "os quadros maoístas têm livre trânsito e ação na região, desencadeando repetidos ataques contra as forças do Estado nas regiões de densa floresta e áreas montanhosas adjacentes".
Na primeira quinzena do mês de fevereiro os combatentes do EGPL executaram dezenas de policiais em ambos os distritos. Primeiramente, no dia 15, ocorreu o ataque contra um posto policial em Shilda. Já em Jharkhand, os guerrilheiros naxalitas sequestraram um agente do governo que só foi libertado após o Estado ceder às exigências do PCI (maoísta) e colocar em liberdade dois conhecidos militantes maoístas.
Povo adivasi é diuturnamente perseguido e reprimido
Logo após estas investidas do EGPL as forças repressivas do velho Estado indiano tiveram que reconhecer publicamente o fracasso de suas operações em Bengala Ocidental.
"Não é o governo que está nos apoiando, mas sim os os maoístas"
Transcrição de trechos de uma entrevista transmitida por uma rádio australiana em 12 de fevereiro de 2010*.
Radialista : Nos últimos três meses, Linga, um adivasi [povo originário] do estado central de Chhattisgarh, o epicentro da guerrilha maoísta no país, foi viver na periferia da capital Nova Delhi onde trabalha como operário. Ele está com medo de voltar para sua aldeia, temendo que as forças de repressão venham prendê-lo novamente sob a acusação de ser um simpatizante maoísta e de estar ajudando os rebeldes. Ele conseguiu obter sua liberdade mediante pagamento de fiança, depois de muitas dificuldades, em outubro do ano passado e fugiu de sua vila sem saber quando retornará à sua terra.
Linga : Os moradores do meu bairro se sentem inseguros. Nós estamos sendo explorados, a nossa terra está sendo roubada. E não é o governo que está nos ajudando, mas sim os maoístas. Nenhuma lei é respeitada. Mesmo aquelas conquistadas após a independência, há 60 anos, não têm aplicação. Nós ainda temos que lutar por nossos direitos.
Radialista : A ofensiva militar contra maoístas foi lançada recentemente nas regiões rebeldes indianas de Orissa, Jharkhand, Bihar e Bengala Ocidental. A operação envolveria, inicialmente, cerca de 20 mil militares especialmente treinados para substituir os paramilitares e as forças policiais do Estado na região. Cerca de 35 mil soldados já foram implantados nesses estados para combater os rebeldes. As tropas têm sido treinadas em combate na selva pelo exército indiano para enfrentar os combatentes maoístas nas regiões de mata fechada. Mas estas operações têm sido levadas a cabo em uma área que possui cerca de 2 milhões de habitantes, mais da metade adivasis.
A aproximação das lutas dos povos tribais (adivasi) com a luta armada dirigida pelos maoístas é cada vez maior, muitas vezes os maoístas prestam apoio às causas e lutas. Os alvos dos ataques maoístas são na maioria das vezes aqueles que exploram e oprimem os povos tribais, como latifundiários e a polícia, além dos grileiros.
Protesto contra operação "Caçada Verde" em Delhi
Himanshu Kumar, ativista que atua em Bastar, um distrito em Chhattisgarh, afirma que a operação não revela suas verdadeiras intenções.
Himanshu Kumar: Nós afirmamos que esta operação não visa atacar somente os naxalitas. Esta é mais uma tentativa de roubar as terras tribais para fins de mineração. O Estado indiano não está preocupado com a segurança dos povos tribais. Estão mais interessados na mineração e em servir aos interesses das corporações que determinaram o envio de tropas para estas áreas.
*Extraído de southasiarev.wordpress.com e traduzido por AND.
Delhi cria um novo inimigo para
justificar o roubo de terra: os maoístas*
Arundhati Roy**
As montanhas do sul de Orissa têm sido a terra dos Dongria Kondh muito antes de que houvesse um país chamado Índia ou um estado chamado Orissa. As montanhas vigiavam os kondh. Os kondh adoravam as divindades que vivem nas montanhas. Agora estas colinas têm sido vendidas devido à valorosa bauxita que contém. Para os kondh, isso é como se Deus tivesse sido vendido.
Vedanta é somente uma das muitas empresas transnacionais que estão se instalando em Orissa. Se destruírem as montanhas, os bosques que estão sobre elas também serão destruídos. O mesmo sucederá com os rios e córregos que fluem por elas e que regam os campos abaixo. Também os fará com os Dongria Kondh, as centenas de milhares de pessoas das tribos que vivem no coração dos bosques da Índia.
Em 3 de dezembro de 2009 o governo lançou a operação "Caçada Verde", supostamente uma guerra contra os rebeldes maoístas nas selvas da Índia central. A guerra está programada para durar cinco anos e utilizará até 70 mil policiais e soldados paramilitares. Mas parece que os maoístas não são somente os rebeldes. Há um amplo espectro das lutas em todo o país como os camponeses sem terra, os dalit, os sem teto, trabalhadores e tecelões.
E quem são os maoístas? São membros do Partido Comunista da Índia (maoísta), também conhecido como PCI (maoísta), um dos vários descendentes do PCI (marxista-leninista) que liderou o levantamento naxalita de 1969.
Agora, na Índia central, o exército guerrilheiro maoísta se compõe quase totalmente dos povos tribais, pessoas que inclusive depois de 60 anos da chamada independência da Índia não têm acesso a educação, saúde ou acesso à justiça. São pessoas exploradas durante décadas sem piedade, constantemente enganadas, as mulheres violadas como questão de direito pela polícia e o pessoal do departamento florestal. Sua viagem de regresso a uma aparência de dignidade se deve em grande pate ao marco maoísta, cujos militantes têm vivido, trabalhado e lutado ao seu lado durante décadas.
Então, de que tipo de guerra estamos falando? Samarendra Das Felix Padel, em seu livro lançado recentemente, escreveu que o valor econômico da bauxita no estado de Orissa é de mais de 2 bilhões de dólares. Esta estimativa era de 2004 e hoje em dia estaria em cerca de 4 bilhões de dólares.
Estamos falando de engenharia social e do meio ambiente em uma escala inimaginável. E a maioria disso é secreto, não está em domínio público. Como vamos saber que partido político, quais ministros, parlamentares, políticos, juízes, ONGs, consultores e agentes de polícia têm interesse direto ou indireto nesse butim? Como saberemos que a apresentação de informes jornalísticos das "últimas atrocidades maoístas" que os canais de TV repetem supostamente desde o "marco zero" (como denominam o ponto de concentração maoísta) não mentem descaradamente?
As companhias mineradoras necessitam desesperadamente desta guerra. Eles ficarão ricos, muito ricos, se as operações contra-insurgentes desse governo indiano tiverem êxito em desalojar os povos tribais que até agora têm logrado resistir aos intentos de expulsá-los de suas terras ancestrais.
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*Trechos de artigo publicado em www.inthesetimes.com em janeiro de 2010.
**Destacada intelectual indiana, militante ativa dos direitos do povo, particularmente dos povos tribais.